Longa guerra de nervos
Pedro J. Bondaczuk
O
processo de independência da Lituânia --- e por extensão, das duas outras
Repúblicas bálticas, Letônia e Estônia --- ao lado da reunificação das duas
Alemanhas, deverá ser, pelos próximos dois anos, um dos temas mais freqüentes
no noticiário internacional. Temos certeza que no fim das contas Moscou irá
ceder, mas não sem antes arrancar algum tipo de vantagem dessa perda
territorial. Até que a União Soviética se dê por vencida, no entanto, o agora
super-presidente Mikhail Gorbachev certamente fará muita "guerra de
nervos" com os lituanos, letões e estonianos. Quem está esperando um
desfecho rápido para o caso, está muito equivocado. As partes recém estão
colocando as suas cartas na mesa.
O
fato da Lituânia não ter sido reconhecida como nação independente virtualmente
por ninguém --- à exceção da Austrália ---
é sintomático. País algum deseja indispor-se gratuitamente com Moscou.
Afinal, a União Soviética, mesmo passando por dificuldades, ainda é uma
superpotência, detém um poderio magnífico e desestabilizada, tende a romper o
atual frágil equilíbrio mundial. Ademais, não se quer dar nenhum pretexto à linha-dura comunista para que derrube
Mikhail Gorbachev e ponha, dessa forma, um ponto final nas reformas
empreendidas com tamanha coragem e determinação por esse líder.
Isto
não quer dizer, no entanto, que o Ocidente concorde com a anexação das três
Repúblicas bálticas, há 50 anos, na esteira do pacto Molotov-Ribbentroff . Por
uma questão de circunstância, este fato acabou sendo aceito e absorvido no
Tratado de Yalta, firmado no fim da guerra. Mas o assunto sempre se constituiu
num autêntico "engasgo" para os Estados Unidos. Se o presidente
George Bush ainda não reconheceu a proclamação de independência da Lituânia,
foi pelas razões expostas acima. Para não hostilizar a União Soviética e não
desestabilizar Gorbachev. Até porque o líder do Cremlin se comprometeu a não
usar a força contra os lituanos.
Mas
as pressões contra a República, certamente, deverão aumentar. O que se
questiona é se os nacionalistas da organização "Sajudis" terão
"nervos de aço" para não se deixarem abater. O Cremlin já determinou
o confisco de armas, a ocupação das estatais por parte da KGB e o rígido
controle de fronteiras. Agora, deu prazo de dois dias para que os lituanos
dissolvam suas brigadas civis. Pelas vias da confrontação, nenhuma das partes
chegará a lugar algum. Gorbachev não quer e não pode recorrer à violência. A
Lituânia não tem forças para enfrentar a superpotência. Quem cederá primeiro,
Vilnius ou Moscou?
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 23 de março de
1990)
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