De volta a um assunto
que assusta e fascina
Pedro
J. Bondaczuk
A Terra é “bombardeada”
sem cessar, todos os dias, por séculos, milênios, por milhões (quiçá bilhões)
de anos, sem que na imensa maioria dos casos sequer percebamos. Antes que me
questionem, me apresso em dizer que não se trata de nenhum ataque de
alienígenas. Aliás, até que me provem o contrário, não creio que eventuais
seres vivos de fora do nosso planeta – se é que existam e, sobretudo, se é que
sejam tão inteligentes ao ponto de empreenderem viagens cósmicas – já tenham ao
menos passado nos arredores do nosso lar espacial. Essa história de homenzinhos
verdes (ou seja lá qual for sua cor), é conversa para boi dormir, embora haja
milhões e milhões, ao redor do mundo, que acreditem nessas balelas. Bem, mas
meu tema de hoje não é este.
Sei que estou sendo
repetitivo, pois tratei desse assunto ainda muito recentemente. A culpa, no
entanto, não é minha. É de algumas dezenas de leitores que praticamente exigem
que eu escreva mais a propósito. Gosto tanto desse tipo de tema que, por mim,
escreveria não só meia dúzia de crônicas, ou outro tanto de ensaios, mas
redigiria um livro. Ou, quem sabe, mais de um. Não se assuste, todavia, quem
não gosta do assunto. Não farei isso. Não, pelo menos, neste espaço, voltado à
Literatura. Todavia, como pedido de leitor para mim é uma ordem (e juro que não
estou fazendo média), proponho-me a trazer-lhes mais alguns dados a propósito,
com base em uma edição já antiga da revista especializada em astronomia, “Sky &
Telescope”, de fevereiro de 1994. A publicação data, pois, de duas décadas. Cá
para nós: como vinte anos passam depressa, não é mesmo?!!?
A matéria da referida
revista enfatiza que a imensa maioria (coisa de 99% ou mais) dos dejetos que
atingem a Terra, há tanto tempo, sem cessar, é tão minúscula que chega ao solo
(ou aos oceanos) na forma de finíssima partícula de pó. Nem a mais zelosa e
maníaca dona de casa é capaz de percebê-la. Todavia, de vez em quando
(felizmente, muito de vez em quando), um bólido um tanto quanto maior, é
capturado pela gravidade do nosso planeta. Aí... Dependendo da sua dimensão,
chegará ao solo como pedrinha comum, que não gerará conseqüências.
Os grandões foram (pelo
menos até aqui) raros. Atribui-se a um deles, que teria chegado ao chão com
tamanho considerável e que teria atingido a Terra há 65 milhões de anos, seria
o responsável pela extinção de 90% das espécies vivas então existentes, entre
elas os dinossauros. Coloco tudo isso no condicional por motivos óbvios. Não
testemunhei a catástrofe (que de fato ocorreu, mas cuja época e cujas
conseqüências foram, no meu entender, frutos somente de especulação, mas...
deixa pra lá).
Todavia, nem todo
bólido mais avantajado chega ao solo. Depende da matéria que o compõe. Nem por
isso, esse evento é necessariamente menos catastrófico. A matéria da revista
“Sky & Telescope” ressalva: “Bólidos provenientes das profundezas do
universo, dependendo do tamanho, natureza e velocidade, ao explodir, mesmo que
na atmosfera, podem causar enorme devastação na Terra”. E não raro, eles
explodem e fragmentam-se em dezenas, centenas e às vezes milhares de pedaços. A
reportagem exemplifica: “Foi o que aconteceu, por exemplo, em 30 de junho de
1908, na Sibéria, com o choque de um meteorito, cujo diâmetro foi estimado em
30 metros e alcançou a velocidade hipersônica de 15 quilômetros por segundo (54
mil quilômetros por hora) ao se precipitar sobre a Terra.”.
Para se ter uma idéia
do que isso significa, basta dizer que um foguete, para se libertar da
gravidade terrestre, deve atingir, no mínimo, 11,2 quilômetros por segundo.
Esse bólido, que entrou na região de Tongusha, explodiu, conforme cálculos
recentes, a cerca de 10 mil quilômetros de altura. Era composto,
principalmente, de pedra. A temperatura dos gases atmosféricos produzida por
este “projétil” deve ter atingido extraordinários 25 mil graus centígrados.
Consequência? Milhares de quilômetros quadrados de florestas foram destruídos,
com dezenas de milhares de árvores queimadas ou, literalmente, desintegradas.
A energia liberada pela
explosão foi equivalente a 20 megatons (milhões de toneladas) de TNT. Seu
ângulo de chegada ao solo (caso chegasse a ele) devia estar compreendido entre
30 e 40 graus. O meteorito, todavia, de baixa densidade, fragmentou-se em pedaços
microscópicos. Já imaginaram se não tivesse se fragmentado, o tamanho da
hecatombe que o evento produziria? É ate impensável. Afinal, não foram os
fragmentos do bólido que causaram a devastação naquela desértica área da
Sibéria. Foi a força de deslocamento da explosão que provocou o desgaste do
solo, existente até hoje, passados 108 anos do evento, na região. É como se o
fato tivesse ocorrido a poucas horas e não há mais de um século.
Espero ter satisfeito,
pelo menos em parte, a curiosidade dos que solicitaram (na verdade exigiram)
que eu voltasse a esse assunto, que ademais, tanto me fascina.Se quiserem saber
mais, pesquisem, ora bolas! Além de não doer, irá ampliar muito seus
conhecimentos.
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