Wednesday, September 16, 2015

Determinação e competência


Pedro J. Bondaczuk


As atenções nacionais, nos últimos dias, estão divididas entre a performance da Seleção Brasileira na Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos e a introdução da nova moeda, o Real. A torcida geral, evidentemente, é que ambos dêem certo. É que o Brasil traga, finalmente, o tão sonhado tetra e que, na economia, venhamos a derrotar a inflação. Estamos, portanto, com um olho na bola e outro no bolso.

Mas para que as duas coisas dêem certo, são exigidas duas atitudes comuns: garra e competência. Uma sem a outra raramente é eficaz. Em qualquer espécie de empreendimento, só poderemos ser bem sucedidos se tivermos determinação. Mas esta, isoladamente, não basta.

É preciso que ao lado da vontade de vencer haja o indispensável preparo, a capacidade de fazer as coisas certas na hora apropriada. A Seleção Brasileira, pelo menos no seu jogo de estréia, contra a Rússia, mostrou garra de sobejo. Competência? Nem tanto!

O time lutou, disputou bolas perdidas, correu os noventa minutos e agradou pela disposição e pela seriedade. Porém mostrou muitas falhas, primordialmente no meio do campo, onde faltaram criatividade, inspiração e talento.

E no caso do Real? O programa apenas será bem sucedido se a maioria dos brasileiros quiser. Quem, por razões políticas, ou em decorrência dessa falsa esperteza, que na verdade é um ato de burrice, tão comum entre nós, tentar sabotar deliberadamente a nova moeda, estará jogando contra o próprio patrimônio.

Será que os brasileiros sofreram uma nova interferência brutal em suas vidas, tendo que fazer cálculos e mais cálculos e que refazer contratos, por absolutamente nada? É preciso, portanto, determinação para o sucesso do programa, que se pretende seja de longo prazo, embora haja expectativas de alguns resultados positivos de imediato.

Mas para que essa disposição não seja malbaratada e não redunde em outra frustração, ou seja, num dispêndio inútil de esforço, se requer muita competência da parte dos responsáveis pela implantação do Real, destacadamente do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero e do presidente do Banco Central, Pedro Malan. E ela precisa estar aliada à autodisciplina, ao cumprimento da promessa de que o governo, doravante, apesar de haver uma campanha eleitoral nas ruas, vai gastar rigorosamente apenas o que arrecada.

A bem da verdade, até aqui a equipe econômica não tem decepcionado. À exceção da conversão das mensalidades escolares para a Unidade Real de Valor, onde foi atropelada pelo presidente Itamar Franco, agiu com ponderação, serenidade e raro profissionalismo.

Sábia, entre outras coisas, foi a decisão do ministro Ricupero, de vir periodicamente a público, nesta fase de transição, na tentativa de evitar que a população seja ludibriada por pessoas desonestas ou se torne massa de manobra dos partidários do "quanto pior, melhor".

A Seleção Brasileira terá que confirmar a sua determinação nos próximos jogos, em especial na segunda fase da Copa, que é eliminatória, e mostrar maior competência se quiser ganhar o tetra. Agilizar o meio de campo e fazer a bola chegar no "matador" Romário, para que este defina as jogadas criadas.

O mesmo vale em relação à equipe econômica, que vai enfrentar crescente resistência de adversários políticos, à medida em que a campanha presidencial esquentar e as eleições se aproximarem. A expectativa, a despeito do desencanto que toma conta do País, é de que possamos, em 17 de julho próximo, festejar o sonhado tetra e que a partir de agosto ou setembro a inflação caia abruptamente para no máximo 3% mensais. Afinal, sonhar não paga imposto. Pelo menos não por enquanto.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taqauaral, em 25 de junho de 1994).


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