Saturday, September 05, 2015

Derrubar a inflação


Pedro J. Bondaczuk


O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, previu, na Segunda-feira, que as taxas mensais de inflação voltarão ao patamar dos 25% já em dezembro. Condicionou porém esse recuo à execução das medidas constantes do Plano de Ação Imediata. Deu a entender, portanto, que será uma “vitória” para o governo esse recuo, se é que de fato virá a acontecer.

Os trabalhadores, que são os maiores prejudicados com a evolução dos índices inflacionários, embora um tanto desencantados, torcem para que pelo menos essa pequena, ínfima queda se verifique.

Fernando Henrique, não se pode negar, foi mais realista do que seus antecessores nesse exercício de futurologia, praticado todos os dias por razões diferentes pelos brasileiros. A ex-ministra Zélia Cardoso de Mello havia prometido taxas de um só dígito que, evidentemente, ainda não passam de um sonho. Marcílio Marques Moreira foi mais comedido e arriscou prognosticar 17% para dezembro do ano passado. Nova frustração.

O custo de vida, ao invés de baixar, pegou carona na crise política, que redundou no afastamento definitivo do ex-presidente Fernando Collor e sua substituição por Itamar Franco, para galgar novo degrau.

O ministro da Fazenda assegurou que “a inflação não cai porque uma parcela da sociedade não quer”. Essa afirmação faz sentido. Ainda mais quando Fernando Henrique “dá nome aos bois”. Identifica a parcela (pequena, se comparada ao restante da população) para a qual a escalada inflacionária é indiferente, quando não vantajosa: banqueiros, oligopólios e o próprio governo.

Esse último, por exemplo, vem carregando na dose, nas elevações dos preços das tarifas públicas. Não fosse a ingenuidade de Itamar, ao dar, no início do ano, reajustes para combustíveis, energia elétrica, telefones, etc., abaixo do que deveria, as taxas estariam agora nos 25% ou por volta disso. Não seria o ideal, mas melhor do que os atuais 32%.

Como há uma legislação específica, exigindo a recomposição das tarifas públicas mediante uma margem acima da inflação acumulada, continuaremos com índices elevados pelo menos até outubro próximo, quando Fernando Henrique promete segurar esses aumentos.

O fato é que o Brasil vem tendo, de longe, a pior performance da América Latina no combate ao custo de vida. É de dar inveja em qualquer brasileiro, por exemplo, a marca de 5,6% acumulada pelo Chile nos primeiros sete meses de 1993.

E nem seria preciso tanto. A cifra conseguida pelo Uruguai no primeiro semestre do ano, de 26,43%, já nos satisfaria. No entanto, não obtemos essa taxa sequer no cômputo mensal. Temos que nos contentar com a esperança de emplacar 25% em dezembro e ainda assim festejar com champanha e tudo o mais esse "feito", caso de fato seja obtido.

Isso, se a florescente “indústria da inflação” permitir. E, principalmente, se o governo não se limitar à retórica e fizer, de fato, a sua parte, arrecadando melhor seus tributos, gastando com responsabilidade e parcimônia o que arrecadar (e nenhum centavo além) e demonstrar o “jogo de cintura” que lhe faltou  até aqui, negociando apoios e mostrando competência e vontade política para debelar esse desajuste econômico.

Fernando Henrique parece estar no caminho correto. Pelo menos na visão do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Michel de Camdessus, que elogiou o processo adotado pelo ministro da Fazenda para derrubar a inflação. Deus queira que pelo menos desta vez o FMI esteja certo.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de agosto de 1993).


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