Wednesday, December 10, 2014

Cidade nem tanto maravilhosa


Pedro J. Bondaczuk


O Rio de Janeiro, cantado e decantado em verso e prosa como a “Cidade Maravilhosa” até muito recentemente, está hoje com a sua imagem bastante comprometida, no País e no Exterior, por causa do aumento da criminalidade, em especial de seqüestros de empresários.

Turistas internos e externos, que movimentavam o seu comércio e davam um aspecto cosmopolita aos seus pontos mais badalados, estão preferindo outros programas, talvez não tão excitantes, mas pelo menos mais seguros.

Mas não é somente no aspecto da segurança que o grande cartão postal turístico no estrangeiro regrediu. Hoje, o Rio mostra aspectos de uma cidade mal cuidada, com as ruas sujas e a vida muito cara.

Quanto à violência, o problema tem raízes muito mais profundas do que se deseja admitir. Elas passam, sobretudo, por uma acentuada decadência social num País em que as carências crescem na mesma proporção da sua população e que, de quebra, desperdiçou toda uma década em termos de desenvolvimento.

Virtualmente, não há, na atualidade, um único setor que não careça de investimentos e, para complicar, todos urgentes. No campo habitacional, por exemplo, há um déficit de pelo menos, em números bem conservadores, dez milhões de moradias.

Na educação, todos sabem o que vem ocorrendo com o ensino público. No setor de saúde, há um verdadeiro estado de calamidade, constatado pelo ministro Alceni Guerra em recente visita a hospitais de várias capitais brasileiras. Na Previdência Social, o valor das aposentadorias e pensões é uma verdadeira desfeita a quem deu tanto de si, durante toda uma vida, na tentativa de construir um país melhor. E as carências seguem por aí afora.

Como se nota, tratam-se de problemas de soluções de longo prazo, pelas dimensões que acabaram por adquirir em decorrência de muitos anos de más administrações. Mas é preciso fazer alguma coisa, mesmo que emergencial, senão para resolver tantas e tão graves questões, pelo menos para impedir que elas se ampliem.

É surrealista, por exemplo, a existência de uma favela como a da Rocinha, com população maior do que a de Montevidéu, com os seus mais de dois milhões de moradores. É constrangedora a situação de 35 milhões de crianças, carentes ou totalmente abandonadas.

Não há milagre, em circunstâncias como estas, que impeça o avanço da marginalidade, o aumento de crimes de toda a espécie. Quanto menos se investir em escolas, não se tenham dúvidas, mais se precisará gastar em prisões, em armamentos, em contingentes policiais, em aparatos de segurança. E isto, convenhamos, não é o perfil de um país que pretenda ser civilizado.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de julho de 1990).



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