Derrubar a inflação
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso, previu, na Segunda-feira, que as taxas mensais de
inflação voltarão ao patamar dos 25% já em dezembro. Condicionou porém esse
recuo à execução das medidas constantes do Plano de Ação Imediata. Deu a
entender, portanto, que será uma “vitória” para o governo esse recuo, se é que
de fato virá a acontecer.
Os
trabalhadores, que são os maiores prejudicados com a evolução dos índices
inflacionários, embora um tanto desencantados, torcem para que pelo menos essa
pequena, ínfima queda se verifique.
Fernando
Henrique, não se pode negar, foi mais realista do que seus antecessores nesse
exercício de futurologia, praticado todos os dias por razões diferentes pelos
brasileiros. A ex-ministra Zélia Cardoso de Mello havia prometido taxas de um
só dígito que, evidentemente, ainda não passam de um sonho. Marcílio Marques
Moreira foi mais comedido e arriscou prognosticar 17% para dezembro do ano
passado. Nova frustração.
O
custo de vida, ao invés de baixar, pegou carona na crise política, que redundou
no afastamento definitivo do ex-presidente Fernando Collor e sua substituição
por Itamar Franco, para galgar novo degrau.
O
ministro da Fazenda assegurou que “a inflação não cai porque uma parcela da
sociedade não quer”. Essa afirmação faz sentido. Ainda mais quando Fernando
Henrique “dá nome aos bois”. Identifica a parcela (pequena, se comparada ao
restante da população) para a qual a escalada inflacionária é indiferente,
quando não vantajosa: banqueiros, oligopólios e o próprio governo.
Esse
último, por exemplo, vem carregando na dose, nas elevações dos preços das
tarifas públicas. Não fosse a ingenuidade de Itamar, ao dar, no início do ano,
reajustes para combustíveis, energia elétrica, telefones, etc., abaixo do que
deveria, as taxas estariam agora nos 25% ou por volta disso. Não seria o ideal,
mas melhor do que os atuais 32%.
Como
há uma legislação específica, exigindo a recomposição das tarifas públicas
mediante uma margem acima da inflação acumulada, continuaremos com índices
elevados pelo menos até outubro próximo, quando Fernando Henrique promete
segurar esses aumentos.
O
fato é que o Brasil vem tendo, de longe, a pior performance da América Latina
no combate ao custo de vida. É de dar inveja em qualquer brasileiro, por
exemplo, a marca de 5,6% acumulada pelo Chile nos primeiros sete meses de 1993.
E
nem seria preciso tanto. A cifra conseguida pelo Uruguai no primeiro semestre
do ano, de 26,43%, já nos satisfaria. No entanto, não obtemos essa taxa sequer
no cômputo mensal. Temos que nos contentar com a esperança de emplacar 25% em
dezembro e ainda assim festejar com champanha e tudo o mais esse
"feito", caso de fato seja obtido.
Isso,
se a florescente “indústria da inflação” permitir. E, principalmente, se o
governo não se limitar à retórica e fizer, de fato, a sua parte, arrecadando
melhor seus tributos, gastando com responsabilidade e parcimônia o que
arrecadar (e nenhum centavo além) e demonstrar o “jogo de cintura” que lhe faltou até aqui, negociando apoios e mostrando
competência e vontade política para debelar esse desajuste econômico.
Fernando
Henrique parece estar no caminho correto. Pelo menos na visão do
diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Michel de Camdessus, que
elogiou o processo adotado pelo ministro da Fazenda para derrubar a inflação.
Deus queira que pelo menos desta vez o FMI esteja certo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de agosto de 1993).
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