Thursday, September 24, 2015

Cúpula: fracasso ou sucesso?


Pedro J. Bondaczuk


As análises feitas nos vários níveis de opinião pública no mundo, acerca da reunião de cúpula realizada nesta semana, em Washington, entre o presidente norte-americano Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbachev, têm ido de um extremo a outro na escala de otimismo. Para uns, o encontro foi um completo sucesso, por satisfazer os objetivos básicos para o qual foi marcado. Entre os que defendem esse ponto de vista estão os dois interlocutores desse diálogo de titãs, ou seja, os dirigentes que se encontraram e conversaram a sós por mais de seis horas.

Para outros, sobraram apenas frustrações. São aqueles sonhadores que acham possível remover obstáculos de décadas com meia dúzia de palavras. Uns, apegados ferrenhamente a estereótipos, em Washington e Moscou, apontam os perigos de seus respectivos governantes acreditarem nas promessas e manifestações de boa vontade da outra parte. Outros, simplesmente, acham que a reunião trouxe mais males do que algum eventual benefício.

São os que acreditam nessa maluquice, que é a doutrina de mútua destruição assegurada. Argumentam que o acordo de eliminação de mísseis de média e curta distâncias pode Ter rompido o frágil equilíbrio, que impede que uma superpotência ataque a outra. Esquecem-se, esses alienados (ou talvez nem saibam disso), que o número de ogivas que serão destruídas não passa de pequena gota de água num enorme oceano. Serão, apenas, qualquer coisa em torno de duas mil bombas as eliminadas, restando, ainda, outras 58 mil para o exercício masoquista desses paranóicos, que teimam em brincar de deuses.

Numa análise objetiva, ao nosso ver, a grande conquista dessa reunião de cúpula foi o fato dela ter acontecido. Foi a possibilidade dos dois países mais poderosos do Planeta, divididos por tamanhos antagonismos, criarem um novo canal de contatos, em que a franqueza e o mútuo respeito substituíram as eventuais veleidades hegemônicas.

Foi dois dirigentes terem a coragem de colocar o pé no freio da corrida armamentista, brecando, virtualmente, à beira do abismo, um veículo desgovernado. Se desse encontro vai resultar algo de prático e de objetivo no futuro, vai depender de todos nós. Não apenas dos interlocutores, mas de todos os que repudiam as armas nucleares e as conseqüências que a sua simples existência trouxe e pode trazer para a humanidade.

Essa Espada de Damocles atômica mudou comportamentos, gerou neuroses coletivas, suprimiu perspectivas de futuro, além de ter drenado para os fabricantes desses artefatos nocivos recursos preciosíssimos, que poderiam e deveriam ser destinados a erradicar a fome, as doenças, a carência de moradias, a falta de instrução e outras necessidades sociais prementes, em nome de uma liberdade que nunca passou de mera retórica de políticos insinceros.

(Artigo publicado na página 24, Internacional, do Correio Popular, em 13 de dezembro de 1987).


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