Registro de uma “quase”
catástrofe
Pedro
J. Bondaczuk
A Terra é
ininterruptamente “bombardeada” por bólidos provenientes do espaço. E isso
acontece há milhões, provavelmente bilhões de anos, muito antes, portanto, da
existência do homem, o que é algo relativamente recente em termos cósmicos.
Neste momento, em que redijo estas reflexões diárias, o “bombardeio” está em
pleno andamento, embora nenhum de nós o veja e sequer acreditemos em sua
ocorrência. Acontece que na imensa maioria dos casos, (geralmente o tempo todo,
e por anos, e até séculos) estas pedras que vêm do espaço e penetram na
atmosfera são sumamente pequenas. Ademais, em contato com o ar, em virtude da
força de atrito, que gera temperaturas altíssimas, se incineram e chegam ao
solo, quando muito, como finíssimas e imperceptíveis partículas de pó.
Quer dizer, então, que
estes bólidos não geram nenhum efeito no Planeta, certo? Errado! Eles são
tantos, e tão contínuos, que fazem a Terra aumentar de peso em pelo menos vinte
mil toneladas anuais, em média. Imaginem, pois, a quantidade de pedras que se
chocam, e o tempo todo, com o Planeta para, em chegando ao solo na forma de
quase invisível poeira pesar tanto em decorrência do acúmulo! De vez em quando,
todavia, a gravidade terrestre, caprichosamente, captura objetos maiores, da
dimensão, digamos, de alguns quilômetros. Por mais eficiente que seja nosso
escudo atmosférico, esses bólidos enormes chegam, mesmo que diminuídos, ao solo.
Aí... nem é preciso dizer mais nada. Ocorre um cataclismo, felizmente
relativamente raro, mas de conseqüências imprevisíveis.
Li vários contos e
outros tantos textos de ficção (e já assisti a pelo menos dois filmes)
abordando essa possibilidade. Ou seja, a de algum asteróide, de médio porte,
vir em nossa direção e sem nenhum aviso. Só podem, mesmo, se tratar de
histórias criadas pela imaginação. Caso algum bólido do tamanho que esses
escritores determinam em seus enredos caísse, realmente, no Planeta, não
haveria testemunhas sobreviventes para relatar tal catástrofe. E muito menos
leitores, claro. A vida, aqui na Terra, se não fosse extinta, certamente seria
alterada de tal sorte que as comunidades que habitavam em cavernas seriam
consideradas protótipos de civilização para os eventuais remanescentes. O mais
provável é que ocorreria (e pode ocorrer) uma extinção em massa, com a do homem
(que é muito mais frágil do que supõe), no meio.
Mas nem sempre a Terra
é atingida por meteoritos minúsculos, não raro microscópicos, imperceptíveis
por suas ínfimas dimensões. De vez em quando, algum objeto maior, mesmo que não
do tamanho de um asteróide de alguns quilômetros (embora de porte médio, mas de
tamanho um pouquinho só mais avantajado), não é totalmente incinerado e chega
ao solo medindo, digamos, uns dois metros. Pequeno, portanto, para produzir
catástrofes, mas grande o suficiente para causar pânico, gerar prejuízos e até
matar algum incauto mais infeliz, dependendo de onde cair.
A probabilidade de sua
queda ocorrer em zonas de grande concentração de pessoas, observe-se, é mínima,
embora exista. O mais provável é que caia no mar. Afinal, os oceanos constituem
dois terços do Planeta. Ou que a queda se dê em alguma zona desértica, no
Saara, por exemplo. Ou que ocorra nos pólos, no Ártico ou na Antártida. Ou em
alguma tundra, ou floresta, ou sabe-se lá onde. E ninguém ficará sabendo que
isso aconteceu.
Mas o acaso às vezes
faz com que as coisas não sejam tão previsíveis. Duvidam? Pois não duvidem. Há
pouco mais de um ano (mais precisamente, em 15 de fevereiro de 2013) isso
aconteceu. E não somente foi testemunhado por milhares de pessoas, como a sua
precipitação foi devidamente documentada em vídeos que qualquer um pode acessar
na internet. Os meios de comunicação do mundo todo noticiaram o evento. Nem
todos prestaram atenção às notícias. As desgraças noticiadas são tantas, que as
que apresentem menor número de vítimas tendem a ser ignoradas.
Refiro-me, aqui, ao
asteróide que caiu nas proximidades da cidade russa de Chelyabinsk, na região
dos Urais. Felizmente, o escudo atmosférico da Terra cumpriu a contento seu
papel. Decompôs a maior parte do bólido, antes que este chegasse ao solo.
Chegaram ao chão, além de um pedaço maior, de uns dois metros, vários meteoritos
das dimensões de um pedregulho. Ainda assim... o deslocamento de ar, de sua
queda, estilhaçou, por exemplo, milhares de vidraças das casas e edifícios da
localidade. E mais: gerou uma luz ultravioleta tão intensa que em torno de
vinte pessoas sofreram queimaduras na pele, algumas de relativa gravidade, e
tiveram que ser hospitalizadas
Felizmente, salvo as vítimas da ocorrência, tudo não passou de um grande
susto para os moradores de Chelyabinsk.
Sobre a queda desse
asteróide, que mesmo antes de ser decomposto pela atmosfera, era relativamente
pequeno, algum escritor sagaz, que tenha testemunhado o evento, pode, sim,
escrever sem dizer bobagens. Não sei se alguém já o fez (suponho que ninguém
tenha feito). Mas se quiser, pode fazê-lo e nem precisará dar asas à imaginação
e recorrer a fantasias. Não precisará, nem mesmo, lançar mão da ficção, se não
quiser. Se tiver talento, pode se limitar a descrever a ocorrência e exatamente
como ela se deu.
Até nós, que não
vivemos naquela região e não vimos diretamente a queda do asteróide, podemos
fazê-lo, com base, exclusivamente, nos vídeos que podemos acessar com a maior
facilidade pela internet. Afinal, são registros históricos e, sobretudo,
inéditos. Jamais, em tempo algum, um evento como este foi registrado em imagem,
e no exato momento da ocorrência. Que tal se você tentasse a façanha, caro
aspirante a escritor que eventualmente me leia neste momento, de escrever algo
criativo e original sobre essa “quase” catástrofe? É um bom desafio,
convenhamos. No mínimo, será excelente exercício para testar seu talento
narrativo. Fica aqui a sugestão.
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