Persas
empatam o jogo de xadrez do Golfo
Pedro J. Bondaczuk
O
Irã encarregou-se, entre anteontem e ontem, de fazer os novos lances, no
"xadrez da morte" em que se tornou a Guerra do Golfo Pérsico, após a
desastrada intervenção das grandes potências na região. Atingiu, em 24 horas,
dois superpetroleiros envolvendo interesses dos Estados Unidos. O primeiro,
"Sungari", de 275 mil toneladas, pertence a uma empresa
norte-americana, embora tenha sido registrado na Libéria, um expediente muito
usado pelos armadores para escapar de pesados impostos. O segundo, o "Sea
Isle City", é do Kuwait, mas navega sob a proteção da bandeira do
"Tio Sam". Ambos foram atingidos no terminal petrolífero kuwaitiano
de Al-Ahmadi, considerado, até aqui, um refúgio seguro contra tais ataques.
Dessa
forma, a República Islâmica "empatou" a partida, já que havia tido,
na semana passada e na retrasada, dois reveses. O primeiro foi quando um
helicóptero atingiu a fragata, disfarçada em cargueiro, "Iran AJR",
que foi tomada e afundada. A segunda, quando dois aparelhos do mesmo tipo
acertaram três lanchas-velozes iranianas. Quem dará agora o próximo lance,
neste festival de bobagens que ambos os lados estão aprontando?
Teerã,
por sinal, não tem muito a perder ao hostilizar os Estados Unidos. Guerra por
guerra, já está envolvido até o pescoço numa, há sete anos, sofrendo um
duríssimo castigo do Iraque, que matou ou feriu cerca de 3% de sua população, o
que não é pouca coisa. Para os persas, é muito mais honroso lutar e perder para
uma superpotência, do que continuar empatando um conflito com um país cujo
potencial é metade do seu.
E
os norte-americanos, o que ganham, além de desprestígio e muita dor de cabeça?
Certamente nada! O estranho é que "Tio Sam" está tendo que enfrentar
a eficiência das próprias armas que fabricou.
Suspeita-se
que pelo menos no ataque de anteontem, o míssil empregado tenha sido um
eficientíssimo "Maverick". E os iranianos já avisaram que também
possuem os práticos e funcionais "Stingers", que eles juram ter
comprado em Washington! Mesmo que o foguete tenha sido, como se afirma, um
"Silkworm" chinês, é muito duvidoso que ele tenha sido adquirido em
Pequim.
O
mais certo é que o balístico em questão faça parte do lote vendido pelos
"moços alegres" do tenente-coronel Oliver North, do general Richard
Secord e do ex-assessor de segurança nacional, Robert McFarlane. O que o
dinheiro não consegue fazer! Principalmente quando quem o quer age à revelia da
opinião pública (e dizem que até da Casa Branca)! Durma-se com um barulho
desses!
(Artigo publicado na página 10,
Internacional, do Correio Popular, em 17 de outubro de 1987).
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