Insensibilidade
da violência
Pedro J. Bondaczuk
As palavras “seqüestro” e “refém”, que não faz muito
freqüentavam apenas o noticiário internacional, se incorporaram, de vez, à vida
brasileira, com tal intensidade, que sequer sensibilizam muito a população.
Anteontem, no Rio de Janeiro, mais duas pessoas, Vânia Gabay – filha de Leon
Benzaquem Gabay, dono da rede de joalherias Roditi – e Alexandre Wenkart foram
vítimas dessa nova “indústria” do crime organizado.
A outrora Cidade Maravilhosa, por sinal, havia tido
uma certa trégua nesse tipo de delito, desde 13 de julho passado, quando o empresário
alemão Wolfgang Rudolf Prinz foi seqüestrado. Reféns, igualmente, do ponto de
vista técnico, são os brasileiros retidos no Iraque, que não conseguem voltar
para casa, em virtude de uma sucessão de trapalhadas. De nossas autoridades,
evidentemente.
Estas duas palavras, portanto, incorporaram-se ao
nosso cotidiano. Não mais como uma notícia do Líbano ou de outro país qualquer
do Oriente Médio e da Ásia, depois que Cuba deixou de ser a grande Meca dos
seqüestradores.
E nós ficaremos passivos, contemplando, sem reação,
a evolução desse cancro por aqui? É verdade que as autoridades até que tentaram
tomar uma providência, aumentando a dureza das penas para esse tipo de crime e
dificultando a liberação de dólares para o pagamento de resgates.
Como se vê, contudo, isto não foi suficiente. É
preciso haver maior colaboração da população para desestimular ações dessa
natureza, sem que se acoberte – por medo, indiferença ou cumplicidade – esses
criminosos. Afinal, somente o Rio de Janeiro registrou, em nove meses, 31
seqüestros. Nem Beirute, no auge da guerra civil libanesa, teve tantos casos
assim.
Diante desses números, somos forçados a concordar
com o jornalista Gaudêncio Torquato, que num artigo publicado no jornal “O
Estado de São Paulo”, escreveu: “A convivência com assustadoras situações de
violência e miséria está formando sobre a sociedade uma densa camada de
insensibilidade. Há algum tempo, seqüestro era algo que chocava. Tornou-se
comum. As falas não tocam as pessoas. Os dados contundentes não provocam
impacto. E as grandes tragédias, de tão repetidas, vão se diluindo nas mentes,
num processo de fulminante redução de impactos. O País transforma-se em
caldeirão virulento e nem se nota”.
É essa a sociedade que estamos construindo para os
nossos filhos? É mister que sempre se tenha em mente que o omisso de hoje pode
ser a vítima de amanhã.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de setembro de 1990)
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