Friday, September 11, 2015

Reagan e Gorbachev precisam da reunião


Pedro J. Bondaczuk

Os dirigentes políticos, principalmente os das superpotências, têm formas às vezes um tanto estranhas de fazer as coisas. Principalmente os líderes soviéticos, que possuem uma tradição de "suspense", capaz de fazer inveja ao célebre cineasta Alfred Hitchcock, que no cinema era mestre em manter os espectadores "de coração na boca" com os enredos e tramas que criava.

Tanto o presidente norte-americano, Ronald Reagan, quanto o secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, estão ansiosos por uma nova reunião de cúpula, a terceira consecutiva desde 1985. No entanto, o Cremlin faz suspense sobre uma data para isso e até sobre se esse encontro vai ocorrer ou não. É claro que vai acontecer! E no mais tardar, em dezembro próximo.

Os dois dirigentes, por motivos variados, precisam desse diálogo direto, que vai focalizar as atenções do mundo todo sobre ambos. Para o mandatário de "Tio Sam", esta será a derradeira oportunidade de entrar para a história como um pacifista, pretensão que ele não esconde de ninguém e deixa implícita em cada pronunciamento que faz, onde destaca invariavelmente o número de ditaduras derrubadas durante a sua gestão na Casa Branca.

Além disso, ele quer, certamente, apagar a má fama deixada pelo infeliz escândalo "Irã-contras", que jogou toda a popularidade que obteve até 1986 virtualmente por terra.

Gorbachev quer firmar uma imagem internacional. Ele precisa de um êxito desse porte, para acalmar a oposição interna à sua "perestroika" e à badalada "glasnost". O seu empenho em fazer funcionar engrenagens enferrujadas por falta de uso adequado é uma missão que exige extraordinária coragem. Principalmente quando se sabe que algumas de suas medidas, embora indispensáveis, vão afetar, a partir do próximo ano, o bolso do operário soviético. E que as empresas estatais não serão mais subvencionadas pelo Estado. Terão que render lucros, para que não sejam fechadas. E os salários vão estar atrelados à produtividade.

Como vícios adquiridos ao longo de décadas não se corrigem da noite para o dia, não é muito difícil de se prever o que vai acontecer na União Soviética. Vai ser uma "chiadeira" geral.

Conquistando um sólido apoio externo, será mais fácil para Gorbachev se impor em seu próprio país. Além disso, detendo a corrida armamentista, ele terá maior soma de recursos para investir na sua combalida economia. As notícias, nessa esfera, por sinal, não são nada boas.

O Cremlin contava com uma safra recorde neste ano, o que já não vai acontecer, em virtude de problemas climáticos. É um primeiro revés que precisa ser encoberto por algum êxito para compensar, por causa do efeito psicológico. Portanto, que ninguém estranhe se ainda nesta semana sair, finalmente, a data da reunião de cúpula. Esta já deve estar marcada desde o começo do ano. O resto não passa de "fita" dos dois lados.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 30 de outubro de 1987).


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