Determinação e competência
Pedro J. Bondaczuk
As
atenções nacionais, nos últimos dias, estão divididas entre a performance da
Seleção Brasileira na Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos e a introdução
da nova moeda, o Real. A torcida geral, evidentemente, é que ambos dêem certo.
É que o Brasil traga, finalmente, o tão sonhado tetra e que, na economia,
venhamos a derrotar a inflação. Estamos, portanto, com um olho na bola e outro
no bolso.
Mas
para que as duas coisas dêem certo, são exigidas duas atitudes comuns: garra e
competência. Uma sem a outra raramente é eficaz. Em qualquer espécie de
empreendimento, só poderemos ser bem sucedidos se tivermos determinação. Mas
esta, isoladamente, não basta.
É
preciso que ao lado da vontade de vencer haja o indispensável preparo, a
capacidade de fazer as coisas certas na hora apropriada. A Seleção Brasileira,
pelo menos no seu jogo de estréia, contra a Rússia, mostrou garra de sobejo.
Competência? Nem tanto!
O
time lutou, disputou bolas perdidas, correu os noventa minutos e agradou pela
disposição e pela seriedade. Porém mostrou muitas falhas, primordialmente no
meio do campo, onde faltaram criatividade, inspiração e talento.
E
no caso do Real? O programa apenas será bem sucedido se a maioria dos
brasileiros quiser. Quem, por razões políticas, ou em decorrência dessa falsa
esperteza, que na verdade é um ato de burrice, tão comum entre nós, tentar
sabotar deliberadamente a nova moeda, estará jogando contra o próprio
patrimônio.
Será
que os brasileiros sofreram uma nova interferência brutal em suas vidas, tendo
que fazer cálculos e mais cálculos e que refazer contratos, por absolutamente
nada? É preciso, portanto, determinação para o sucesso do programa, que se
pretende seja de longo prazo, embora haja expectativas de alguns resultados
positivos de imediato.
Mas
para que essa disposição não seja malbaratada e não redunde em outra
frustração, ou seja, num dispêndio inútil de esforço, se requer muita
competência da parte dos responsáveis pela implantação do Real, destacadamente
do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero e do presidente do Banco Central, Pedro
Malan. E ela precisa estar aliada à autodisciplina, ao cumprimento da promessa
de que o governo, doravante, apesar de haver uma campanha eleitoral nas ruas,
vai gastar rigorosamente apenas o que arrecada.
A
bem da verdade, até aqui a equipe econômica não tem decepcionado. À exceção da
conversão das mensalidades escolares para a Unidade Real de Valor, onde foi
atropelada pelo presidente Itamar Franco, agiu com ponderação, serenidade e
raro profissionalismo.
Sábia,
entre outras coisas, foi a decisão do ministro Ricupero, de vir periodicamente
a público, nesta fase de transição, na tentativa de evitar que a população seja
ludibriada por pessoas desonestas ou se torne massa de manobra dos partidários
do "quanto pior, melhor".
A
Seleção Brasileira terá que confirmar a sua determinação nos próximos jogos, em
especial na segunda fase da Copa, que é eliminatória, e mostrar maior
competência se quiser ganhar o tetra. Agilizar o meio de campo e fazer a bola
chegar no "matador" Romário, para que este defina as jogadas criadas.
O
mesmo vale em relação à equipe econômica, que vai enfrentar crescente
resistência de adversários políticos, à medida em que a campanha presidencial
esquentar e as eleições se aproximarem. A expectativa, a despeito do desencanto
que toma conta do País, é de que possamos, em 17 de julho próximo, festejar o
sonhado tetra e que a partir de agosto ou setembro a inflação caia abruptamente
para no máximo 3% mensais. Afinal, sonhar não paga imposto. Pelo menos não por
enquanto.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taqauaral, em 25 de junho de 1994).
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