Sunday, September 27, 2015

Trunfo contra conservadores



Pedro J. Bondaczuk


A reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, realizada entre anteontem e ontem, em Londres (e principalmente a declaração conjunta emitida ao cabo desse encontro), foi a melhor e mais valiosa ajuda dada pelo presidente norte-americano, George Bush, ao seu colega Mikhail Gorbachev. E bem que este precisava de algo assim em seu confronto com radicais e conservadores no 28º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, que entrou ontem em sua metade, dos 10 dias programados.

Na véspera, os delegados de linha dura haviam concentrado suas baterias na política exterior do Cremlin. Vários oradores, entre os quais o general Ivan Nikulin, chefe do Departamento Político do Exército Sul e membro do poderoso Conselho de Defesa, haviam acusado Gorbachev de se curvar diante do Ocidente.

O oficial citado, inclusive, chegou a ridicularizar o grande sonho do presidente da criação de “um lar comum europeu”. Disse, em determinado trecho do seu discurso, que o atual governo soviético olhava “para o mundo através de óculos cor-de-rosa”.

A declaração da Otan, de ontem, mostrou que a coisa não é bem assim. Que os críticos da Perestroika é que estão muito distantes da nova realidade, insistindo em permanecer em sua “torre de marfim”, cujas bases estão visivelmente carunchadas.

É verdade que não é fácil mudar, da noite para o dia, uma visão estereotipada, principalmente quando se lida com fanáticos ideológicos. O presidente soviético ressaltou isso ontem. Mas o documento da aliança ocidental sela de vez a guerra fria, que há mais de um ano só continuava existindo, de fato, na cabeça dos alienados.

Gorbachev precisava desse reforço extra, depois da saraivada de ataques que recebeu desde maio passado, antes do seu embarque para os Estados Unidos, para a reunião de cúpula de Washington, com George Bush.

Não que objetivamente os conservadores tenham o poder de o derrubar da chefia do Partido Comunista. Pesquisas feitas ao longo do 28º Congresso, entre os delegados participantes, mostraram que, embora a linha dura disponha de maior quantidade de representantes, o atual secretário-geral do PC ainda conta com mais de 50% de apoio.

Se os congressistas tiverem juízo, grandeza e um pouquinho que seja de patriotismo (esquecendo por instantes seus interesses pessoais), chegarão à conclusão que a União Soviética não tem alternativa. Ou aposta no sucesso da Perestroika, ou será instalado o caos no país. O mais não passa de retórica de políticos espertalhões.


(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7 de julho de 1990)

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