Saturday, December 06, 2014

Vida exemplar de magnífica figura

Pedro J. Bondaczuk

Há pessoas exemplares que admiramos e até veneramos, mas que jamais tivemos a mais remota chance de manter contato pessoal com elas. Salvo engano, estas são maioria. Em geral, viveram antes mesmo do nosso nascimento, não raro nos antecederam em séculos ou milênios. Conhecemos suas vidas, admiramos seus feitos, nos extasiamos com suas virtudes, mas tudo mediante, apenas, leitura de suas biografias. Há, também, as que igualmente julgamos dignas de imitação e reverência, que vimos uma vez ou outra ocasionalmente (ou pela televisão, ou mesmo pessoalmente), mas com as quais não tivemos nenhum contato pessoal, sequer troca de cumprimento. São admiráveis, mas essa admiração, posto que profunda e sincera, é um tanto, digamos, distanciada. É neutra e impessoal.

Todavia, vez ou outra, a vida nos proporciona a oportunidade de não somente conhecer pessoas notáveis, dignas de imitação e reverência, mas de ter certo convívio com elas, mesmo que ocasional. É privilégio raro, bênção, presente dos céus, mas, embora difícil de acontecer, às vezes acontece. Comigo aconteceu. Refiro-me ao jurista (juiz aposentado), artista de múltiplas artes (sobretudo escritor, com 96 livros publicados) e figura humana de extrema sensibilidade e bondade, Francisco Fernandes Araújo. Tive a honra de conhecê-lo quando era editor de Opinião do jornal Correio Popular de Campinas. Ele levava, pessoalmente, seus excelentes e esclarecedores artigos praticamente todas as semanas, oportunidade em que mantínhamos longas e profícuas conversações sobre política, economia, literatura e a vida com suas complexidades. Para mim, aqueles momentos foram preciosos, esclarecedores e inesquecíveis. À admiração que já nutria por essa figura maiúscula e singular, veio juntar-se, automática e espontaneamente, profundo afeto, que é o que sinto hoje por essa personalidade admirável.     

Conheci, na oportunidade, detalhes esparsos de sua vida e trajetória pública, tanto mediante essas conversas que tanto me enriqueceram, quanto através de terceiros, que falavam com entusiasmo e admiração de Francisco Fernandes Araújo, além de escreverem cartas e artigos a seu respeito. E esse conhecimento aprofundou-se e consolidou-se ainda mais em maio deste ano, quando fui brindado com sua autobiografia, intitulada “Meu nome é Francisco... Você me conhece?” Dia desses recebi o complemento dessa narrativa, intitulado “Pedacinhos de saudade dos caminhos que eu andei...”, contendo artigos, crônicas, cartas, ofícios e e-mails de pessoas a que ele impressionou tanto quanto a mim e que manifestaram essa impressão e encantamento, como eu já fiz anteriormente e como torno a fazer agora.

É questão de justiça e até de inteligência que, em um mundo tão violento, corrupto e injusto, como o desta dramática época que vivemos, tragamos à baila exemplos de retidão, justiça, talento criativo e solidariedade, para servirem de exemplo, de parâmetro, de guia de conduta às novas gerações.   Quanto à pergunta contida em parte do título de sua autobiografia, “Você me conhece?...”, reitero o que escrevi na oportunidade em que recebi e acabei de ler este livro: “Conheço sim, mestre, por sua competência como juiz íntegro e justo, responsável por ministrar justiça. Conheço sim, como escritor que fala não apenas ao intelecto, mas à alma. Conheço sim como homem generoso, que já doou mais de uma centena de milhar de livros ao público, estimulando pessoas a lerem. Conheço, sim, como poeta, que motiva e comove. Conheço, sobretudo, como amigo leal e confiável, desses que consideramos como almas gêmeas.

A propósito da sua veia poética, partilho com você, amável leitor, este curto, posto que expressivo e revelador poema de Francisco Fernandes Araújo, que ilustra a contracapa do livro “Pedacinhos de saudade dos caminhos que eu andei...”:

“Pelos caminhos plantei esperanças,
Pessoas me doaram corações...
Neles eu me abracei, fiz alianças,
Muitas alegrias, recordações...

Mas também eu plantei muitos carinhos,
Promovi justiça, o bem, igualdade...
Deixei meu coração pelos caminhos,
Herdando pedacinhos de saudade”

Depois de ler e reler a autobiografia de Francisco Fernandes Araújo, reitero, palavra por palavra, o que escrevi num artigo publicado no Correio Popular de Campinas em 26 de março de 1993, sobretudo a forma como encerrei esse texto: “(...) pelo que tenho sabido do juiz-poeta, através de seus amigos e muitos admiradores, sua obra mais representativa não está no exercício da magistratura ou na literatura, embora as exerça com brilhantismo. O trabalho mais notável desse exemplar homem público, que se constitui num poema maiúsculo, é a sua vida, carregada de exemplo! O doutor Lair Ribeiro observou, num de seus livros: ‘o segredo de um bom comunicador não é ser interessante, é ser interessado. E de comunicação, o juiz-poeta é um mestre com louvor”.


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