Reagan
e Gorbachev precisam da reunião
Pedro J. Bondaczuk
Os
dirigentes políticos, principalmente os das superpotências, têm formas às vezes
um tanto estranhas de fazer as coisas. Principalmente os líderes soviéticos,
que possuem uma tradição de "suspense", capaz de fazer inveja ao
célebre cineasta Alfred Hitchcock, que no cinema era mestre em manter os
espectadores "de coração na boca" com os enredos e tramas que criava.
Tanto
o presidente norte-americano, Ronald Reagan, quanto o secretário-geral do
Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, estão ansiosos por uma nova
reunião de cúpula, a terceira consecutiva desde 1985. No entanto, o Cremlin faz
suspense sobre uma data para isso e até sobre se esse encontro vai ocorrer ou
não. É claro que vai acontecer! E no mais tardar, em dezembro próximo.
Os
dois dirigentes, por motivos variados, precisam desse diálogo direto, que vai
focalizar as atenções do mundo todo sobre ambos. Para o mandatário de "Tio
Sam", esta será a derradeira oportunidade de entrar para a história como
um pacifista, pretensão que ele não esconde de ninguém e deixa implícita em
cada pronunciamento que faz, onde destaca invariavelmente o número de ditaduras
derrubadas durante a sua gestão na Casa Branca.
Além
disso, ele quer, certamente, apagar a má fama deixada pelo infeliz escândalo
"Irã-contras", que jogou toda a popularidade que obteve até 1986
virtualmente por terra.
Gorbachev
quer firmar uma imagem internacional. Ele precisa de um êxito desse porte, para
acalmar a oposição interna à sua "perestroika" e à badalada
"glasnost". O seu empenho em fazer funcionar engrenagens enferrujadas
por falta de uso adequado é uma missão que exige extraordinária coragem.
Principalmente quando se sabe que algumas de suas medidas, embora
indispensáveis, vão afetar, a partir do próximo ano, o bolso do operário
soviético. E que as empresas estatais não serão mais subvencionadas pelo
Estado. Terão que render lucros, para que não sejam fechadas. E os salários vão
estar atrelados à produtividade.
Como
vícios adquiridos ao longo de décadas não se corrigem da noite para o dia, não
é muito difícil de se prever o que vai acontecer na União Soviética. Vai ser
uma "chiadeira" geral.
Conquistando
um sólido apoio externo, será mais fácil para Gorbachev se impor em seu próprio
país. Além disso, detendo a corrida armamentista, ele terá maior soma de
recursos para investir na sua combalida economia. As notícias, nessa esfera,
por sinal, não são nada boas.
O
Cremlin contava com uma safra recorde neste ano, o que já não vai acontecer, em
virtude de problemas climáticos. É um primeiro revés que precisa ser encoberto
por algum êxito para compensar, por causa do efeito psicológico. Portanto, que
ninguém estranhe se ainda nesta semana sair, finalmente, a data da reunião de cúpula.
Esta já deve estar marcada desde o começo do ano. O resto não passa de
"fita" dos dois lados.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 30 de outubro de
1987).
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