Afinal, luz no fim do túnel
Pedro J.
Bondaczuk
O novo plano norte-americano para a dívida externa da
América Latina pode não ser a solução esperada pelos países endividados para
sair da enrascadas em que se meteram, especialmente na década de 70, mas tem um
grande e principal mérito. Pelo menos é o primeiro, dos últimos anos, a
centralizar toda a sua estratégia não somente no cumprimento dos compromissos
assumidos pelos devedores, mas no seu desenvolvimento, como forma de evitar
explosões sociais, tendentes a desestabilizar, politicamente, toda uma região
de enorme importância para a segurança planetária.
Pela primeira vez, mostra-se uma
“luz no fundo do túnel”, embora ainda muito tênue e bruxoleante. Mas, pelo
menos, já é um avanço significativo na questão. O governo venezuelano
manifestou um certo desapontamento com o que já vem sendo chamado de “Plano
Brady”.
Acha que ele é tímido demais face
à dimensão do problema que, convenhamos, não é dos menores. A dívida externa
produziu uma verdadeira catástrofe na América Latina. Por exemplo, em 1986 a
renda per capita média do latino-americano havia ficado 6,5% menor do que a de
1980. Caiu de US$ 2.288 anuais para US$ 2.140. agora, embora não se disponha de
cifras exatas atualizadas, ela é muito menor.
Isto significa que as populações
da região trabalham cada vez mais para honrar os compromissos de um
endividamento que nunca diminuiu e ganham cada vez menos com o seu trabalho.
Isto, quando o tal cidadão da América Latina consegue um emprego, já que a
necessidade de cortar investimentos está levando os países da região à
estagnação.
O número de habitantes aumenta a
uma taxa média de 2,3%, enquanto as ocupações permanecem na mesma quantidade,
quando não diminuem, em decorrência do fechamento de empresas, por falta de
incentivos ao capital, ou de falências.
Somente no período 1983-1985, que
não foi dos mais graves, a região transferiu, líquidos, recursos da ordem de
US$ 28,8 bilhões, ou 4% do Produto Interno Bruto médio. Ou seja, empobreceu
sobremaneira.
Não precisa ser nenhum, técnico,
nem economista de renome e muito menos profeta, para perceber o que poderia
acontecer se algo não fosse feito para equacionar o problema. Se o “Plano
Brady” é muito tímido, cabe aos latino-americanos mostrarem isso ao governo norte-americano.
O importante é que, pela primeira vez desde que os dois choques do petróleo
pegaram a América Latina na contramão, os Estados Unidos admitem que o esquema
em que foram feitos os empréstimos é que foi inadequado (para não dizer
perverso) e não nós é que somos caloteiros ou irresponsáveis, como se afirmava
até há bem pouco tempo.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 14
de março de 1989)
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