Friday, September 04, 2015

Perspectiva de acordo



Pedro J. Bondaczuk


As negociações para a eliminação de mísseis de curto e médio alcance, em nível global, entre os Estados Unidos e a União Soviética, a despeito de tropeços e alguns estancamentos passageiros, avançam em Genebra e tudo leva a crer que o mundo terá a oportunidade de presenciar, ainda no corrente ano, a assinatura, solene, de um acordo nesse sentido, entre os líderes das superpotências.

A simples globalização das armas a serem eliminadas já foi um progresso espetacular. As propostas iniciais, apresentadas timidamente no começo do ano, previam a destruição somente de um tipo de foguete: o criado para distâncias intermediárias. O âmbito de abrangência também era muito restrito, envolvia somente a Europa. 

Depois de uma intensa movimentação diplomática de cúpula, no entanto, com a primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher, visitando Moscou e Washington; com o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac, conversando diretamente com o líder soviético, Mikhail Gorbachev, no Cremlin, onde pôde expor suas divergências e com tantos outros contatos de alto nível acontecendo na Otan e Pacto de Varsóvia, se chegou à “Dupla Opção Zero”.

Se o acordo, que certamente deverá ser obtido, for em torno dela, a humanidade ficará livre de dois tipos de balísticos, chamados, em linguagem militar, de estratégicos. É verdade que isso será mera gota de água no oceano, diante da pavorosa dimensão dos arsenais nucleares. Mas, como frisamos inúmeras vezes, neste mesmo espaço, a decisão será importante não por eliminar (ou sequer reduzir) os riscos de destruição do Planeta, no caso de uma impensável hecatombe final. O importante é que, pela primeira vez na história, desde o início da malfadada era nuclear, as superpotências estarão destruindo armamentos e não apenas limitando a sua fabricação. 

O efeito psicológico disso poderá ser espetacular e conduzir os Estados Unidos e a URSS a novos e sucessivos avanços, o que se constituiria numa autêntica revolução neste final de milênio. Principalmente se uma proposta das Nações Unidas (à qual Gorbachev aderiu publicamente anteontem), da criação de um fundo internacional para o desenvolvimento, com verbas provenientes do que será economizado com o desarmamento nuclear, acabar vingando.

A verdade é que, a despeito de subsistirem terríveis tensões no mundo, no Golfo Pérsico, na Ásia, na África e nas Américas, pelas razões de sempre (ganância por riquezas e sede de poder), há uma pequena réstia de esperança de que, afinal, nem tudo pode estar perdido. Queira Deus que não esteja mesmo.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 27 de agosto de 1987)


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