Wednesday, September 30, 2015

Todos somos tripulantes


Pedro J. Bondaczuk


A assinatura de um acordo entre as superpotências, ocorrida em 8 de dezembro de 1987, em Washington, tão festejada por todos, mas que somente diminuiu em 3% os fabulosos arsenais dos Estados Unidos e União Soviética, não devem servir de motivo para que aqueles que lutam pela paz mundial e pela sobrevivência do homem sobre a face da Terra, baixem a sua guarda.

Afinal, um estudo feito a pedido do secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, em 1982, revelou que naquele ano o poderio total dos armamentos atômicos então existentes correspondia a cerca de um milhão de bombas equivalentes àquela lançada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, ao cabo da Segunda Guerra Mundial. E desse ano até 1987, nunca a corrida armamentista foi tão grande quanto no período. Hoje, tal potencial pode estar até triplicado, a despeito do tratado recém-firmado.

Nesta semana, quando se recorda o 43º ano da maior tragédia já provocada pelo ser humano desde o surgimento do “homo sapiens” neste planeta, nada é mais prudente do que os amantes da paz não se desmobilizarem.

Cerimônias alusivas à data serão realizadas pelo mundo afora. E Campinas também terá uma, promovida pela Associação Campineira de Ação Ecológica. Aliás, serão dois eventos. O primeiro ocorre hoje, às 20 horas, no Salão Vermelho da Prefeitura Municipal. Será um debate enfocando o tema “A Ameaça Nuclear e a Paz”, tendo como expositores o repórter especial do jornal “O Estado de São Paulo”, Roberto Godoy, e os físicos Laércio Fonseca e Amílcar Herrera.

É importante que muitas pessoas, especialmente os jovens, que terão a seu encargo as condução do mundo de amanhã (se os políticos de hoje deixarem, é óbvio) compareçam. Amanhã, por outro lado, dia em que o mundo relembra, com pesar e com horror, as mais de 140 mil vítimas do holocausto de Hiroshima, vai acontecer uma caminhada pela paz.

Ela irá sair do Largo das Andorinhas, em frente à Escola Normal Carlos Gomes. Muitos podem pensar: “O que eu tenho a ver com a corrida armamentista das superpotências? Como o meu protesto isolado poderá contribuir para o desarmamento nuclear?”.

Mas não tenham dúvidas que se não fossem atos como os que vão ocorrer hoje a amanhã em Campinas, as superpotências jamais teriam assinado o acordo de Washington. É a força da pressão popular. Nós somos seres humanos e temos que agir como tal. Não podemos nos submeter estupidamente à morte, sem qualquer reação, como bois num matadouro.

E, como observou um dia o cientista que conseguiu colocar o primeiro astronauta na Lua, Werner von Braun: “Na espaçonave Terra, não há lugar para passageiros. Todos somos tripulantes”. É como tal  que devemos agir.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 5 de agosto de 1988).


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