Friday, December 26, 2014

Persas empatam o jogo de xadrez do Golfo


Pedro J. Bondaczuk


O Irã encarregou-se, entre anteontem e ontem, de fazer os novos lances, no "xadrez da morte" em que se tornou a Guerra do Golfo Pérsico, após a desastrada intervenção das grandes potências na região. Atingiu, em 24 horas, dois superpetroleiros envolvendo interesses dos Estados Unidos. O primeiro, "Sungari", de 275 mil toneladas, pertence a uma empresa norte-americana, embora tenha sido registrado na Libéria, um expediente muito usado pelos armadores para escapar de pesados impostos. O segundo, o "Sea Isle City", é do Kuwait, mas navega sob a proteção da bandeira do "Tio Sam". Ambos foram atingidos no terminal petrolífero kuwaitiano de Al-Ahmadi, considerado, até aqui, um refúgio seguro contra tais ataques.

Dessa forma, a República Islâmica "empatou" a partida, já que havia tido, na semana passada e na retrasada, dois reveses. O primeiro foi quando um helicóptero atingiu a fragata, disfarçada em cargueiro, "Iran AJR", que foi tomada e afundada. A segunda, quando dois aparelhos do mesmo tipo acertaram três lanchas-velozes iranianas. Quem dará agora o próximo lance, neste festival de bobagens que ambos os lados estão aprontando?

Teerã, por sinal, não tem muito a perder ao hostilizar os Estados Unidos. Guerra por guerra, já está envolvido até o pescoço numa, há sete anos, sofrendo um duríssimo castigo do Iraque, que matou ou feriu cerca de 3% de sua população, o que não é pouca coisa. Para os persas, é muito mais honroso lutar e perder para uma superpotência, do que continuar empatando um conflito com um país cujo potencial é metade do seu.

E os norte-americanos, o que ganham, além de desprestígio e muita dor de cabeça? Certamente nada! O estranho é que "Tio Sam" está tendo que enfrentar a eficiência das próprias armas que fabricou.

Suspeita-se que pelo menos no ataque de anteontem, o míssil empregado tenha sido um eficientíssimo "Maverick". E os iranianos já avisaram que também possuem os práticos e funcionais "Stingers", que eles juram ter comprado em Washington! Mesmo que o foguete tenha sido, como se afirma, um "Silkworm" chinês, é muito duvidoso que ele tenha sido adquirido em Pequim.

O mais certo é que o balístico em questão faça parte do lote vendido pelos "moços alegres" do tenente-coronel Oliver North, do general Richard Secord e do ex-assessor de segurança nacional, Robert McFarlane. O que o dinheiro não consegue fazer! Principalmente quando quem o quer age à revelia da opinião pública (e dizem que até da Casa Branca)! Durma-se com um barulho desses!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 17 de outubro de 1987).


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