Excluídos e privilegiados
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil sempre foi, parodiando o título de um livro
famoso de Euclides da Cunha, um país de “contrastes e confrontos”. Mas estas
contradições estão se acentuando com o passar do tempo, ao invés de diminuir.
Constituímos, hoje, uma das sociedades mais fechadas, em termos de mobilidade
social, do mundo, o que equivale dizer, nos situamos entre as mais injustas do
Planeta.
O cidadão topa com distorções absurdas a todo o
momento e não se faz nada para responsabilizar administradores incompetentes,
quando não gatunos rematados, travestidos de homens públicos.
Por exemplo,
há no Brasil, nos dias que correm, em torno de 32 milhões de famintos –
devem ser muito mais, embora essa cifra tenha sido fixada como a real, não se
sabe porque, já que em termos de estatísticas o País é uma calamidade – mas,
fazendo um revoltante contraponto, estimados US$ 5,4 bilhões em alimentos são
desperdiçados por ano.
Outra contradição? A educação. As escolas públicas
de primeiro e segundo grau, que deveriam ser modelares, pois significam a
formação básica do futuro cidadão, são, salvo raras e honrosas exceções,
calamitosas. Já as universidades do Estado constituem-se num primor de
qualidade, em termos de Terceiro Mundo, mas são freqüentadas, quase que
exclusivamente, por quem pode pagar.
Políticas desastrosas, para não dizer criminosas, e
um modelo econômico perverso fazem com que a base da pirâmide social, a dos
massacrados, dos excluídos da cidadania, dos deserdados da sorte, dos humilhados
e ofendidos, cresça desmesuradamente. No outro extremo, o topo, afina-se cada
vez mais.
O Estado brasileiro investe, em média, quatro vezes
mais na educação de um jovem de família rica do que na de um adolescente de
origem modesta. Para se tornar um “self-made man” no Brasil, a pessoa precisa
ser um fenômeno.
Os obstáculos que se interpõem em seu caminho são de
tal sorte, que o jovem pobre já parte para a vida com seu destino praticamente
traçado: a miséria compulsória. E ainda há quem negue que tenhamos
estratificação social no Brasil!
Como explicar isso para um moço (ou uma moça) cheio
de ideal, quando se desencanta, de cara, na procura do seu primeiro emprego? O
País precisa começar a mudar já por aí.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 22 de dezembro de 1993)
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