Sindicato europeu do terror
Pedro J. Bondaczuk
A
Europa, e em especial a Alemanha Ocidental, a França e a Bélgica, estão vivendo
um novo surto terrorista, após a intensa movimentação registrada pelos seus
governos nos meses de abril e de maio para punir diplomatas e cidadãos líbios.
E desta vez, nem com a maior das más vontades, o irrequieto coronel Muammar
Khadafy pode ser associado a tais acontecimentos. São grupos esquerdistas
europeus que voltaram a agir, após um período relativamente grande de calmaria.
No
domingo, duas empresas francesas sofreram ataques a bomba atribuídos aos
membros da Ação Direta. Anteontem, as Células Combatentes Comunistas, da
Bélgica, causaram um corre-corre imenso, ao anunciarem a existência de
explosivos na sede da União Européia, em Bruxelas. Não havia, mas o prédio teve
que ser evacuado e revistado minuciosamente. Afinal, do jeito que as coisas
andam, não convém facilitar.
Finalmente
ontem, verificaram-se os dois acontecimentos mais brutais, por redundarem em
vítimas. Em Munique, uma bomba, acionada por controle remoto, ceifou a vida de
um renomado cientista germânico, homem possuidor de inúmeros títulos acadêmicos
e diretor de pesquisas da poderosa empresa Siemens AG. Referimo-nos ao físico
nuclear Karl Heinz Beckurts, cujo carro blindado voou pelos ares e pegou fogo,
matando, por conseqüência, também o seu infeliz motorista.
Quase
que simultaneamente, só que em Paris, o grupo Ação Direta voltou a agir, desta
feita com petulância redobrada. Atacou, através de bombas, nada menos do que a
própria sede da polícia central parisiense, matando um delegado que estava a
poucos meses da aposentadoria, além de ferir 27 pessoas.
A
explosão ocorreu num prédio frontal àquele em que o primeiro-ministro francês,
Jacques Chirac, tem seu gabinete de trabalho. É evidente que o atentado foi um
ostensivo ato de provocação e de desafio ao premier conservador, que vem
tentando, de todas as maneiras, implementar medidas de segurança mais severas
no país.
O
ataque de Munique foi obra da Facção do Exército Vermelho, o novo nome que o
antigo grudo Baader-Meinhoff está usando há alguns anos. Como se observa, das
entidades terroristas européias mais conhecidas e ativas, que são em número de
cinco, houve ações de mais da metade. Faltaram, somente, atentados das Brigadas
Vermelhas italianas, extremamente debilitadas diante da enérgica
"limpeza" efetuada pela polícia da Itália e das Forças Populares 25
de Abril de Portugal, também enfraquecidas com a prisão de seus principais
mentores.
Uma
coisa que está sendo possível de se observar é a sofisticação dos atos
terroristas na Europa. Ao contrário de grupos que atuam no Oriente Médio, os do
continente não se expõem à repressão. Geralmente seus atentados são cometidos
com bombas acionadas por controle remoto.
Esses
extremistas revelam frieza, precisão e sobretudo ousadia, o que os torna muito
mais perigosos do que os congêneres do mundo árabe. Outro detalhe, é que os
ataques ocorrem em cadeia, numa espécie de "onda", tendo por alvo
objetivos da Organização do Tratado do Atlântico Norte e mais recentemente,
empresas, que as várias facções supõem estarem ligadas ao projeto "guerra
nas estrelas", do presidente norte-americano Ronald Reagan.
Essa
atitude faz o crítico concluir que existe um comando central, que organiza
todas as operações e que certamente não está em Tripoli. Descobrir quem dirige
e de onde, equivaleria a andar metade do caminho para bloquear os terroristas.
De qualquer forma, ao contrário da apressada opinião dos analistas políticos,
dada após o ataque norte-americano à Líbia, em abril passado, a "temporada
de caça" promete ser das mais quentes. E ela está apenas começando, para
desgosto e infelicidade geral, principalmente dos europeus.
(Artigo
publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 10 de julho de
1986)
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