Monday, December 15, 2014

Escola da vida

Pedro J. Bondaczuk

A vida é uma escola. Consiste em contínuas descobertas. Algumas ocorrem por processos traumáticos, através da dor, física e/ou emocional, em decorrência de atos que poderíamos evitar, mas que não evitamos. Somos imprudentes e nossa imprudência, não raro, tem custo muito alto, diria, proibitivo. Traumas e dores seriam evitáveis, ou pelo menos mais raros e menos intensos, caso nos dedicássemos à busca do autoconhecimento. Se soubéssemos quem somos, o que queremos e o quanto podemos. Essa descoberta tão importante, ou seja, a da nossa essência, todavia, é rara, por razões que desconheço. Seria por temor do que possamos descobrir a nosso respeito? Pode ser! Seria por vaidade, por nos recusarmos a admitir deficiências e vulnerabilidades que possamos ter? É até mesmo mais provável. Ou seria, meramente, por preguiça de tentarmos entender as razões que nos levam a nos comportar de determinada maneira e não de outra? É uma hipótese que não pode ser desprezada;

Contra o desânimo, que volta e meia nos ameaça ou nos domina, o único remédio que funciona é persistir, persistir e persistir. Não há outro caminho para se chegar ao topo da montanha. Ela deve ser galgada passo a passo, com determinação e com estratégia. E a única que é cabível, no meu entender, é a de valorizar o que a pessoa é e o que já conquistou. Ou seja, é o tal do auto-conhecimento. É, também, a informação mais correta e precisa sobre todos e sobre tudo. É o estímulo à criatividade. São, enfim, as descobertas, que considero sinônimos de aprendizado. Quando aprendemos, descobrimos o que não conhecíamos.

Somos dotados de insaciável curiosidade, que é a "mãe" de toda a sabedoria. Procuramos conhecer de tudo, quer esse conhecimento nos conduza a uma evolução, quer nos traga riscos de sofrer retrocessos ou até mesmo nos leve à autodestruição (como são os casos dos segredos do átomo e da estrutura genética, capazes de fazer a espécie humana desaparecer do universo, se utilizados de forma inadequada). Com o tempo, e ao sabor das circunstâncias, descobrimos tanto o bem quanto o mal. A opção por um deles vai determinar nossa trajetória na vida. O conhecimento de que mais necessitamos, porém, reitero, o auto-conhecimento, é relegado, salvo exceções, ao segundo plano, quando não totalmente abandonado. É como se fosse descoberta perigosa ou meramente  desnecessária. Ledo engano! Não é nem uma coisa e nem outra.

As pessoas (melhor diria, “nós”, pois não sou melhor do que ninguém e disso tenho plena consciência) relutam (ou relutamos) em assumir esse desafio – e a maioria não o assume jamais e sequer chega a tentar –, possivelmente temerosas do que possam vir a descobrir a próprio respeito. Todavia, só conhecendo, de fato, nossas potencialidades e vulnerabilidades teremos condições de evoluir e, quem sabe, atingir, sem sustos e nem retrocessos, o topo da montanha. Ou mais: voar tão alto a ponto de alcançar as estrelas. Por isso, vale o esforço.

"Tudo no mundo é vaidade", constatou Salomão nos últimos anos de vida, justo ele que foi abençoado com sabedoria, beleza, fortuna e poder e que, ao cabo da existência, percebeu o quanto de inutilidade havia em tudo isso. Só quem sabe gostar de si mesmo, na medida certa, sem descambar para os excessos, é capaz de amar alguém e, sobretudo, de ser amado pelos outros. Afinal, Cristo colocou essa auto-estima como parâmetro, ao ordenar: "ame o próximo como a si mesmo". Mas não se pode descambar para excessos, e nos dois casos, pois o mundo se encarregará, e de forma sempre dolorosa e traumática, de devolver o exagerado à realidade. Há os que confundem auto-estima com auto-idolatria. Espantam as pessoas ao seu redor, que fogem de sua companhia, e se sentem sós e injustiçados. Não o são, óbvio. Sua conduta é que produz esse resultado. Há, no outro extremo, os que não têm o mínimo amor próprio. E, não o tendo, não podem pretender que outros os amem. A auto-estima, portanto, tem que ser sóbria, natural e na medida certa, sem descambar para excessos ou para falta.

As pessoas, praticamente sem exceções, superestimam o que são e se julgam mais bondosas, mais sábias ou mais hábeis do que se mostram na prática. Curiosamente, a essa super-estimação quase nunca corresponde a auto-estima:. nos estimamos menos do que mereceríamos. Quem acha que é mais do que de fato é corre o risco de sofrer imensas decepções, às vezes irreparáveis, quando seu verdadeiro “eu” vier à tona. Nessas circunstâncias, a baixa estima ficará ainda mais reduzida, gerando sofrimentos inúteis, que poderiam ser evitados. Antes de conhecermos, ou seja, descobrirmos o mundo, e as pessoas que nos cercam, deveríamos nos concentrar em conhecer o ser mais próximo a nós: nós mesmos. Caso não nos amemos na devida medida, seremos incapazes de amar quem quer que seja. Johann Wolfgang Goethe constata, a propósito: “O homem crê, sempre, ser mais do que é e se estima menos do que merece”.

Algumas verdades, pré-existentes, mas que por alguma razão, não conseguimos alcançar em determinado período da nossa vida, de repente, emergem diante de nós, se desnudam aos nossos olhos, se revelam à nossa consciência. Muitas são óbvias, mas encaramo-las dessa maneira apenas depois da revelação. Esta, em geral, ocorre com a aquisição da experiência, resultado de muitos anos de empirismo, de sucessivas tentativas e erros e de atenta observação. Torna-se, para nós, também uma descoberta. Robert Louis Stevenson fez interessante declaração a propósito: "Todos podem executar seu trabalho, por difícil que seja, por um dia. Todos podem viver com doçura, paciência, ternura e pureza até que o Sol se ponha. E isso é tudo o que a vida realmente significa". Ou seja, ela é muito simples. Nós é que a complicamos com nossos temores, iras, ambições e egoísmo.


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