Quantidade
com qualidade
Pedro J. Bondaczuk
A
educação no País, embora tenha apresentado inegável avanço quantitativo nos
últimos anos, ainda carece de padrão de
qualidade minimamente próximo do ideal, que, convenhamos, ainda não tem. Isso é
reconhecido tanto por pais, quanto por autoridades, docentes, alunos
etc.etc.etc. Há, por exemplo, escolas públicas ótimas, assim como há as
regulares, as ruins e até as péssimas. Diga-se de passagem, o mesmo acontece em
relação às instituições de ensino particulares, posto que em menor quantidade..
O
desenvolvimento e o progresso de um país estão diretamente ligados à educação
de seus cidadãos. Isso é consenso. Não há uma única pessoa que se atreva a
negar, pelo menos publicamente, essa necessidade. Ela é para lá de óbvia.
Melhorar a educação, portanto, destinar verbas e recursos humanos para a sua
concretização, são medidas prioritárias, atreladas à própria sobrevivência de
um país. O fato é que o Brasil carece, ainda, de uma reforma inteligente e eficiente
nesse campo que, principalmente, resgate a escola pública, lhe dando a
desejável qualidade que já teve um dia e que, por uma razão ou por outra, se
perdeu. É certo que não se pode generalizar. Mas...
Para
que a qualidade do ensino seja implantada, é preciso, antes de tudo, que a
principal peça de todo o sistema, o professor, seja encarada de forma muito
diversa da atual. Que seja prestigiada, valorizada e, sobretudo, remunerada com
justiça dada sua imensa responsabilidade, que é a de formar a mentalidade do
brasileiro de amanhã. As rápidas transformações, ditadas pela evolução
tecnológica – em especial a das comunicações – mudando o enfoque do trabalho,
fechando empregos e abrindo perspectivas promissoras em outros setores ainda a
serem explorados (como os da informação e das artes), exigem revisão criteriosa
no conceito e na maneira de tratar o ensino e seu principal agente.
Os
currículos, por exemplo, precisam ser adaptados, a filosofia da educação tem
que ser revista para se adequar às atuais necessidades e o acesso ao
conhecimento tem que ser o mais
universal possível, para que não se estabeleçam "castas", como ainda
ocorre. É certo que muito já foi feito nesse sentido, mas, ainda, é
insuficiente. Estas exigências contemporâneas impõem, acima de tudo, novo tipo de professor. O mestre não pode
mais se limitar àquele papel convencional que todos conhecemos, de mero
transmissor de informações que qualquer garoto obtém, hoje, sem nenhuma
dificuldade, na Internet.
Sua
tarefa passa a ser a de estimular o raciocínio dos alunos. Ou seja, a de
"ensiná-lo" a pensar, fornecendo-lhe indicações de como fazer para
disciplinar o pensamento, despertando a criatividade latente que certamente
traz dentro de si. No entanto, embora crescentemente exigido, o "novo professor"
(se é que já exista) continua às voltas com velhos problemas, impedindo que se
recicle e se atualize para fazer frente aos desafios que os tempos atuais lhe
impõem. O maior deles, embora longe de ser o único, é, óbvio, o de como prover
a própria existência, diante dos salários irrisórios, para não dizer indignos,
que ainda recebe. Essa erosão salarial, ao contrário do que se supõe, não é
prerrogativa brasileira. Aliás, no Brasil, pelo menos, se vislumbra uma
possibilidade (talvez ainda remota) de revalorização do magistério.
No
boletim mensal do Centro de Informação das Nações Unidas, "ONU em
Foco", referente a setembro de 1994 – portanto de vinte anos atrás – a
situação dos professores no mundo, de então, foi enfatizada em um texto
intitulado "Trabalho Duro". O redator da referida matéria destacou
que os salários dos docentes haviam chegado a um ponto "intoleravelmente
baixo", com base em dados da Organização Internacional do Trabalho. O
informativo citava relatório da OIT onde eram enfatizados exemplos sobre
profundo achatamento salarial dos mestres, sobretudo na África e na Ásia, mas
também em países da América Latina. Um dos casos mencionados era o da
Argentina. No país vizinho, os salários dos professores equivaliam, em 1993
(data do levantamento), à metade dos que eram recebidos em 1981.
Nos
vinte anos que se passaram após esse estudo a situação praticamente não mudou.
Não, pelo menos, paras melhor. Em muitos casos, até piorou, em vários países. A
Organização Internacional do Trabalho enfatizou que a erosão salarial era a
regra, não a exceção, em todo o chamado Terceiro Mundo, justamente a região do
Planeta mais carente de educação (e de saúde, energia, emprego etc.) sem a qual
é impossível a saída do subdesenvolvimento econômico e, por conseqüência,
social. E continua sendo assim.
A
primeira conseqüência da baixa remuneração é a evasão dos profissionais do
ensino para outras atividades mais rentáveis. O magistério tornou-se, em muitos
lugares, mero "bico" de estudantes universitários, que dão aulas
apenas para suplementar o orçamento e garantir pequenas despesas pessoais,
enquanto cursam faculdade. Isso, pelo que sei, ocorre, também, e com bastante
freqüência, também no Brasil. Não deveria ocorrer;
Há
consenso nacional, reitero, de que a solução dos problemas brasileiros passa,
necessariamente, pela educação. E passa mesmo. Mas não se trata só de questão
de quantidade, mas, também, e principalmente, de qualidade. Para isso, é
preciso que haja padrão mínimo de excelência, que atualmente não existe. Essa
deve ser meta brasileira: ensino de "qualidade" e para todos os
brasileiros, de 7 a 14 anos. A escola pública no Brasil foi, até meados dos
anos 60 do século XX, referência de qualidade. Havia até certa distorção em seu
acesso. Destinada às pessoas que não podiam pagar, era freqüentada, em sua
maioria, por alunos de famílias da classe média.
Com
o tempo, em decorrência do desestímulo ao magistério, sobretudo por causa dos
salários irrisórios, sofreu rápida e severa deterioração. A qualidade de ensino
decaiu e o perfil dos alunos mudou. As famílias de classe média passaram a
matricular os filhos em escolas particulares, apesar do sacrifício que a
despesa implicava (e ainda implica). É preciso que se façam investimentos
maciços na educação, e quanto mais, melhor. Mas não apenas em novas unidades
escolares, mas em tudo o que se refira ao ensino. A “quantidade” é importante,
sim, para satisfazer a demanda, mas mais do que ela, é indispensável que se
invista, simultaneamente, em “qualidade”. Esse é um setor em que não se pode
“economizar” (aliás, nem há como). Um governo que se recuse a construir
escolas, ou as construa em número insuficiente, ou não dê condições para um
ensino crescentemente melhor, fatalmente, em pouquíssimo tempo, terá que fazer
inversões muitíssimo maiores, de grande
porte, em penitenciárias que são, ao fim e ao cabo, meros “males necessários”.
Ou não são?!
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