Cúpula:
fracasso ou sucesso?
Pedro J. Bondaczuk
As análises feitas nos vários níveis de opinião pública no
mundo, acerca da reunião de cúpula realizada nesta semana, em Washington, entre
o presidente norte-americano Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail
Gorbachev, têm ido de um extremo a outro na escala de otimismo. Para uns, o
encontro foi um completo sucesso, por satisfazer os objetivos básicos para o
qual foi marcado. Entre os que defendem esse ponto de vista estão os dois
interlocutores desse diálogo de titãs, ou seja, os dirigentes que se
encontraram e conversaram a sós por mais de seis horas.
Para outros, sobraram apenas frustrações. São
aqueles sonhadores que acham possível remover obstáculos de décadas com meia
dúzia de palavras. Uns, apegados ferrenhamente a estereótipos, em Washington e
Moscou, apontam os perigos de seus respectivos governantes acreditarem nas
promessas e manifestações de boa vontade da outra parte. Outros, simplesmente,
acham que a reunião trouxe mais males do que algum eventual benefício.
São os que acreditam nessa maluquice, que é a
doutrina de mútua destruição assegurada. Argumentam que o acordo de eliminação
de mísseis de média e curta distâncias pode Ter rompido o frágil equilíbrio,
que impede que uma superpotência ataque a outra. Esquecem-se, esses alienados
(ou talvez nem saibam disso), que o número de ogivas que serão destruídas não
passa de pequena gota de água num enorme oceano. Serão, apenas, qualquer coisa
em torno de duas mil bombas as eliminadas, restando, ainda, outras 58 mil para
o exercício masoquista desses paranóicos, que teimam em brincar de deuses.
Numa análise objetiva, ao nosso ver, a grande
conquista dessa reunião de cúpula foi o fato dela ter acontecido. Foi a
possibilidade dos dois países mais poderosos do Planeta, divididos por tamanhos
antagonismos, criarem um novo canal de contatos, em que a franqueza e o mútuo
respeito substituíram as eventuais veleidades hegemônicas.
Foi dois dirigentes terem a coragem de colocar o pé
no freio da corrida armamentista, brecando, virtualmente, à beira do abismo, um
veículo desgovernado. Se desse encontro vai resultar algo de prático e de
objetivo no futuro, vai depender de todos nós. Não apenas dos interlocutores,
mas de todos os que repudiam as armas nucleares e as conseqüências que a sua
simples existência trouxe e pode trazer para a humanidade.
Essa Espada de Damocles atômica mudou
comportamentos, gerou neuroses coletivas, suprimiu perspectivas de futuro, além
de ter drenado para os fabricantes desses artefatos nocivos recursos
preciosíssimos, que poderiam e deveriam ser destinados a erradicar a fome, as
doenças, a carência de moradias, a falta de instrução e outras necessidades
sociais prementes, em nome de uma liberdade que nunca passou de mera retórica
de políticos insinceros.
(Artigo publicado na
página 24, Internacional, do Correio Popular, em 13 de dezembro de 1987).
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