Sunday, September 13, 2015

Sindicato europeu do terror


Pedro J. Bondaczuk


A Europa, e em especial a Alemanha Ocidental, a França e a Bélgica, estão vivendo um novo surto terrorista, após a intensa movimentação registrada pelos seus governos nos meses de abril e de maio para punir diplomatas e cidadãos líbios. E desta vez, nem com a maior das más vontades, o irrequieto coronel Muammar Khadafy pode ser associado a tais acontecimentos. São grupos esquerdistas europeus que voltaram a agir, após um período relativamente grande de calmaria.

No domingo, duas empresas francesas sofreram ataques a bomba atribuídos aos membros da Ação Direta. Anteontem, as Células Combatentes Comunistas, da Bélgica, causaram um corre-corre imenso, ao anunciarem a existência de explosivos na sede da União Européia, em Bruxelas. Não havia, mas o prédio teve que ser evacuado e revistado minuciosamente. Afinal, do jeito que as coisas andam, não convém facilitar.

Finalmente ontem, verificaram-se os dois acontecimentos mais brutais, por redundarem em vítimas. Em Munique, uma bomba, acionada por controle remoto, ceifou a vida de um renomado cientista germânico, homem possuidor de inúmeros títulos acadêmicos e diretor de pesquisas da poderosa empresa Siemens AG. Referimo-nos ao físico nuclear Karl Heinz Beckurts, cujo carro blindado voou pelos ares e pegou fogo, matando, por conseqüência, também o seu infeliz motorista.

Quase que simultaneamente, só que em Paris, o grupo Ação Direta voltou a agir, desta feita com petulância redobrada. Atacou, através de bombas, nada menos do que a própria sede da polícia central parisiense, matando um delegado que estava a poucos meses da aposentadoria, além de ferir 27 pessoas.

A explosão ocorreu num prédio frontal àquele em que o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac, tem seu gabinete de trabalho. É evidente que o atentado foi um ostensivo ato de provocação e de desafio ao premier conservador, que vem tentando, de todas as maneiras, implementar medidas de segurança mais severas no país.

O ataque de Munique foi obra da Facção do Exército Vermelho, o novo nome que o antigo grudo Baader-Meinhoff está usando há alguns anos. Como se observa, das entidades terroristas européias mais conhecidas e ativas, que são em número de cinco, houve ações de mais da metade. Faltaram, somente, atentados das Brigadas Vermelhas italianas, extremamente debilitadas diante da enérgica "limpeza" efetuada pela polícia da Itália e das Forças Populares 25 de Abril de Portugal, também enfraquecidas com a prisão de seus principais mentores.

Uma coisa que está sendo possível de se observar é a sofisticação dos atos terroristas na Europa. Ao contrário de grupos que atuam no Oriente Médio, os do continente não se expõem à repressão. Geralmente seus atentados são cometidos com bombas acionadas por controle remoto.

Esses extremistas revelam frieza, precisão e sobretudo ousadia, o que os torna muito mais perigosos do que os congêneres do mundo árabe. Outro detalhe, é que os ataques ocorrem em cadeia, numa espécie de "onda", tendo por alvo objetivos da Organização do Tratado do Atlântico Norte e mais recentemente, empresas, que as várias facções supõem estarem ligadas ao projeto "guerra nas estrelas", do presidente norte-americano Ronald Reagan.

Essa atitude faz o crítico concluir que existe um comando central, que organiza todas as operações e que certamente não está em Tripoli. Descobrir quem dirige e de onde, equivaleria a andar metade do caminho para bloquear os terroristas. De qualquer forma, ao contrário da apressada opinião dos analistas políticos, dada após o ataque norte-americano à Líbia, em abril passado, a "temporada de caça" promete ser das mais quentes. E ela está apenas começando, para desgosto e infelicidade geral, principalmente dos europeus.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 10 de julho de 1986)


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