Contraponto às críticas
a George Orwell
Pedro
J. Bondaczuk
O livro “1984”, de
George Orwell, é muito mais complexo do que a princípio o julguei. Li-o há
trinta e tantos anos e de lá para cá, não somente o mundo mudou demais, mas eu
também mudei muito (presumo que para melhor, sei lá). Várias das impressões que
tive, na ocasião, diluíram-se e na recente releitura, firmei convicções que não
tinha antes. O fato de trazer à baila críticas negativas ao romance, e ao seu
autor, não quer dizer, necessariamente, que concorde com elas (ou com todas
elas). Se ambos foram ferozmente atacados tanto pela esquerda, quanto pela
direita, foram, também, fartamente elogiados e exaltados pelos que consideram o
livro uma obra-prima da literatura, de cunho político, do século XX. Creio que
os elogios foram em muito maior quantidade do que as críticas.
Confesso que, em
princípio, minha opinião sobre “1984” não foi das mais positivas. Considerei o
enredo fantasioso demais e o estilo literariamente pobre. Todavia, reitero: tal
como o mundo mudou, também mudei. E por mais teimoso que eu seja considerado (e
que talvez de fato seja) minha suposta (ou alegada) teimosia não vai ao ponto
de manter determinada opinião mesmo que me demonstrem, com provas irrefutáveis,
que ela estava errada. Foi o que aconteceu com “1984”, notadamente após recente
releitura. E, sobretudo, após exaustiva pesquisa para esta série de reflexões,
depois de ler textos que me induziram a prestar mais atenção a aspectos que não
havia notado na primeira leitura.
Muito do que escrevi,
nestas reflexões, sobre o livro “1984” e sobre seu autor, George Orwell, foi
reprodução de trechos do ensaio do mesmo nome que publiquei, em 20 de novembro
de 1983, no jornal “Correio Popular” de Campinas. Na época, eu não contava com
a fartura de fontes de pesquisa com que conto agora. Não tinha ao meu dispor,
por exemplo, esta ferramenta hoje imprescindível à minha atividade. Claro,
refiro-me ao computador. E, mais especificamente, à internet. E mais
especificamente ainda, ao Google. E mais ainda, à utilíssima enciclopédia
eletrônica Wikipédia, que tanto me tem auxiliado.
Uma coisa é você ler
determinado livro para seu deleite e nada mais. Outra, muito diferente, é fazer
a leitura com o objetivo determinado de escrever a respeito. A
responsabilidade, óbvio, multiplica-se exponencialmente. Detalhes a que você
provavelmente não atentaria, tornam-se
essenciais. O enredo passa a ser secundário. Sua preocupação prioritária
torna-se a de descobrir a motivação do autor ao engendrá-lo. Você tenta “entrar
em sua cabeça” para descobrir o que o escritor pretendia transmitir com a
história que narrou. Às vezes, consegue. Outras tantas, não. Detesto criticar
quem quer que seja, quando se trata de Literatura. Quando um livro não me
agrada, e não importa a razão, simplesmente não escrevo nada sobre ele. A menos
que seja forçado a fazê-lo por alguma eventual questão contratual (o que, no
meu caso, é raríssimo).
Foi o que aconteceu em
relação a “1984”, de George Orwell. Continuo achando que a ideologia do autor
é, no mínimo, ambígua ou, para ser “politicamente correto”, romântica. Sigo
considerando o estilo literariamente pobre. Mas, após análise criteriosa do
livro, considero-o primoroso no que se refere à literatura “distópica”. Cabe,
aqui, um esclarecimento. Distopia é o oposto de utopia. Enquanto os utopistas se
preocupam em descrever um futuro perfeito (ou quase), de plena harmonia,
prosperidade e justiça social, os distopistas têm preocupação antagônica. A
melhor definição do seu procedimento é a do escritor de ficção científica,
David Brin. Para ele, a intenção dos que enveredam por essa vertente literária
“não é prever o futuro, mas projetar um que seja tão horrível que as pessoas
vão lutar para que ele nunca aconteça”.
E não foi o que George
Orwell fez em “1984”? Qual pessoa, com o mínimo de bom senso e inteligência,
não lutará, de todas as formas, para impedir que uma tirania, como a que o
autor descreve, se torne real, algum dia, em algum lugar? Só isso já é
suficiente para que eu concorde com os que consideram o livro, se não o mais
importante do século XX, sem dúvida um dos mais importantes. A pedido de
leitores, tentarei aprofundar-me, mais e mais, na análise dessa obra, buscando
ser o mais didático possível, utilizando, para esse fim, informações
utilíssimas e imprescindíveis, sobretudo da Wikipédia, para fundamentar e
complementar minhas opiniões.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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