Wednesday, September 23, 2015

Campanha prematura


Pedro J. Bondaczuk


A campanha com vistas às eleições do ano que vem está nas ruas, após a aprovação, em segundo turno, e posterior promulgação por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso, da emenda constitucional instituindo a reeleição para os cargos executivos no País.

Embora seja bastante prematura essa movimentação, as principais forças políticas já se preparam para uma batalha, que promete ser das mais renhidas e polêmicas. Algumas, lançam "balões de ensaio" de candidaturas, para sentir se são viáveis. Outras, já têm candidatos definidos, buscando espaços na mídia.

Por conseqüência, o debate político, em torno dos principais temas nacionais, em especial das reformas e dos escândalos, tende a ficar mais acirrado, mais áspero, mais repleto de denúncias e acusações, bem de acordo com as nossas tradições.

O que o eleitor quer saber, no entanto, não é dos problemas, que conhece de sobejo, porque os sente duramente na carne. Sua expectativa é quanto às soluções para a saúde, para o emprego, para a moradia, para a segurança, para os transportes, para a questão agrária e para tantas coisas que o atormentam no dia a dia.

Apesar de algumas "fraturas" na aliança PSDB-PFL, em especial por causa das queixas dos "tucanos" de estarem sendo preteridos pelo presidente, esta certamente será mantida com vistas às eleições presidenciais.

A dobradinha Fernando Henrique-Marco Maciel deve ser conservada, embora não se descarte a possibilidade da inclusão do coordenador político do governo, Luís Eduardo Magalhães, na chapa.

No campo das oposições, nada está definido. Tudo permanece no terreno dos boatos e das especulações. Até a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, tida há pouco como certa, está agora revestida por uma densa névoa de incerteza, com o "escândalo" --- laboriosamente forjado para desviar a atenção nacional do caso da compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição --- produzindo desgaste na sua imagem.

Diz-se que o ex-presidente Itamar Franco é nome certo para concorrer com Fernando Henrique. Outro amiúde mencionado é o senador José Sarney. Entre os petistas, crescem as possibilidades do ex-prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, que na pior das hipóteses pode compor a chapa como candidato à vice-presidência com Lula.

Espera-se, apenas, que o lançamento prematuro da campanha não venha a paralisar o País, como em geral acontece. Pelo contrário, FHC deve aos brasileiros o cumprimento de algumas promessas de campanha (muitas, por sinal), se é que aspira, de fato, mais quatro anos de mandato. Desta vez, só o sucesso (ainda duvidoso, dadas as ameaças que existem para a sua consolidação) do Plano Real não será suficiente para sensibilizar um eleitorado cada vez mais exigente.

(Texto escrito em 9 de junho de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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