Monday, September 21, 2015

Expansão da guerra já é real


Pedro J. Bondaczuk


A situação no Golfo Pérsico, se já estava perigosa no início da semana, com o ataque norte-americano a duas plataformas de prospecção de petróleo iranianas, ficou muito mais grave, ontem, depois que um míssil do Irã, presumivelmente o tão falado "Silkworm" (que significa "bicho-da-seda"), de fabricação chinesa, destruiu o principal terminal de embarque petrolífero de Al-Ahmadi, no Kuwait. É ali que os petroleiros kuwaitianos, reabandeirados pelos Estados Unidos, têm se abastecido para fazer suas entregas no Ocidente. Ninguém duvida que hoje, ou o mais tardar amanhã, os norte-americanos darão o troco. E ele deverá ser muito mais duro do que o bombardeio de segunda-feira.

 Dessa forma, de ataque em ataque, de represália em represália, está se configurando aquilo que a Casa Branca afirmou desejar evitar. Ou seja, a quebra de neutralidade dos Estados Unidos. Falta, ao que parece, alguém de cabeça fria neste momento para assessorar o presidente Ronald Reagan na questão. Um homem tarimbado e consciente, como foi, por exemplo, o ex-secretário de Justiça Robert Kennedy, que prestou a melhor das assistências a seu irmão John, há 25 anos, quando as superpotências estiveram próximas de uma conflagração nuclear por causa da questão dos mísseis soviéticos instalados em Cuba.

Não que o caso agora seja de tanta dramaticidade quanto aquele. Afinal, opõe a nação mais poderosa da Terra contra outra de muito menor porte, exaurida por sete anos de guerra. Mas o que está em jogo não deixa de ser extremamente importante. O Golfo Pérsico, afinal, é responsável pelo abastecimento de petróleo de dois terços do mundo ocidental.

Embora a curto prazo um eventual colapso nessa região não prejudique as atividades normais na Europa e no Japão, que possuem fartos estoques da matéria-prima, com o correr dos meses, o precioso óleo poderá vir a faltar. É bom que se tenha em mente que se aproxima mais um inverno no Hemisfério Norte. E de acordo com os meteorologistas, a estação promete ser tão severa (ou mais, quem sabe) do que a anterior.

Nessas circunstâncias, o consumo cresce vertiginosamente, já que os europeus usam petróleo para a calefação de residências. Esperar que as hostilidades parem por aí é, nestas alturas, simplesmente mera ingenuidade. As monarquias árabes da região, que ficaram apenas apreciando o conflito nestes sete anos, não conseguirão mais escapar dele. E só Deus sabe as conseqüências que isto poderá trazer para a já trôpega economia mundial.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de outubro de 1987).


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