Wednesday, September 09, 2015

Que se solte os dois Terrys



Pedro J. Bondaczuk



A crise dos reféns no Líbano, meio a "conta-gotas", vai adquirindo uma solução. Depois de haverem libertado o professor Robert Polhill, em 22 de abril passado, as organizações islâmicas pró-Irã, que detêm ocidentais em seu poder, soltaram, ontem, outro norte-americano, mantido em cativeiro desde setembro de 1986. Trata-se de Frank Reed, de 57 anos, que até ser capturado em Beirute era o diretor da Escola Internacional Libanesa. Coincidência ou não, esse gesto de boa vontade ocorre dois dias depois do presidente sírio, Hafez Assad, ter ido a Moscou, conferenciar com o presidente soviético, Mikhail Gorbachev. É verdade que ainda é muito cedo para se fazer festa, pois há 16 reféns ocidentais em mãos de extremistas libaneses. Mas agora, pelo menos, o processo é inverso ao de até 1988. Ao invés de ocorrerem novos seqüestros, os grupos xiitas estão soltando os cativos que têm.

Nós, particularmente, estamos ansiosos pela libertação de duas pessoas, ambas por coincidência com o mesmo nome. Uma é o correspondente da agência "The Associated Press" para o Oriente Médio, Terry Anderson, cujo cativeiro já dura mais de cinco anos. Trata-se de um jornalista, que estava em pleno exercício de sua profissão, quando acabou sendo estupidamente privado de sua liberdade. O outro é o enviado do arcebispo da Igreja Anglicana para o Líbano. Terry Waite, que foi para a região sob a garantia de imunidade por parte dos seqüestradores, rompida de forma inexplicável por eles em 20 de janeiro de 1987, quando se encontrava, inclusive, sob a guarda dos drusos chefiados por Walid Jumblat.

Notícias as mais desencontradas circulam acerca do destino desse refém. Já houve quem dissesse que ele foi morto, ao tentar fugir de seus captores. Outros garantiram que ele está ileso, no Vale do Bekkaa, região do Leste libanês sob o controle da Síria. Alguns garantiram que o representante de Robert Runcie foi trasladado para Teerã. Enfim, versões não faltaram acerca do destino de Waite, um homem corajoso, controlado e muito sensato, precioso demais para ser perdido sem mais e nem menos. Embora os Estados Unidos neguem, devem estar sendo realizadas intensas negociações de bastidores. Apesar dos dois cativos soltos em abril serem importantes --- todos eles são --- politicamente, os dois "trunfos" maiores são os que nós citamos acima.

Oxalá eles possam voltar brevemente para o aconchego das suas famílias e que seja posto um final num dos episódios mais cruéis da crise que vem empolgando o Oriente Médio desde o pós-guerra, cujo momento culminante foi protagonizado a partir de abril de 1975, quando da eclosão do conflito civil libanês, seguido da volta do aiatolá Ruhollah Khomeini a Teerã, em princípios de 1979, para estabelecer a sua República Islâmica no Irã.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 01 de maio de 1990)


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