Presidente pretende brigar para valer
Pedro J.
Bondaczuk
A renúncia do secretário do Tesouro dos Estados Unidos,
James Baker, significa o afastamento do último dos colaboradores mais íntimos
do presidente Ronald Reagan (daquele grupo original que emergiu com a sua
sensacional vitória nas eleições presidenciais de 1980). Só que, ao contrário
dos seus colegas, ele deixa a equipe governamental a pedido e a serviço do
próprio mandatário.
Não que isso signifique alguma
eventual perda de prestígio ou de confiança em sua competência ou na sua
lealdade. Muito pelo contrário. A sua demissão é um prêmio e não uma punição.
Explicamos porque.
Baker está se afastando da Casa
Branca para coordenar a campanha presidencial de George Bush. Reagan não
confiou em mais ninguém para exercer essa tarefa, que ele reputa de fundamental
importância.
O presidente, com o seu já
comprovado espírito de competição, decidiu que não vai ceder o poder aos
democratas, custe o que custar. E embora no passado haja afirmado que não iria
governar em função das eleições, as suas decisões dos últimos dias mostram que
ele não está disposto a cumprir pelo menos esta promessa. Está resolvido a
ganhar mais esta batalha e encerrar uma carreira bem-sucedida fazendo o seu
sucessor.
Pelas suas declarações de
quarta-feira, hostilizando Michael Dukakis, deu para se perceber o tom
agressivo que ele pretende imprimir à campanha presidencial. Como bom
estrategista, Reagan sabe muito bem que a melhor defesa ainda é o ataque.
Ele está consciente que os
democratas vão explorar, ad nauseam, os pontos fracos da sua administração.
Mencionarão, certamente, o fato do presidente ter dado respaldo (ou no mínimo
ter feito vistas grossas) à permanência no poder do maior traficante de drogas
das Américas, o general panamenho Manuel Antonio Noriega, que ainda se mantém
como o homem-forte do Panamá praticamente ao longo das suas duas gestões.
Quando percebeu a gafe e quis
remediar, já era tarde. O oficial havia se fortalecido o suficiente para se
tornar imune a ameaças e a retaliações. O mesmo vale para a sua política na
América Central, em que ajudou a enriquecer corruptos nicaragüenses, que jamais
tiveram um pingo de decência ou de patriotismo, e que compõem uma guerrilha,
ilegal sob qualquer norma internacional que se olhe, que recebeu o
significativo apelido de “contras”. Isto sem falar no escândalo “Irangate”.
Podres, portanto, não vão faltar
para os democratas explorarem. Mas se alguém pensa que isto vai derrotar bush
por antecipação, está muito enganado. Reagan decidiu que ele será o seu
sucessor. E todos sabem até que ponto o presidente norte-americano é tenaz (ou
teimoso?) quando quer alguma coisa.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6
de agosto de 1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment