A vida em perigo
Pedro J.
Bondaczuk
A sobrevivência humana, quer no âmbito individual, quer no
coletivo, sofre, constantemente, ameaças de toda a sorte. Estas vão desde os
aspectos orgânicos da mãe, para reter o óvulo fertilizado, até sua vontade de
gerar o novo ser que traz no ventre. Vão desde as decisões dos líderes
políticos no que se refere à guerra ou à paz, até a possibilidade (sempre
presente) de que uma catástrofe cósmica venha a destruir este pequeno e
insólito planeta azul do Sistema Solar.
O historiador britânico, Arnold
Toynbee, fez uma previsão extremamente pessimista em relação ao nosso futuro.
Disse: “Se tivermos uma guerra nuclear, sobreviverão tão poucos, que a
civilização não se poderá manter. Se não tivermos uma guerra nuclear, haverá
tantos habitantes sobre a Terra que a vida se fará intolerável”.
Qual, então, é a opção para as
gerações futuras, para aquelas crianças, por exemplo, que estão nascendo hoje,
agora, neste presente instante, nos Estados Unidos, na União Soviética, no
Brasil, na China, na Índia, em Bangladesh ou em Burkina Faso, entre outros
lugares?
Depende, em primeiro lugar, de em
qual desses países está nascendo. Se em uma sociedade desenvolvida, suas
chances ainda são razoáveis, embora nem assim consigam escapar de uma infinidade
de perigos, que vão desde a violência urbana, ao terrorismo e ao vício de
drogas. Se vierem ao mundo em um dos tantos Estados carentes e economicamente
inviáveis (a maioria dos que há no mundo), seu futuro será uma roleta russa.
Tanto esse bebê pode vir a
conseguir chances de sobreviver aos críticos quatro anos iniciais de vida,
obter recursos para se instruir e chegar (quem sabe) à liderança do seu povo,
quanto ser aniquilado nos primeiros instantes de existência pelas implacáveis
(e dolorosas) seqüelas da miséria, como a fome e as doenças decorrentes da
ignorância dos pais acerca de práticas elementares de higiene.
Nada disso, entretanto, justifica
os verdadeiros assassinatos em massa que se promovem diariamente (com o
consentimento do Estado ou sem ele) em todo o mundo, mediante essa prática
hedionda, denominada de aborto. E muito menos justifica a adoção dessa outra,
mais abjeta e covarde ainda, chamada eutanásia, que muitos entendem como sendo
a “morte piedosa”, como se houvesse piedade em extirpar a vida de seres
indefesos que, mesmo doentes, se apegam, teimosamente, a essa experiência ao
mesmo tempo traumatizante e fascinante, a essa aventura ímpar que temos a
oportunidade de gozar.
A superpopulação é apenas um dos
tantos desafios que este ser inteligente tem que encarar com coragem e com
determinação. Caminhos, certamente, existem, desde que se elaborem políticas
sérias, responsáveis e coerentes voltadas para a preservação (e nunca para a
destruição) do homem.
Desde que enfoque da destinação de recursos seja o
correto, diferente do atual, quando apenas os Estados Unidos pretendem
despender US$ 3,1 trilhões para o mero estudo da viabilidade de um fantasioso
escudo espacial, que o seu presidente, Ronald Reagan, chama de Iniciativa de
Defesa Estratégica, mas que a imprensa já se acostumou a tratar de “guerra nas
estrelas”. Como se nota, o atual enfoque internacional é mórbido, e não vital.
Como a criatura pode se rebelar
contra seu Criador e pretender modificar a sua obra? Ela foi dotada de inteligência
exatamente para se defender, em circunstâncias como esta, representada pela
superpopulação mundial.
É evidente que um problema de
tamanha magnitude não pode ter uma solução tão simplista (e absurda) como o
morticínio em massa de crianças, de adultos, de velhos ou de meros embriões,
não importa! É isso o que se está fazendo hoje. Repete-se o mesmo procedimento
criminoso de Adolf Hitler em relação a judeus e a deficientes. Ou seja,
eliminam-se essas pessoas, pura e simplesmente, como se fosse a providência
mais natural e mais lógica. Claro que não é!
O processo (monstruoso) de
decidir quem deve viver e quem não é uma das maiores aberrações já praticadas
pelo homem desde a sua criação. A ninguém cabe, e nem pode caber, essa
prerrogativa, que fere todas as normas do bom-senso e os princípios morais e
legais existentes.
Há caminhos e mais caminhos, que
não este, para conciliar disponibilidade de espaço e de recursos do Planeta com
a quantidade de pessoas que nele há. São alternativas lógicas, humanas e coerentes,
de promoção do bem-estar geral, sem discriminações de quaisquer espécies.
Requerem, somente, vontade política para que sejam seguidos e nada mais.
Um deles é a educação, mas no
sentido amplo, permitindo que todos conhecessem, por exemplo, a real função
sexual, como opção procriadora, de perpetuação da espécie, e jamais (como
agora) de mero objeto de diversão e de perversão.
Outra alternativa é a adaptação
do ser humano a outros planetas ou seus satélites, o que não é tão impossível
quanto muitos imaginam. Há, claro, várias outras saídas, arrojadas, mas
teoricamente factíveis para pessoas inteligentes e dotadas de iniciativa.
Afinal, não foi para nada que fomos dotados pela natureza desta capacidade
ímpar de pensar e de entender o que se passa ao nosso redor.
O que é inconcebível é essa
“solução final”, ao estilo nazista, que nada soluciona, praticada, hoje em dia,
no mundo todo e que suprime, anualmente, em torno de 76 milhões de vidas, de
pessoas indefesas, de seres que, se corretamente educados e devidamente
apoiados, poderiam redimir a Terra com a força da sua inteligência.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 3
de maio de 1987).
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