Monday, December 15, 2014

Onda de seqüestros


Pedro J. Bondaczuk


A prática de seqüestro (antes um expediente com fins puramente políticos) é, entre tantos crimes que se cometem contra o cidadão, um dos mais covardes e cruéis. Mas esse procedimento delituoso torna-se muito pior quando conta com a conivência, ou até com a participação, da instituição (ou membros dela) que têm a incumbência de defender, em seus direitos fundamentais, cada membro da sociedade.

A Argentina (assim como nós, brasileiros) vem debatendo, desde a semana passada, essa questão, trazida à baila com a descoberta, primeiro, do corpo do empresário Osvaldo Sivak e, posteriormente, com a localização dos restos mortais de outras duas vítimas: Bernardo Neuman e Eduardo Oxenford.

Os três casos têm características comuns. Envolvem pessoas de posse, ligadas à iniciativa privada, que foram tiradas do convívio dos seus familiares com o propósito de extorsão. Os parentes dessas vítimas, preocupados com sua segurança, pagaram polpudos resgates quando solicitados, mas não conseguiram “comprar” a liberdade dos entes queridos.

Agora, passados alguns anos de seus seqüestros, seus corpos apareceram, sepultados em valas comuns, num descampado suburbano. Para decepção e temor dos argentinos, no entanto, descobriu-se que os crimes em questão não foram praticados por marginais comuns, mas por aqueles que deveriam zelar pela segurança e pela integridade dos cidadãos: os policiais.

A questão deverá ganhar colorações dramáticas nos próximos dias, certamente com novas e surpreendentes revelações. Como surpreendente, e até um tanto suspeito, foi o suicídio de um dos agentes envolvidos com a quadrilha de seqüestradores, Alberto Caeta, encontrado enforcado com a atadura de gaze que envolvia seu tórax (por causa de um ferimento anterior à prisão) em sua cela, na Delegacia Central de Buenos Aires.

Fatos, portanto, que os argentinos julgavam superados e sepultados em seu passado, como o desaparecimento de cidadãos, voltaram à tona, para inquietação geral. Desta feita, porém, os crimes não aconteceram por razões políticas e/ou ideológicas. Prenderam-se, exclusivamente, à cupidez desmedida de bandidos infiltrados numa organização que se desprestigia junto à opinião pública, como um todo (injustamente), por causa de uns poucos maus elementos que possui em suas fileiras.

Cabe, portanto, à polícia, mais do que à própria sociedade, ir a fundo na questão para limpar o seu nome. Para expulsar de suas fileiras, e punir exemplarmente, criminosos comuns que vestem a sua honrada farda. Afinal, uma única maçã podre, num cesto de frutos sadios, pode contaminar todo o lote com o seu contato corruptor e malsão.     

(Artigo publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 15 de novembro de 1987)


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