Campanha prematura
Pedro J. Bondaczuk
A
campanha com vistas às eleições do ano que vem está nas ruas, após a aprovação,
em segundo turno, e posterior promulgação por parte do presidente Fernando
Henrique Cardoso, da emenda constitucional instituindo a reeleição para os
cargos executivos no País.
Embora
seja bastante prematura essa movimentação, as principais forças políticas já se
preparam para uma batalha, que promete ser das mais renhidas e polêmicas.
Algumas, lançam "balões de ensaio" de candidaturas, para sentir se
são viáveis. Outras, já têm candidatos definidos, buscando espaços na mídia.
Por
conseqüência, o debate político, em torno dos principais temas nacionais, em
especial das reformas e dos escândalos, tende a ficar mais acirrado, mais áspero,
mais repleto de denúncias e acusações, bem de acordo com as nossas tradições.
O
que o eleitor quer saber, no entanto, não é dos problemas, que conhece de
sobejo, porque os sente duramente na carne. Sua expectativa é quanto às
soluções para a saúde, para o emprego, para a moradia, para a segurança, para
os transportes, para a questão agrária e para tantas coisas que o atormentam no
dia a dia.
Apesar
de algumas "fraturas" na aliança PSDB-PFL, em especial por causa das
queixas dos "tucanos" de estarem sendo preteridos pelo presidente,
esta certamente será mantida com vistas às eleições presidenciais.
A
dobradinha Fernando Henrique-Marco Maciel deve ser conservada, embora não se
descarte a possibilidade da inclusão do coordenador político do governo, Luís
Eduardo Magalhães, na chapa.
No
campo das oposições, nada está definido. Tudo permanece no terreno dos boatos e
das especulações. Até a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, tida há pouco
como certa, está agora revestida por uma densa névoa de incerteza, com o
"escândalo" --- laboriosamente forjado para desviar a atenção
nacional do caso da compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição ---
produzindo desgaste na sua imagem.
Diz-se
que o ex-presidente Itamar Franco é nome certo para concorrer com Fernando
Henrique. Outro amiúde mencionado é o senador José Sarney. Entre os petistas,
crescem as possibilidades do ex-prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, que na
pior das hipóteses pode compor a chapa como candidato à vice-presidência com
Lula.
Espera-se,
apenas, que o lançamento prematuro da campanha não venha a paralisar o País,
como em geral acontece. Pelo contrário, FHC deve aos brasileiros o cumprimento
de algumas promessas de campanha (muitas, por sinal), se é que aspira, de fato,
mais quatro anos de mandato. Desta vez, só o sucesso (ainda duvidoso, dadas as
ameaças que existem para a sua consolidação) do Plano Real não será suficiente
para sensibilizar um eleitorado cada vez mais exigente.
(Texto
escrito em 9 de junho de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
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