Perspectiva
de acordo
Pedro J. Bondaczuk
As negociações para a eliminação de mísseis de curto
e médio alcance, em nível global, entre os Estados Unidos e a União Soviética,
a despeito de tropeços e alguns estancamentos passageiros, avançam em Genebra e
tudo leva a crer que o mundo terá a oportunidade de presenciar, ainda no
corrente ano, a assinatura, solene, de um acordo nesse sentido, entre os
líderes das superpotências.
A simples globalização das armas a serem eliminadas
já foi um progresso espetacular. As propostas iniciais, apresentadas
timidamente no começo do ano, previam a destruição somente de um tipo de
foguete: o criado para distâncias intermediárias. O âmbito de abrangência
também era muito restrito, envolvia somente a Europa.
Depois de uma intensa movimentação diplomática de
cúpula, no entanto, com a primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher,
visitando Moscou e Washington; com o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac,
conversando diretamente com o líder soviético, Mikhail Gorbachev, no Cremlin, onde
pôde expor suas divergências e com tantos outros contatos de alto nível
acontecendo na Otan e Pacto de Varsóvia, se chegou à “Dupla Opção Zero”.
Se o acordo, que certamente deverá ser obtido, for
em torno dela, a humanidade ficará livre de dois tipos de balísticos, chamados,
em linguagem militar, de estratégicos. É verdade que isso será mera gota de
água no oceano, diante da pavorosa dimensão dos arsenais nucleares. Mas, como
frisamos inúmeras vezes, neste mesmo espaço, a decisão será importante não por
eliminar (ou sequer reduzir) os riscos de destruição do Planeta, no caso de uma
impensável hecatombe final. O importante é que, pela primeira vez na história,
desde o início da malfadada era nuclear, as superpotências estarão destruindo armamentos
e não apenas limitando a sua fabricação.
O efeito psicológico disso poderá ser espetacular e
conduzir os Estados Unidos e a URSS a novos e sucessivos avanços, o que se
constituiria numa autêntica revolução neste final de milênio. Principalmente se
uma proposta das Nações Unidas (à qual Gorbachev aderiu publicamente
anteontem), da criação de um fundo internacional para o desenvolvimento, com
verbas provenientes do que será economizado com o desarmamento nuclear, acabar
vingando.
A verdade é que, a despeito de subsistirem terríveis
tensões no mundo, no Golfo Pérsico, na Ásia, na África e nas Américas, pelas
razões de sempre (ganância por riquezas e sede de poder), há uma pequena réstia
de esperança de que, afinal, nem tudo pode estar perdido. Queira Deus que não
esteja mesmo.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 27 de agosto de 1987)
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