Todos somos tripulantes
Pedro J.
Bondaczuk
A assinatura de um acordo entre as superpotências,
ocorrida em 8 de dezembro de 1987, em Washington, tão festejada por todos, mas
que somente diminuiu em 3% os fabulosos arsenais dos Estados Unidos e União Soviética,
não devem servir de motivo para que aqueles que lutam pela paz mundial e pela
sobrevivência do homem sobre a face da Terra, baixem a sua guarda.
Afinal, um estudo feito a pedido
do secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, em 1982, revelou que
naquele ano o poderio total dos armamentos atômicos então existentes
correspondia a cerca de um milhão de bombas equivalentes àquela lançada sobre
Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, ao cabo da Segunda Guerra Mundial. E desse
ano até 1987, nunca a corrida armamentista foi tão grande quanto no período.
Hoje, tal potencial pode estar até triplicado, a despeito do tratado
recém-firmado.
Nesta semana, quando se recorda o
43º ano da maior tragédia já provocada pelo ser humano desde o surgimento do
“homo sapiens” neste planeta, nada é mais prudente do que os amantes da paz não
se desmobilizarem.
Cerimônias alusivas à data serão
realizadas pelo mundo afora. E Campinas também terá uma, promovida pela
Associação Campineira de Ação Ecológica. Aliás, serão dois eventos. O primeiro
ocorre hoje, às 20 horas, no Salão Vermelho da Prefeitura Municipal. Será um
debate enfocando o tema “A Ameaça Nuclear e a Paz”, tendo como expositores o
repórter especial do jornal “O Estado de São Paulo”, Roberto Godoy, e os
físicos Laércio Fonseca e Amílcar Herrera.
É importante que muitas pessoas,
especialmente os jovens, que terão a seu encargo as condução do mundo de amanhã
(se os políticos de hoje deixarem, é óbvio) compareçam. Amanhã, por outro lado,
dia em que o mundo relembra, com pesar e com horror, as mais de 140 mil vítimas
do holocausto de Hiroshima, vai acontecer uma caminhada pela paz.
Ela irá sair do Largo das
Andorinhas, em frente à Escola Normal Carlos Gomes. Muitos podem pensar: “O que
eu tenho a ver com a corrida armamentista das superpotências? Como o meu
protesto isolado poderá contribuir para o desarmamento nuclear?”.
Mas não tenham dúvidas que se não
fossem atos como os que vão ocorrer hoje a amanhã em Campinas, as
superpotências jamais teriam assinado o acordo de Washington. É a força da
pressão popular. Nós somos seres humanos e temos que agir como tal. Não podemos
nos submeter estupidamente à morte, sem qualquer reação, como bois num
matadouro.
E, como observou um dia o
cientista que conseguiu colocar o primeiro astronauta na Lua, Werner von Braun:
“Na espaçonave Terra, não há lugar para passageiros. Todos somos tripulantes”. É como
tal que devemos agir.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 5
de agosto de 1988).
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