Uma arte em extinção
Pedro
J. Bondaczuk
O homem contemporâneo
vive, hoje, entre tantas contradições, uma que chama, em especial, a atenção.
Este início de milênio, caracterizado pela comunicação de massas, é igualmente
o período em que as pessoas mais se sentem solitárias. Nunca o mundo teve tanta
gente como agora. Afinal, são mais de 7,2 bilhões de seres humanos disputando o
espaço de um planeta de pequeno porte.
Em época alguma houve
tantas cidades gigantescas. São cerca de cem com mais de um milhão de
habitantes. No entanto, o homem está cada vez mais só. A saudável arte da
conversação, embora encontre ainda um ou outro grupo heróico que a pratique,
está em extinção.
O filósofo Ivan Illich
constatou: "Cinqüenta anos atrás, a maior parte das palavras que um homem
ouvia eram ditas pessoalmente a ele por alguém com quem conversava". E
hoje? Atualmente este quadro é muito diferente, Ouve-se, é verdade, conversa o
dia todo. Todavia, o que é ouvido é dito à distância.
São aparelhos de rádio,
receptores de televisão, gravadores, celulares e vai por aí afora que nos
enchem os ouvidos e a cabeça. Pessoalmente, em diálogo de qualquer espécie, as
palavras ditas são minoria. Os meios de comunicação eletrônicos ditam um
enervante monólogo.
Otto Lara Rezende constatou,
numa de suas crônicas: "Até um cidadão que não dispunha de um televisor,
ou de um rádio transistor, acaba sendo alvo do bombardeio de notícias que está
no ar o dia todo, todo dia. Ninguém escapa, com raras exceções, à onipresença
da notícia".
É verdade que estar bem
informado é fundamental para qualquer cidadão. Todavia, nem todo o tipo de
informação veiculado é do interesse de todos. A seleção, contudo, torna-se
virtualmente impossível. O homem contemporâneo consome, voluntária ou
involuntariamente, uma overdose de notícias, em geral desgastantes --- sobre
corrupção, crise econômica, assassinatos, seqüestros e outras aberrações
sociais --- que lhe despertam medo, ira, revolta e ressaltam, sobretudo, sua
absoluta impotência.
Mesmo os que ainda
reservam tempo para um papo com amigos, entre um chopinho e outro, no fim do
expediente diário ou das aulas no colégio, não conseguem mais escapar dos temas
dirigidos. E estes são, invariavelmente, os mesmos: inflação, futebol,
maledicências sobre a vida alheia, bravatas sobre conquistas amorosas quase
nunca verdadeiramente concretizadas e outras banalidades do gênero. Tempo para
tratar de assuntos relevantes, para aprender e ensinar algo, nunca sobra.
No entanto, jamais as
pessoas sentiram tanta falta de diálogos construtivos. Ou de, pelo menos, ouvir
alguém falar sobre coisas importantes para suas vidas. Palestras, conferências,
simpósios e seminários multiplicam-se, para tratar de temas que há apenas meio
século ou menos as pessoas levantavam em conversas nas varandas de suas casas,
de forma amena e descontraída.
John Dewey constatou
que "os homens vivem em comunidade em virtude das coisas que têm em comum;
e a comunicação é o meio por que chegam a possuir coisas em comum". Só
que, se comunicar, é uma via de duas mãos. Ou seja, é um contínuo dar e
receber. E é isto que está faltando nos dias de hoje, tornando as pessoas tão
solitárias e arredias, a despeito das redes sociais. Ou... por causa delas,
quem sabe.
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