Que se solte os dois Terrys
Pedro J. Bondaczuk
A
crise dos reféns no Líbano, meio a "conta-gotas", vai adquirindo uma
solução. Depois de haverem libertado o professor Robert Polhill, em 22 de abril
passado, as organizações islâmicas pró-Irã, que detêm ocidentais em seu poder,
soltaram, ontem, outro norte-americano, mantido em cativeiro desde setembro de
1986. Trata-se de Frank Reed, de 57 anos, que até ser capturado em Beirute era
o diretor da Escola Internacional Libanesa. Coincidência ou não, esse gesto de
boa vontade ocorre dois dias depois do presidente sírio, Hafez Assad, ter ido a
Moscou, conferenciar com o presidente soviético, Mikhail Gorbachev. É verdade
que ainda é muito cedo para se fazer festa, pois há 16 reféns ocidentais em
mãos de extremistas libaneses. Mas agora, pelo menos, o processo é inverso ao
de até 1988. Ao invés de ocorrerem novos seqüestros, os grupos xiitas estão
soltando os cativos que têm.
Nós,
particularmente, estamos ansiosos pela libertação de duas pessoas, ambas por
coincidência com o mesmo nome. Uma é o correspondente da agência "The
Associated Press" para o Oriente Médio, Terry Anderson, cujo cativeiro já
dura mais de cinco anos. Trata-se de um jornalista, que estava em pleno
exercício de sua profissão, quando acabou sendo estupidamente privado de sua
liberdade. O outro é o enviado do arcebispo da Igreja Anglicana para o Líbano.
Terry Waite, que foi para a região sob a garantia de imunidade por parte dos
seqüestradores, rompida de forma inexplicável por eles em 20 de janeiro de
1987, quando se encontrava, inclusive, sob a guarda dos drusos chefiados por
Walid Jumblat.
Notícias
as mais desencontradas circulam acerca do destino desse refém. Já houve quem
dissesse que ele foi morto, ao tentar fugir de seus captores. Outros garantiram
que ele está ileso, no Vale do Bekkaa, região do Leste libanês sob o controle
da Síria. Alguns garantiram que o representante de Robert Runcie foi trasladado
para Teerã. Enfim, versões não faltaram acerca do destino de Waite, um homem
corajoso, controlado e muito sensato, precioso demais para ser perdido sem mais
e nem menos. Embora os Estados Unidos neguem, devem estar sendo realizadas
intensas negociações de bastidores. Apesar dos dois cativos soltos em abril
serem importantes --- todos eles são --- politicamente, os dois
"trunfos" maiores são os que nós citamos acima.
Oxalá
eles possam voltar brevemente para o aconchego das suas famílias e que seja
posto um final num dos episódios mais cruéis da crise que vem empolgando o
Oriente Médio desde o pós-guerra, cujo momento culminante foi protagonizado a
partir de abril de 1975, quando da eclosão do conflito civil libanês, seguido
da volta do aiatolá Ruhollah Khomeini a Teerã, em princípios de 1979, para
estabelecer a sua República Islâmica no Irã.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 01 de maio de
1990)
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