Saturday, September 12, 2015

Algumas personagens femininas inesquecíveis.

Pedro J. Bondaczuk

As listas de “mais e melhores”, de determinadas atividades, que volta e meia são elaboradas e divulgadas ao público por jornais, revistas, sites e blogs, nunca fazem plena justiça, sobretudo aos muitos que são omitidos nelas. Refletem, apenas, a opinião de quem as elabora. Posso concordar com elas ou discordar delas e isso não quer dizer que sejam corretas ou erradas. Nunca são, todavia, consensuais. Nem poderiam ser. Por exemplo, como determinar quais foram os cem melhores livros escritos em todos os tempos? Alguém já leu a totalidade, sem que faltasse um único, dos que já foram publicados, desde a invenção da escrita? Óbvio que não!! A quantidade é tão grande, que o máximo que alguém, rapidíssimo em leitura, seria capaz de ler, e em toda sua vida (supondo que tenha acesso a eles, claro), chutando muito para cima, seria, digamos, algo como dez mil. E olhem lá!

Isso representaria, porém, um percentual tão pequeno de leitura que só podemos imaginar qual seria. Suponho que se tratasse de um número infinitamente pequeno, iniciado com zero, e seguido de alguns milhões (quiçá bilhões ou mais) de outros zeros depois da vírgula, antes de aparecer outro número qualquer. Ou seja, praticamente nada. Ainda assim, a título de curiosidade, e como tema de reflexão, gosto de acompanhar essas listas. Elas me espicaçam, me provocam e me desafiam Sempre que posso, apresento alguma delas em rodas de amigos – e há uma infinidade delas internet afora – e, invariavelmente, tais rankings geram debates intermináveis, não raro acalorados, que ficam sem conclusão alguma, mas que considero válidos para arejar idéias. Induzem-nos a pensar e a expor o que pensamos, o que considero saudabilíssimo e enriquecedor.

Todo esse meu bla-bla-blá vem a propósito de uma sugestão feita por um leitor que me propõe que faça comentários sobre determinada lista, de tantas similares que já foram elaboradas, que serviriam de pretexto, segundo ele, para trazer à baila alguns livros específicos e seus respectivos autores. Trata-se de uma relação de “catorze personagens femininas inesquecíveis”, publicada no excelente site “Homo Literatus”, que eu não conhecia – cujo endereço eletrônico é WWW.homoliteratus.com – em que catorze convidados opinam sobre quais mulheres criadas pela fértil imaginação de certos escritores, os marcaram, ao lerem os romances em que elas são protagonistas. Cada pessoa poderia escolher apenas uma.

Diga-se, a favor dos que contribuíram para a formação dessa lista, que ela não se propõe a definir as “melhores” personagens femininas de todos os tempos. Não se trata disso. Até porque, como justifiquei acima, isso seria humanamente impossível. As mulheres citadas podem ser inesquecíveis (e de fato são, pelo menos para mim) sem serem, necessariamente, as melhores do mundo (que talvez nem sejam) e muito menos de todos os tempos, ora, ora, ora... Só não entendo porque a relação limitou as escolhas a “catorze”. Este sequer é  número redondo. Ela tanto poderia ser, por exemplo, de dez, ou, quem sabe, de cem, para não exagerar. Mas.. é de catorze. Que seja, pois, essa cifra.

A imensa maioria das personagens citadas é praticamente consensual. Qualquer leitor normal, com razoável “quilometragem” de leitura, as conhece e provavelmente concorda que são mesmo inesquecíveis. Quem diria que Capitu, por exemplo, não o impressionou? Ou que Emma Bovary passou batida quando da leitura do romance para o qual Gustave Flaubert a criou? Ou, para o leitor um pouquinho mais erudito, que Molly Bloom, de James Joyce, em “Ulysses”, lhe foi indiferente (levando em conta a complexidade do livro desse tão citado, mas tão pouco lido autor irlandês)?

Mais da metade das catorze personagens femininas citadas nem são de livros dos mais conhecidos, o que justifica ainda mais os comentários que me proponho a fazer, que talvez se tornem, até, sugestões para leitura. Se seguidas, elas certamente aumentarão o conhecimento literário dos pacientes leitores que acompanham minhas descompromissadas reflexões diárias. Admito que esta introdução é um tanto extensa (posto que não exagerada), a ponto de adiar para amanhã as considerações referentes à primeira personagem feminina inesquecível dessa relação.

Estas explicações, todavia, se fazem necessárias para o entendimento da sequência da nova série. Muitos não gostam de temas seqüenciais, como este, e como vários outros que tratei por aqui, que exigem vinte, trinta ou quarenta textos para serem esgotados. Confesso que esta também não é propriamente minha preferência. Mas... como a maioria parece gostar desse procedimento, e como aqui quem manda é o leitor, vamos lá a mais essa tarefa (comparável, com algum exagero, a uma das doze que o mitológico Hércules teve que executar) que, creiam-me, demandará horas e horas de leitura, de pesquisa, de redação e de respectiva revisão. Mas... você é soberano neste espaço.


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