Algumas personagens
femininas inesquecíveis.
Pedro
J. Bondaczuk
As listas de “mais e
melhores”, de determinadas atividades, que volta e meia são elaboradas e
divulgadas ao público por jornais, revistas, sites e blogs, nunca fazem plena
justiça, sobretudo aos muitos que são omitidos nelas. Refletem, apenas, a
opinião de quem as elabora. Posso concordar com elas ou discordar delas e isso
não quer dizer que sejam corretas ou erradas. Nunca são, todavia, consensuais.
Nem poderiam ser. Por exemplo, como determinar quais foram os cem melhores
livros escritos em todos os tempos? Alguém já leu a totalidade, sem que
faltasse um único, dos que já foram publicados, desde a invenção da escrita?
Óbvio que não!! A quantidade é tão grande, que o máximo que alguém, rapidíssimo
em leitura, seria capaz de ler, e em toda sua vida (supondo que tenha acesso a
eles, claro), chutando muito para cima, seria, digamos, algo como dez mil. E
olhem lá!
Isso representaria,
porém, um percentual tão pequeno de leitura que só podemos imaginar qual seria.
Suponho que se tratasse de um número infinitamente pequeno, iniciado com zero,
e seguido de alguns milhões (quiçá bilhões ou mais) de outros zeros depois da
vírgula, antes de aparecer outro número qualquer. Ou seja, praticamente nada.
Ainda assim, a título de curiosidade, e como tema de reflexão, gosto de
acompanhar essas listas. Elas me espicaçam, me provocam e me desafiam Sempre
que posso, apresento alguma delas em rodas de amigos – e há uma infinidade
delas internet afora – e, invariavelmente, tais rankings geram debates
intermináveis, não raro acalorados, que ficam sem conclusão alguma, mas que
considero válidos para arejar idéias. Induzem-nos a pensar e a expor o que
pensamos, o que considero saudabilíssimo e enriquecedor.
Todo esse meu
bla-bla-blá vem a propósito de uma sugestão feita por um leitor que me propõe
que faça comentários sobre determinada lista, de tantas similares que já foram
elaboradas, que serviriam de pretexto, segundo ele, para trazer à baila alguns
livros específicos e seus respectivos autores. Trata-se de uma relação de
“catorze personagens femininas inesquecíveis”, publicada no excelente site
“Homo Literatus”, que eu não conhecia – cujo endereço eletrônico é WWW.homoliteratus.com
– em que catorze convidados opinam sobre quais mulheres criadas pela fértil
imaginação de certos escritores, os marcaram, ao lerem os romances em que elas
são protagonistas. Cada pessoa poderia escolher apenas uma.
Diga-se, a favor dos
que contribuíram para a formação dessa lista, que ela não se propõe a definir as
“melhores” personagens femininas de todos os tempos. Não se trata disso. Até
porque, como justifiquei acima, isso seria humanamente impossível. As mulheres
citadas podem ser inesquecíveis (e de fato são, pelo menos para mim) sem serem,
necessariamente, as melhores do mundo (que talvez nem sejam) e muito menos de
todos os tempos, ora, ora, ora... Só não entendo porque a relação limitou as
escolhas a “catorze”. Este sequer é
número redondo. Ela tanto poderia ser, por exemplo, de dez, ou, quem
sabe, de cem, para não exagerar. Mas.. é de catorze. Que seja, pois, essa
cifra.
A imensa maioria das
personagens citadas é praticamente consensual. Qualquer leitor normal, com
razoável “quilometragem” de leitura, as conhece e provavelmente concorda que
são mesmo inesquecíveis. Quem diria que Capitu, por exemplo, não o
impressionou? Ou que Emma Bovary passou batida quando da leitura do romance
para o qual Gustave Flaubert a criou? Ou, para o leitor um pouquinho mais
erudito, que Molly Bloom, de James Joyce, em “Ulysses”, lhe foi indiferente
(levando em conta a complexidade do livro desse tão citado, mas tão pouco lido
autor irlandês)?
Mais da metade das
catorze personagens femininas citadas nem são de livros dos mais conhecidos, o
que justifica ainda mais os comentários que me proponho a fazer, que talvez se
tornem, até, sugestões para leitura. Se seguidas, elas certamente aumentarão o
conhecimento literário dos pacientes leitores que acompanham minhas
descompromissadas reflexões diárias. Admito que esta introdução é um tanto
extensa (posto que não exagerada), a ponto de adiar para amanhã as
considerações referentes à primeira personagem feminina inesquecível dessa
relação.
Estas explicações,
todavia, se fazem necessárias para o entendimento da sequência da nova série.
Muitos não gostam de temas seqüenciais, como este, e como vários outros que
tratei por aqui, que exigem vinte, trinta ou quarenta textos para serem
esgotados. Confesso que esta também não é propriamente minha preferência.
Mas... como a maioria parece gostar desse procedimento, e como aqui quem manda
é o leitor, vamos lá a mais essa tarefa (comparável, com algum exagero, a uma
das doze que o mitológico Hércules teve que executar) que, creiam-me, demandará
horas e horas de leitura, de pesquisa, de redação e de respectiva revisão.
Mas... você é soberano neste espaço.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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