Infalível
meio de pressão
Pedro J. Bondaczuk
A indústria da guerra tem seus próprios meios,
bastante eficazes, de pressão sempre que deseja forçar os Legislativos dos
países em que atua para liberar as verbas de que necessita (ou apenas deseja)
para manter seu florescente negócio da morte.
Embora o método seja sempre o mesmo, é infalível.
Basta soltar no noticiário um balão de ensaio, aumentando os dados sobre o
poder de fogo dos soviéticos e diminuindo os de contra-ataque dos países
ocidentais. É infalível: logo os parlamentares se sensibilizam. Deixam para
trás prioridades de caráter social, cortam verbas da agricultura, da saúde, da
educação ou dos transportes (o bem estar do povo? Ora, o povo...) e, por canais
normais (ou mesmo anormais) injetam preciosos (e quase sempre escassos) dólares
nos cofres dos fabricantes de armas.
Se eles soubessem (?) o quanto de ganância e de fria
insensibilidade há por trás disso, ficariam apavorados e mudariam o rumo de sua
atuação, tornando-se ferrenhos pacifistas. Se sabem, e mesmo assim aprovam,
estão traindo a comunidade que dizem representar.
No complô para assassinar Gandhi, na Índia, em 30 de
janeiro de 1948 (apenas para citar um pequenino exemplo), embora o braço
assassino tenha sido o do inocente útil, Nathuram Godse (um jornalista
fanático, de 27 anos de idade), a cabeça do movimento foi o comerciante de
armas Digambar Badge. O Mahatma tinha de morrer por um motivo óbvio. Era o
líder da não-violência. E esta não vende armas.
Do grupo de pelo menos 50 conspiradores na morte do
pai da nação indiana, apenas dois foram condenados à morte. Exatamente os
inocentes úteis, os que foram manipulados, Godse e o gerente de produção do
jornal em que ele trabalhava, Narayan Apte. Ambos foram enforcados em 15 de
novembro de 1949. O que aconteceu ao vendedor de armas, Digambar Badge?
Absolutamente nada!
Atualmente, duas ofensivas estão em andamento, para
aumentar a fabulosa verba para a indústria da morte. Uma desenvolve-se no
Congresso dos EUA, para prover recursos destinados ao megalomaníaco projeto
conhecido como “guerra nas estrelas” (era só o que faltava!). Outra, tramita no
Parlamento Europeu, para que os países integrantes da Otan possam fabricar mais
armas convencionais. O argumento? O mesmo de sempre: os riscos de um eventual
ataque soviético.
Quando, afinal, os líderes do mundo (na Casa Branca
e no Cremlin) vão tomar juízo e conter o verdadeiro perigo, aquele que pode
levar os homens a se destruírem, que é a fome que assola a dois terços da
humanidade? Ou será que eles vêem no extermínio físico desse imenso contingente
de miseráveis a “solução final” desse problema?!
(Artigo publicado na página 20, Internacional, do
Correio Popular, em 27 de maio de 1984)
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