Onda
de seqüestros
Pedro J. Bondaczuk
A prática de seqüestro (antes um expediente com fins
puramente políticos) é, entre tantos crimes que se cometem contra o cidadão, um
dos mais covardes e cruéis. Mas esse procedimento delituoso torna-se muito pior
quando conta com a conivência, ou até com a participação, da instituição (ou
membros dela) que têm a incumbência de defender, em seus direitos fundamentais,
cada membro da sociedade.
A Argentina (assim como nós, brasileiros) vem
debatendo, desde a semana passada, essa questão, trazida à baila com a
descoberta, primeiro, do corpo do empresário Osvaldo Sivak e, posteriormente,
com a localização dos restos mortais de outras duas vítimas: Bernardo Neuman e
Eduardo Oxenford.
Os três casos têm características comuns. Envolvem
pessoas de posse, ligadas à iniciativa privada, que foram tiradas do convívio
dos seus familiares com o propósito de extorsão. Os parentes dessas vítimas,
preocupados com sua segurança, pagaram polpudos resgates quando solicitados,
mas não conseguiram “comprar” a liberdade dos entes queridos.
Agora, passados alguns anos de seus seqüestros, seus
corpos apareceram, sepultados em valas comuns, num descampado suburbano. Para
decepção e temor dos argentinos, no entanto, descobriu-se que os crimes em
questão não foram praticados por marginais comuns, mas por aqueles que deveriam
zelar pela segurança e pela integridade dos cidadãos: os policiais.
A questão deverá ganhar colorações dramáticas nos
próximos dias, certamente com novas e surpreendentes revelações. Como
surpreendente, e até um tanto suspeito, foi o suicídio de um dos agentes
envolvidos com a quadrilha de seqüestradores, Alberto Caeta, encontrado
enforcado com a atadura de gaze que envolvia seu tórax (por causa de um
ferimento anterior à prisão) em sua cela, na Delegacia Central de Buenos Aires.
Fatos, portanto, que os argentinos julgavam
superados e sepultados em seu passado, como o desaparecimento de cidadãos,
voltaram à tona, para inquietação geral. Desta feita, porém, os crimes não
aconteceram por razões políticas e/ou ideológicas. Prenderam-se,
exclusivamente, à cupidez desmedida de bandidos infiltrados numa organização
que se desprestigia junto à opinião pública, como um todo (injustamente), por
causa de uns poucos maus elementos que possui em suas fileiras.
Cabe, portanto, à polícia, mais do que à própria
sociedade, ir a fundo na questão para limpar o seu nome. Para expulsar de suas
fileiras, e punir exemplarmente, criminosos comuns que vestem a sua honrada
farda. Afinal, uma única maçã podre, num cesto de frutos sadios, pode
contaminar todo o lote com o seu contato corruptor e malsão.
(Artigo publicado na página 21, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de novembro de 1987)
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