Tuesday, September 29, 2015

A vida em perigo


Pedro J. Bondaczuk


A sobrevivência humana, quer no âmbito individual, quer no coletivo, sofre, constantemente, ameaças de toda a sorte. Estas vão desde os aspectos orgânicos da mãe, para reter o óvulo fertilizado, até sua vontade de gerar o novo ser que traz no ventre. Vão desde as decisões dos líderes políticos no que se refere à guerra ou à paz, até a possibilidade (sempre presente) de que uma catástrofe cósmica venha a destruir este pequeno e insólito planeta azul do Sistema Solar.

O historiador britânico, Arnold Toynbee, fez uma previsão extremamente pessimista em relação ao nosso futuro. Disse: “Se tivermos uma guerra nuclear, sobreviverão tão poucos, que a civilização não se poderá manter. Se não tivermos uma guerra nuclear, haverá tantos habitantes sobre a Terra que a vida se fará intolerável”.

Qual, então, é a opção para as gerações futuras, para aquelas crianças, por exemplo, que estão nascendo hoje, agora, neste presente instante, nos Estados Unidos, na União Soviética, no Brasil, na China, na Índia, em Bangladesh ou em Burkina Faso, entre outros lugares?

Depende, em primeiro lugar, de em qual desses países está nascendo. Se em uma sociedade desenvolvida, suas chances ainda são razoáveis, embora nem assim consigam escapar de uma infinidade de perigos, que vão desde a violência urbana, ao terrorismo e ao vício de drogas. Se vierem ao mundo em um dos tantos Estados carentes e economicamente inviáveis (a maioria dos que há no mundo), seu futuro será uma roleta russa.

Tanto esse bebê pode vir a conseguir chances de sobreviver aos críticos quatro anos iniciais de vida, obter recursos para se instruir e chegar (quem sabe) à liderança do seu povo, quanto ser aniquilado nos primeiros instantes de existência pelas implacáveis (e dolorosas) seqüelas da miséria, como a fome e as doenças decorrentes da ignorância dos pais acerca de práticas elementares de higiene.

Nada disso, entretanto, justifica os verdadeiros assassinatos em massa que se promovem diariamente (com o consentimento do Estado ou sem ele) em todo o mundo, mediante essa prática hedionda, denominada de aborto. E muito menos justifica a adoção dessa outra, mais abjeta e covarde ainda, chamada eutanásia, que muitos entendem como sendo a “morte piedosa”, como se houvesse piedade em extirpar a vida de seres indefesos que, mesmo doentes, se apegam, teimosamente, a essa experiência ao mesmo tempo traumatizante e fascinante, a essa aventura ímpar que temos a oportunidade de gozar.

A superpopulação é apenas um dos tantos desafios que este ser inteligente tem que encarar com coragem e com determinação. Caminhos, certamente, existem, desde que se elaborem políticas sérias, responsáveis e coerentes voltadas para a preservação (e nunca para a destruição) do homem.

Desde que  enfoque da destinação de recursos seja o correto, diferente do atual, quando apenas os Estados Unidos pretendem despender US$ 3,1 trilhões para o mero estudo da viabilidade de um fantasioso escudo espacial, que o seu presidente, Ronald Reagan, chama de Iniciativa de Defesa Estratégica, mas que a imprensa já se acostumou a tratar de “guerra nas estrelas”. Como se nota, o atual enfoque internacional é mórbido, e não vital.

Como a criatura pode se rebelar contra seu Criador e pretender modificar a sua obra? Ela foi dotada de inteligência exatamente para se defender, em circunstâncias como esta, representada pela superpopulação mundial.

É evidente que um problema de tamanha magnitude não pode ter uma solução tão simplista (e absurda) como o morticínio em massa de crianças, de adultos, de velhos ou de meros embriões, não importa! É isso o que se está fazendo hoje. Repete-se o mesmo procedimento criminoso de Adolf Hitler em relação a judeus e a deficientes. Ou seja, eliminam-se essas pessoas, pura e simplesmente, como se fosse a providência mais natural e mais lógica. Claro que não é!

O processo (monstruoso) de decidir quem deve viver e quem não é uma das maiores aberrações já praticadas pelo homem desde a sua criação. A ninguém cabe, e nem pode caber, essa prerrogativa, que fere todas as normas do bom-senso e os princípios morais e legais existentes.

Há caminhos e mais caminhos, que não este, para conciliar disponibilidade de espaço e de recursos do Planeta com a quantidade de pessoas que nele há. São alternativas lógicas, humanas e coerentes, de promoção do bem-estar geral, sem discriminações de quaisquer espécies. Requerem, somente, vontade política para que sejam seguidos e nada mais.

Um deles é a educação, mas no sentido amplo, permitindo que todos conhecessem, por exemplo, a real função sexual, como opção procriadora, de perpetuação da espécie, e jamais (como agora) de mero objeto de diversão e de perversão.

Outra alternativa é a adaptação do ser humano a outros planetas ou seus satélites, o que não é tão impossível quanto muitos imaginam. Há, claro, várias outras saídas, arrojadas, mas teoricamente factíveis para pessoas inteligentes e dotadas de iniciativa. Afinal, não foi para nada que fomos dotados pela natureza desta capacidade ímpar de pensar e de entender o que se passa ao nosso redor.

O que é inconcebível é essa “solução final”, ao estilo nazista, que nada soluciona, praticada, hoje em dia, no mundo todo e que suprime, anualmente, em torno de 76 milhões de vidas, de pessoas indefesas, de seres que, se corretamente educados e devidamente apoiados, poderiam redimir a Terra com a força da sua inteligência.

(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 3 de maio de 1987).


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