Educação
e política populacional
Pedro J. Bondaczuk
A Cidade do México, cuja área metropolitana tem 17
milhões de habitantes e cujo crescimento demográfico, a continuar nas atuais
taxas, fará com que ela se torne, nos próximos quinze anos e meio, o maior
aglomerado humano do Planeta, com 40 milhões de pessoas, recepciona, desde
segunda-feira, delegados de mais de 150 países para debater um tema muito
importante.
É que, após dez anos da realização do último
encontro dessa natureza, ocorrido em Bucareste, na Romênia, teve início a
Conferência Internacional das Nações Unidas Sobre População. E o tema
predominante no evento é sobre os meios e recursos para conter a inexorável e
insensata explosão demográfica, que afeta, em maior ou menor medida, a vida de todos
os habitantes do mundo.
A tese que nós, modestamente, esposamos, ou seja, a
de que a educação é o maior dos anticoncepcionais, parece que não está incluída
na pauta desse encontro. Mas ela está diretamente ligada à questão e terá, mais
cedo ou mais tarde, que ser considerada, se o objetivo for um planejamento
populacional sério e maduro.
Analisemos, juntos, alguns dados concretos. Tomemos,
por exemplo, cinco países pobres e cinco ricos de cada continente: Bangladesh,
Alto Volta, Haiti, Bolívia, Portugal, EUA, Suécia, URSS, África do Sul e
Venezuela. As respectivas taxas de nascimentos, em cada grupo de mil pessoas,
são: 44; 47,8; 35; 44,8; 16,3; 11,7; 18,3; 37,9 e 36,4.
Os mais altos índices demográficos dessa relação
são, pela ordem, do Alto Volta (47,8), Bolívia (44,8), Bangladesh (44), África
do Sul (37,9, considerando, também, a população negra), Venezuela (36,4) e
Haiti (35).
Coincidência ou não, estes são exatamente os países,
quase que na mesma ordem, com os maiores percentuais de analfabetos da relação
tomada. Compare: Bangladesh, 80%; Alto Volta, 93%; Haiti, 80%; Bolívia, 40%;
África do Sul, 40% (entre a população negra, pois entre a branca praticamente
inexiste) e Venezuela, 18%.
Será mera coincidência essa correlação de natalidade
com falta de instrução? É claro que não! Portanto, se houver a intenção séria
de se realizar um programa de planejamento familiar consistente e que realmente
funcione, é indispensável um investimento enorme em educação. E os recursos
para isso devem vir dos países ricos, que ainda não perceberam que em certa
medida também acabam afetados com a “bomba demográfica”, pois o bolo alimentar
mundial, embora grande, a cada dia ganha novos parceiros para consumi-lo. E as
fatias já não estão sendo suficientes para todos.
São inúteis os programas de esterilização em massa,
que de forma encoberta (por serem atentatórios aos mínimos princípios éticos e
de respeito à dignidade humana), estão sendo aplicados há muito tempo, não
diretamente por governos, mas por entidades acobertadas sob a fachada de
organizações religiosas.
A Índia, através do seu governo, tomou esse tipo de
providência, na década de 60. Equipes percorreram aquele vasto país de ponta a
ponta, praticando vasectomia em jovens que não dispusessem de recursos e nem de
instrução. Como chamariz, usava-se a doação de rádios de pilha, como
compensação pela mutilação a que essas pessoas se submetiam.
A questão, na época, gerou enorme polêmica e houve
até quem defendesse a providência. Pois bem, esse programa, segundo
estimativas, tornou estéreis cerca de 200 mil indianos, potentes e em idade de
procriar. Mas a taxa de natalidade do país não baixou. Ao contrário, continuou
crescente, situando aquela sociedade nacional, cujos recursos (não é segredo
para ninguém) são muito pequenos, como a segunda população mundial, abaixo,
somente, da China, com seus 1,1 bilhão de habitantes.
Se as verbas gastas para esterilizar tanta gente,
utilizando o artifício imoral do engodo, fosse aplicada em educação, a Índia
não sairia lucrando?! Além dos chefes de família entenderem que colocando no
mundo mais pessoas do que os seus recursos davam para manter, lhes seria nocivo
e afetaria a mais gente, que não apenas eles próprios, esses indivíduos
adquiririam maior potencial produtivo. A soma desses potenciais faria da Índia
um país respeitável, poderoso, criativo, com condições, inclusive, de situar-se
entre os de maior desenvolvimento no mundo moderno.
Aliás, a Casa Branca divulgou a posição
norte-americana a respeito do controle de natalidade não espontâneo. Os Estados
Unidos opõem-se, firmemente, a qualquer tipo de coerção para se evitar filhos
e, principalmente, a processos compulsórios de esterilização em massa e ao
aborto, prática repugnante que, na verdade, não passa de um homicídio doloso,
intencional, traiçoeiro e por motivo torpe.
Resta, agora, que tomem, também, uma posição
coerente, no sentido de financiar (afinal, mais do que ninguém, essa
superpotência tem todas as condições para isso) programas intensivos e
permanentes de alfabetização no Terceiro Mundo.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 12 de agosto de 1984)
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