Thursday, September 10, 2015

Em campanha



Pedro J. Bondaczuk


As campanhas para as eleições presidenciais de outubro de 2002, embora ainda muito prematuras, já estão nas ruas, à revelia do governo, que teme ser esvaziado. Acossado por problemas econômicos, pelo repique do desemprego e pelo descontentamento nacional gerado pela atual crise energética, este, de quebra, não conta com um candidato definido, forte, competitivo, capaz de aglutinar as forças que elegeram, por duas vezes consecutivas, Fernando Henrique Cardoso para a Presidência.

Especula-se, nas hostes tucanas, sobre as possibilidades eleitorais do ministro da Saúde, José Serra; do atual governador do Ceará, Tasso Jereissati e até do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que ora insinua que pode assumir uma candidatura presidencial, ora dá a entender que não tem qualquer pretensão à sucessão de FHC. Mas nenhum deles conta, já nem tanto com o consenso partidário, mas com razoável aceitação popular. E o escolhido, seja quem for, dificilmente terá as adesões do PFL e do PMDB, revivendo a aliança vitoriosa de 1994 e 1998. Aliás, essa possibilidade já está virtualmente descartada.

Ademais, a menos que o panorama político e econômico atual sofra dramática reversão (obviamente para melhor), qualquer candidato apoiado pelo governo será irremediavelmente batido nas urnas. A popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso despencou num verdadeiro precipício. É verdade que teoricamente pode recuperar o prestígio perdido, dependendo de como vai manobrar os atuais problemas do País. Essa possibilidade, no entanto, pelo menos neste momento, é ínfima, mínima, quase nula.

Se as eleições presidenciais fossem hoje, conforme mostra recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), Luís Inácio Lula da Silva venceria, e com folga. Recorde-se que se trata da quarta vez consecutiva que o presidente de honra do Partido dos Trabalhadores larga na frente. Nas outras três, sua candidatura perdeu fôlego na reta final e ele perdeu as eleições. E em 1998 sequer chegou ao Segundo Turno.
"Muita água vai rolar por baixo da ponte", no entanto, nos quase 16 meses que nos separam das eleições. Três nomes emergem como fortes concorrentes de Lula, com possibilidades de irem pelo menos para o Segundo Turno, contra o presidente de honra do PT: Ciro Gomes (PPS), Anthony Garotinho (PSB) e Itamar Franco (PMDB).

O controvertido governador de Minas, apesar da forte resistência que enfrenta por parte da mídia (leia-se Rede Globo) e mesmo no seio de seu dividido partido, para onde retornou pela terceira ou quarta vez, leva alguma vantagem sobre seu ex-ministro da Fazenda e sobre o atual governador fluminense. Não muita, é verdade. As pesquisas revelam empate dos três, com 13% das intenções de voto para cada um. Itamar Franco conta, contudo, com maior experiência política, com mais cacife eleitoral. E se conseguir unir o poderoso, mas dividido PMDB, em torno do seu nome, contará com o respaldo da maior estrutura partidária da atualidade no País, o que multiplica demais as suas chances.

Tanto é um candidato forte, que vem sendo atacado frontalmente por Garotinho (e mais discretamente por Ciro Gomes). Ambos tentam, obviamente, pôr em questão a credibilidade e o equilíbrio do controvertido governador mineiro, que tem fanáticos admiradores e ferrenhos adversários. E que se propala (não sem uma certa dose de razão) como o verdadeiro "pai" do Plano Real.

Mas, a rigor, nunca o PT teve tantas possibilidades de chegar ao poder como agora. O partido, que está completando 21 anos de existência, está mais maduro, mais experiente e muito mais escolado em matéria política. Ademais, vem enfrentando, e com sucesso, o teste de administrar importantes capitais do País (São Paulo, Porto Alegre, Belém e Recife) e três Estados da Federação (Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Acre). E de quebra, começa a convencer a classe média conservadora e os empresários de que não é o propalado "bicho de sete cabeças" esquerdista e que não quer implantar no País nenhum regime alheio às nossas tradições.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do jornal "Notícia Metropolitana", em 7 de julho de 2001).



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