Expansão
da guerra já é real
Pedro J. Bondaczuk
A
situação no Golfo Pérsico, se já estava perigosa no início da semana, com o
ataque norte-americano a duas plataformas de prospecção de petróleo iranianas,
ficou muito mais grave, ontem, depois que um míssil do Irã, presumivelmente o
tão falado "Silkworm" (que significa "bicho-da-seda"), de
fabricação chinesa, destruiu o principal terminal de embarque petrolífero de
Al-Ahmadi, no Kuwait. É ali que os petroleiros kuwaitianos, reabandeirados
pelos Estados Unidos, têm se abastecido para fazer suas entregas no Ocidente.
Ninguém duvida que hoje, ou o mais tardar amanhã, os norte-americanos darão o
troco. E ele deverá ser muito mais duro do que o bombardeio de segunda-feira.
Dessa forma, de ataque em ataque, de
represália em represália, está se configurando aquilo que a Casa Branca afirmou
desejar evitar. Ou seja, a quebra de neutralidade dos Estados Unidos. Falta, ao
que parece, alguém de cabeça fria neste momento para assessorar o presidente
Ronald Reagan na questão. Um homem tarimbado e consciente, como foi, por
exemplo, o ex-secretário de Justiça Robert Kennedy, que prestou a melhor das
assistências a seu irmão John, há 25 anos, quando as superpotências estiveram
próximas de uma conflagração nuclear por causa da questão dos mísseis
soviéticos instalados em Cuba.
Não
que o caso agora seja de tanta dramaticidade quanto aquele. Afinal, opõe a
nação mais poderosa da Terra contra outra de muito menor porte, exaurida por
sete anos de guerra. Mas o que está em jogo não deixa de ser extremamente
importante. O Golfo Pérsico, afinal, é responsável pelo abastecimento de
petróleo de dois terços do mundo ocidental.
Embora
a curto prazo um eventual colapso nessa região não prejudique as atividades
normais na Europa e no Japão, que possuem fartos estoques da matéria-prima, com
o correr dos meses, o precioso óleo poderá vir a faltar. É bom que se tenha em
mente que se aproxima mais um inverno no Hemisfério Norte. E de acordo com os
meteorologistas, a estação promete ser tão severa (ou mais, quem sabe) do que a
anterior.
Nessas
circunstâncias, o consumo cresce vertiginosamente, já que os europeus usam
petróleo para a calefação de residências. Esperar que as hostilidades parem por
aí é, nestas alturas, simplesmente mera ingenuidade. As monarquias árabes da
região, que ficaram apenas apreciando o conflito nestes sete anos, não
conseguirão mais escapar dele. E só Deus sabe as conseqüências que isto poderá
trazer para a já trôpega economia mundial.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de outubro de
1987).
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