Sunday, December 14, 2014

Afinal, luz no fim do túnel


Pedro J. Bondaczuk


O novo plano norte-americano para a dívida externa da América Latina pode não ser a solução esperada pelos países endividados para sair da enrascadas em que se meteram, especialmente na década de 70, mas tem um grande e principal mérito. Pelo menos é o primeiro, dos últimos anos, a centralizar toda a sua estratégia não somente no cumprimento dos compromissos assumidos pelos devedores, mas no seu desenvolvimento, como forma de evitar explosões sociais, tendentes a desestabilizar, politicamente, toda uma região de enorme importância para a segurança planetária.

Pela primeira vez, mostra-se uma “luz no fundo do túnel”, embora ainda muito tênue e bruxoleante. Mas, pelo menos, já é um avanço significativo na questão. O governo venezuelano manifestou um certo desapontamento com o que já vem sendo chamado de “Plano Brady”.

Acha que ele é tímido demais face à dimensão do problema que, convenhamos, não é dos menores. A dívida externa produziu uma verdadeira catástrofe na América Latina. Por exemplo, em 1986 a renda per capita média do latino-americano havia ficado 6,5% menor do que a de 1980. Caiu de US$ 2.288 anuais para US$ 2.140. agora, embora não se disponha de cifras exatas atualizadas, ela é muito menor.

Isto significa que as populações da região trabalham cada vez mais para honrar os compromissos de um endividamento que nunca diminuiu e ganham cada vez menos com o seu trabalho. Isto, quando o tal cidadão da América Latina consegue um emprego, já que a necessidade de cortar investimentos está levando os países da região à estagnação.

O número de habitantes aumenta a uma taxa média de 2,3%, enquanto as ocupações permanecem na mesma quantidade, quando não diminuem, em decorrência do fechamento de empresas, por falta de incentivos ao capital, ou de falências.

Somente no período 1983-1985, que não foi dos mais graves, a região transferiu, líquidos, recursos da ordem de US$ 28,8 bilhões, ou 4% do Produto Interno Bruto médio. Ou seja, empobreceu sobremaneira.

Não precisa ser nenhum, técnico, nem economista de renome e muito menos profeta, para perceber o que poderia acontecer se algo não fosse feito para equacionar o problema. Se o “Plano Brady” é muito tímido, cabe aos latino-americanos mostrarem isso ao governo norte-americano. O importante é que, pela primeira vez desde que os dois choques do petróleo pegaram a América Latina na contramão, os Estados Unidos admitem que o esquema em que foram feitos os empréstimos é que foi inadequado (para não dizer perverso) e não nós é que somos caloteiros ou irresponsáveis, como se afirmava até há bem pouco tempo.


(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 14 de março de 1989)

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