Guerra que não pode ser
perdida
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente norte-americano, George Bush, durante sua campanha presidencial do
ano passado, estabeleceu o combate às drogas como uma de suas prioridades em
nível interno. O problema, nos Estados Unidos, já extrapola o caráter de
meramente grave, para invadir a classificação de "gravíssimo".
Com
a popularização do "crack", uma forma barata de cocaína, usada para
fumar, o vício entrou na ordem do dia. Os esforços empreendidos nos derradeiros
anos ou foram insuficientes, ou acabaram sendo dispersivos. O fato é que nunca
se consumiu tanta droga, em tamanha profusão, nos Estados Unidos, quanto agora.
Isto, logicamente, teria que ter um preço social, além do pessoal que é pago
pelos viciados.
Para
estes, principalmente os que não têm força (ou ajuda) para se livrar do maldito
vício, as esperanças são mínimas, virtualmente nulas. Resta-lhes a opção de uma
morte ou através de "overdose", ou mediante a Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida, a terribilíssima Aids, contraída através de agulha
contaminada. Morte social, fatalmente, tais pessoas já tiveram. Dificilmente
conseguirão recuperar os amigos não viciados que tinham antes de dar esse
perigoso, senão fatal passo.
Mas
a sociedade norte-americana também paga um altíssimo preço com o problema. Em
primeiro lugar, o país perde o seu maior capital humano, a juventude, que ao
invés de se empenhar nos estudos, nas pesquisas, nos esportes e nos campos em
que os Estados Unidos detêm hegemonia, exatamente por causa do vigor e do
talento dos seus jovens, passa a viver num mundo artificial, de delírios, que
podem até parecer coloridos sonhos no início, mas que se revelam tétricos
pesadelos no final.
A
criminalidade, por outro lado, cresce assustadoramente. Está aí Washington,
batendo recordes e mais recordes de violência. E as causas são óbvias, já que o
consumo de drogas na capital norte-americana é assustador.
Não
é por acaso que o presidente George Bush está destinando, no audacioso programa
que anunciou ontem, verbas de US$ 1,5 bilhão para a construção de presídios. O
programa "Fantástico", da Rede Globo, mostrou, no domingo, que há 10
milhões de foragidos da Justiça nesse país, à espera de vagas. E boa parte
desses criminosos é constituída de traficantes ou de pessoas que cometeram seus
delitos sob os efeitos do narcótico ou para obter dinheiro para sustentar o
vício. Por isso, os quase US$ 8 bilhões que vão ser gastos nesta guerra da
sociedade norte-americana contra as drogas, se forem usados com juízo, serão
otimamente empregados. Pode haver dúvidas a esse respeito?
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 6 de setembro de
1989).
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