Cidade nem tanto maravilhosa
Pedro J.
Bondaczuk
O Rio de Janeiro, cantado e decantado em verso e prosa
como a “Cidade Maravilhosa” até muito recentemente, está hoje com a sua imagem
bastante comprometida, no País e no Exterior, por causa do aumento da criminalidade,
em especial de seqüestros de empresários.
Turistas internos e externos, que
movimentavam o seu comércio e davam um aspecto cosmopolita aos seus pontos mais
badalados, estão preferindo outros programas, talvez não tão excitantes, mas
pelo menos mais seguros.
Mas não é somente no aspecto da
segurança que o grande cartão postal turístico no estrangeiro regrediu. Hoje, o
Rio mostra aspectos de uma cidade mal cuidada, com as ruas sujas e a vida muito
cara.
Quanto à violência, o problema
tem raízes muito mais profundas do que se deseja admitir. Elas passam,
sobretudo, por uma acentuada decadência social num País em que as carências
crescem na mesma proporção da sua população e que, de quebra, desperdiçou toda
uma década em termos de desenvolvimento.
Virtualmente, não há, na
atualidade, um único setor que não careça de investimentos e, para complicar,
todos urgentes. No campo habitacional, por exemplo, há um déficit de pelo
menos, em números bem conservadores, dez milhões de moradias.
Na educação, todos sabem o que
vem ocorrendo com o ensino público. No setor de saúde, há um verdadeiro estado
de calamidade, constatado pelo ministro Alceni Guerra em recente visita a
hospitais de várias capitais brasileiras. Na Previdência Social, o valor das
aposentadorias e pensões é uma verdadeira desfeita a quem deu tanto de si,
durante toda uma vida, na tentativa de construir um país melhor. E as carências
seguem por aí afora.
Como se nota, tratam-se de
problemas de soluções de longo prazo, pelas dimensões que acabaram por adquirir
em decorrência de muitos anos de más administrações. Mas é preciso fazer alguma
coisa, mesmo que emergencial, senão para resolver tantas e tão graves questões,
pelo menos para impedir que elas se ampliem.
É surrealista, por exemplo, a
existência de uma favela como a da Rocinha, com população maior do que a de
Montevidéu, com os seus mais de dois milhões de moradores. É constrangedora a
situação de 35 milhões de crianças, carentes ou totalmente abandonadas.
Não há milagre, em circunstâncias
como estas, que impeça o avanço da marginalidade, o aumento de crimes de toda a
espécie. Quanto menos se investir em escolas, não se tenham dúvidas, mais se
precisará gastar em prisões, em armamentos, em contingentes policiais, em
aparatos de segurança. E isto, convenhamos, não é o perfil de um país que
pretenda ser civilizado.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de
julho de 1990).
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