Em
campanha
Pedro J.
Bondaczuk
As campanhas para as eleições presidenciais de
outubro de 2002, embora ainda muito prematuras, já estão nas ruas, à revelia do
governo, que teme ser esvaziado. Acossado por problemas econômicos, pelo
repique do desemprego e pelo descontentamento nacional gerado pela atual crise
energética, este, de quebra, não conta com um candidato definido, forte,
competitivo, capaz de aglutinar as forças que elegeram, por duas vezes
consecutivas, Fernando Henrique Cardoso para a Presidência.
Especula-se, nas hostes tucanas, sobre as
possibilidades eleitorais do ministro da Saúde, José Serra; do atual governador
do Ceará, Tasso Jereissati e até do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que ora
insinua que pode assumir uma candidatura presidencial, ora dá a entender que
não tem qualquer pretensão à sucessão de FHC. Mas nenhum deles conta, já nem
tanto com o consenso partidário, mas com razoável aceitação popular. E o
escolhido, seja quem for, dificilmente terá as adesões do PFL e do PMDB,
revivendo a aliança vitoriosa de 1994 e 1998. Aliás, essa possibilidade já está
virtualmente descartada.
Ademais, a menos que o panorama político e econômico
atual sofra dramática reversão (obviamente para melhor), qualquer candidato
apoiado pelo governo será irremediavelmente batido nas urnas. A popularidade do
presidente Fernando Henrique Cardoso despencou num verdadeiro precipício. É
verdade que teoricamente pode recuperar o prestígio perdido, dependendo de como
vai manobrar os atuais problemas do País. Essa possibilidade, no entanto, pelo
menos neste momento, é ínfima, mínima, quase nula.
Se as eleições presidenciais fossem hoje, conforme
mostra recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística (Ibope), Luís Inácio Lula da Silva venceria, e com folga.
Recorde-se que se trata da quarta vez consecutiva que o presidente de honra do
Partido dos Trabalhadores larga na frente. Nas outras três, sua candidatura
perdeu fôlego na reta final e ele perdeu as eleições. E em 1998 sequer chegou
ao Segundo Turno.
"Muita água vai rolar por baixo da ponte",
no entanto, nos quase 16 meses que nos separam das eleições. Três nomes emergem
como fortes concorrentes de Lula, com possibilidades de irem pelo menos para o
Segundo Turno, contra o presidente de honra do PT: Ciro Gomes (PPS), Anthony
Garotinho (PSB) e Itamar Franco (PMDB).
O controvertido governador de Minas, apesar da forte
resistência que enfrenta por parte da mídia (leia-se Rede Globo) e mesmo no
seio de seu dividido partido, para onde retornou pela terceira ou quarta vez,
leva alguma vantagem sobre seu ex-ministro da Fazenda e sobre o atual
governador fluminense. Não muita, é verdade. As pesquisas revelam empate dos
três, com 13% das intenções de voto para cada um. Itamar Franco conta, contudo,
com maior experiência política, com mais cacife eleitoral. E se conseguir unir
o poderoso, mas dividido PMDB, em torno do seu nome, contará com o respaldo da
maior estrutura partidária da atualidade no País, o que multiplica demais as
suas chances.
Tanto é um candidato forte, que vem sendo atacado
frontalmente por Garotinho (e mais discretamente por Ciro Gomes). Ambos tentam,
obviamente, pôr em questão a credibilidade e o equilíbrio do controvertido
governador mineiro, que tem fanáticos admiradores e ferrenhos adversários. E
que se propala (não sem uma certa dose de razão) como o verdadeiro
"pai" do Plano Real.
Mas, a rigor, nunca o PT teve tantas possibilidades
de chegar ao poder como agora. O partido, que está completando 21 anos de
existência, está mais maduro, mais experiente e muito mais escolado em matéria
política. Ademais, vem enfrentando, e com sucesso, o teste de administrar
importantes capitais do País (São Paulo, Porto Alegre, Belém e Recife) e três
Estados da Federação (Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Acre). E de
quebra, começa a convencer a classe média conservadora e os empresários de que
não é o propalado "bicho de sete cabeças" esquerdista e que não quer
implantar no País nenhum regime alheio às nossas tradições.
(Artigo publicado na
página 2, Opinião, do jornal "Notícia Metropolitana", em 7 de julho
de 2001).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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