Trunfo contra conservadores
Pedro J.
Bondaczuk
A reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico
Norte, realizada entre anteontem e ontem, em Londres (e principalmente a
declaração conjunta emitida ao cabo desse encontro), foi a melhor e mais valiosa
ajuda dada pelo presidente norte-americano, George Bush, ao seu colega Mikhail
Gorbachev. E bem que este precisava de algo assim em seu confronto com radicais
e conservadores no 28º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, que
entrou ontem em sua metade, dos 10 dias programados.
Na véspera, os delegados de linha dura haviam concentrado
suas baterias na política exterior do Cremlin. Vários oradores, entre os quais
o general Ivan Nikulin, chefe do Departamento Político do Exército Sul e membro
do poderoso Conselho de Defesa, haviam acusado Gorbachev de se curvar diante do
Ocidente.
O oficial citado, inclusive, chegou a ridicularizar o
grande sonho do presidente da criação de “um lar comum europeu”. Disse, em
determinado trecho do seu discurso, que o atual governo soviético olhava “para
o mundo através de óculos cor-de-rosa”.
A declaração da Otan, de ontem, mostrou que a coisa não é
bem assim. Que os críticos da Perestroika é que estão muito distantes da nova
realidade, insistindo em permanecer em sua “torre de marfim”, cujas bases estão
visivelmente carunchadas.
É verdade que não é fácil mudar, da noite para o dia, uma
visão estereotipada, principalmente quando se lida com fanáticos ideológicos. O
presidente soviético ressaltou isso ontem. Mas o documento da aliança ocidental
sela de vez a guerra fria, que há mais de um ano só continuava existindo, de
fato, na cabeça dos alienados.
Gorbachev precisava desse reforço extra, depois da
saraivada de ataques que recebeu desde maio passado, antes do seu embarque para
os Estados Unidos, para a reunião de cúpula de Washington, com George Bush.
Não que objetivamente os conservadores tenham o poder de o
derrubar da chefia do Partido Comunista. Pesquisas feitas ao longo do 28º
Congresso, entre os delegados participantes, mostraram que, embora a linha dura
disponha de maior quantidade de representantes, o atual secretário-geral do PC
ainda conta com mais de 50% de apoio.
Se os congressistas tiverem juízo, grandeza e um pouquinho
que seja de patriotismo (esquecendo por instantes seus interesses pessoais),
chegarão à conclusão que a União Soviética não tem alternativa. Ou aposta no
sucesso da Perestroika, ou será instalado o caos no país. O mais não passa de
retórica de políticos espertalhões.
(Artigo publicado
na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7 de julho de 1990)
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