Monday, September 07, 2015

Presidente pretende brigar para valer


Pedro J. Bondaczuk


A renúncia do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, James Baker, significa o afastamento do último dos colaboradores mais íntimos do presidente Ronald Reagan (daquele grupo original que emergiu com a sua sensacional vitória nas eleições presidenciais de 1980). Só que, ao contrário dos seus colegas, ele deixa a equipe governamental a pedido e a serviço do próprio mandatário.

Não que isso signifique alguma eventual perda de prestígio ou de confiança em sua competência ou na sua lealdade. Muito pelo contrário. A sua demissão é um prêmio e não uma punição. Explicamos porque.

Baker está se afastando da Casa Branca para coordenar a campanha presidencial de George Bush. Reagan não confiou em mais ninguém para exercer essa tarefa, que ele reputa de fundamental importância.

O presidente, com o seu já comprovado espírito de competição, decidiu que não vai ceder o poder aos democratas, custe o que custar. E embora no passado haja afirmado que não iria governar em função das eleições, as suas decisões dos últimos dias mostram que ele não está disposto a cumprir pelo menos esta promessa. Está resolvido a ganhar mais esta batalha e encerrar uma carreira bem-sucedida fazendo o seu sucessor.

Pelas suas declarações de quarta-feira, hostilizando Michael Dukakis, deu para se perceber o tom agressivo que ele pretende imprimir à campanha presidencial. Como bom estrategista, Reagan sabe muito bem que a melhor defesa ainda é o ataque.

Ele está consciente que os democratas vão explorar, ad nauseam, os pontos fracos da sua administração. Mencionarão, certamente, o fato do presidente ter dado respaldo (ou no mínimo ter feito vistas grossas) à permanência no poder do maior traficante de drogas das Américas, o general panamenho Manuel Antonio Noriega, que ainda se mantém como o homem-forte do Panamá praticamente ao longo das suas duas gestões.

Quando percebeu a gafe e quis remediar, já era tarde. O oficial havia se fortalecido o suficiente para se tornar imune a ameaças e a retaliações. O mesmo vale para a sua política na América Central, em que ajudou a enriquecer corruptos nicaragüenses, que jamais tiveram um pingo de decência ou de patriotismo, e que compõem uma guerrilha, ilegal sob qualquer norma internacional que se olhe, que recebeu o significativo apelido de “contras”. Isto sem falar no escândalo “Irangate”.

Podres, portanto, não vão faltar para os democratas explorarem. Mas se alguém pensa que isto vai derrotar bush por antecipação, está muito enganado. Reagan decidiu que ele será o seu sucessor. E todos sabem até que ponto o presidente norte-americano é tenaz (ou teimoso?) quando quer alguma coisa.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6 de agosto de 1988).


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