Saturday, September 12, 2015

Excluídos e privilegiados



Pedro J. Bondaczuk


O Brasil sempre foi, parodiando o título de um livro famoso de Euclides da Cunha, um país de “contrastes e confrontos”. Mas estas contradições estão se acentuando com o passar do tempo, ao invés de diminuir. Constituímos, hoje, uma das sociedades mais fechadas, em termos de mobilidade social, do mundo, o que equivale dizer, nos situamos entre as mais injustas do Planeta.

O cidadão topa com distorções absurdas a todo o momento e não se faz nada para responsabilizar administradores incompetentes, quando não gatunos rematados, travestidos de homens públicos.

Por exemplo,  há no Brasil, nos dias que correm, em torno de 32 milhões de famintos – devem ser muito mais, embora essa cifra tenha sido fixada como a real, não se sabe porque, já que em termos de estatísticas o País é uma calamidade – mas, fazendo um revoltante contraponto, estimados US$ 5,4 bilhões em alimentos são desperdiçados por ano.

Outra contradição? A educação. As escolas públicas de primeiro e segundo grau, que deveriam ser modelares, pois significam a formação básica do futuro cidadão, são, salvo raras e honrosas exceções, calamitosas. Já as universidades do Estado constituem-se num primor de qualidade, em termos de Terceiro Mundo, mas são freqüentadas, quase que exclusivamente, por quem pode pagar.

Políticas desastrosas, para não dizer criminosas, e um modelo econômico perverso fazem com que a base da pirâmide social, a dos massacrados, dos excluídos da cidadania, dos deserdados da sorte, dos humilhados e ofendidos, cresça desmesuradamente. No outro extremo, o topo, afina-se cada vez mais.

O Estado brasileiro investe, em média, quatro vezes mais na educação de um jovem de família rica do que na de um adolescente de origem modesta. Para se tornar um “self-made man” no Brasil, a pessoa precisa ser um fenômeno.

Os obstáculos que se interpõem em seu caminho são de tal sorte, que o jovem pobre já parte para a vida com seu destino praticamente traçado: a miséria compulsória. E ainda há quem negue que tenhamos estratificação social no Brasil!

Como explicar isso para um moço (ou uma moça) cheio de ideal, quando se desencanta, de cara, na procura do seu primeiro emprego? O País precisa começar a mudar já por aí.        

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de dezembro de 1993)


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