Monday, September 14, 2015

Longa guerra de nervos


Pedro J. Bondaczuk

O processo de independência da Lituânia --- e por extensão, das duas outras Repúblicas bálticas, Letônia e Estônia --- ao lado da reunificação das duas Alemanhas, deverá ser, pelos próximos dois anos, um dos temas mais freqüentes no noticiário internacional. Temos certeza que no fim das contas Moscou irá ceder, mas não sem antes arrancar algum tipo de vantagem dessa perda territorial. Até que a União Soviética se dê por vencida, no entanto, o agora super-presidente Mikhail Gorbachev certamente fará muita "guerra de nervos" com os lituanos, letões e estonianos. Quem está esperando um desfecho rápido para o caso, está muito equivocado. As partes recém estão colocando as suas cartas na mesa.

O fato da Lituânia não ter sido reconhecida como nação independente virtualmente por ninguém --- à exceção da Austrália ---  é sintomático. País algum deseja indispor-se gratuitamente com Moscou. Afinal, a União Soviética, mesmo passando por dificuldades, ainda é uma superpotência, detém um poderio magnífico e desestabilizada, tende a romper o atual frágil equilíbrio mundial. Ademais, não se quer dar nenhum pretexto  à linha-dura comunista para que derrube Mikhail Gorbachev e ponha, dessa forma, um ponto final nas reformas empreendidas com tamanha coragem e determinação por esse líder.

Isto não quer dizer, no entanto, que o Ocidente concorde com a anexação das três Repúblicas bálticas, há 50 anos, na esteira do pacto Molotov-Ribbentroff . Por uma questão de circunstância, este fato acabou sendo aceito e absorvido no Tratado de Yalta, firmado no fim da guerra. Mas o assunto sempre se constituiu num autêntico "engasgo" para os Estados Unidos. Se o presidente George Bush ainda não reconheceu a proclamação de independência da Lituânia, foi pelas razões expostas acima. Para não hostilizar a União Soviética e não desestabilizar Gorbachev. Até porque o líder do Cremlin se comprometeu a não usar a força contra os lituanos.

Mas as pressões contra a República, certamente, deverão aumentar. O que se questiona é se os nacionalistas da organização "Sajudis" terão "nervos de aço" para não se deixarem abater. O Cremlin já determinou o confisco de armas, a ocupação das estatais por parte da KGB e o rígido controle de fronteiras. Agora, deu prazo de dois dias para que os lituanos dissolvam suas brigadas civis. Pelas vias da confrontação, nenhuma das partes chegará a lugar algum. Gorbachev não quer e não pode recorrer à violência. A Lituânia não tem forças para enfrentar a superpotência. Quem cederá primeiro, Vilnius ou Moscou?

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 23 de março de 1990)


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