Sunday, December 28, 2014

Guerra que não pode ser perdida


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano, George Bush, durante sua campanha presidencial do ano passado, estabeleceu o combate às drogas como uma de suas prioridades em nível interno. O problema, nos Estados Unidos, já extrapola o caráter de meramente grave, para invadir a classificação de "gravíssimo".

Com a popularização do "crack", uma forma barata de cocaína, usada para fumar, o vício entrou na ordem do dia. Os esforços empreendidos nos derradeiros anos ou foram insuficientes, ou acabaram sendo dispersivos. O fato é que nunca se consumiu tanta droga, em tamanha profusão, nos Estados Unidos, quanto agora. Isto, logicamente, teria que ter um preço social, além do pessoal que é pago pelos viciados.

Para estes, principalmente os que não têm força (ou ajuda) para se livrar do maldito vício, as esperanças são mínimas, virtualmente nulas. Resta-lhes a opção de uma morte ou através de "overdose", ou mediante a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a terribilíssima Aids, contraída através de agulha contaminada. Morte social, fatalmente, tais pessoas já tiveram. Dificilmente conseguirão recuperar os amigos não viciados que tinham antes de dar esse perigoso, senão fatal passo.

Mas a sociedade norte-americana também paga um altíssimo preço com o problema. Em primeiro lugar, o país perde o seu maior capital humano, a juventude, que ao invés de se empenhar nos estudos, nas pesquisas, nos esportes e nos campos em que os Estados Unidos detêm hegemonia, exatamente por causa do vigor e do talento dos seus jovens, passa a viver num mundo artificial, de delírios, que podem até parecer coloridos sonhos no início, mas que se revelam tétricos pesadelos no final.

A criminalidade, por outro lado, cresce assustadoramente. Está aí Washington, batendo recordes e mais recordes de violência. E as causas são óbvias, já que o consumo de drogas na capital norte-americana é assustador.

Não é por acaso que o presidente George Bush está destinando, no audacioso programa que anunciou ontem, verbas de US$ 1,5 bilhão para a construção de presídios. O programa "Fantástico", da Rede Globo, mostrou, no domingo, que há 10 milhões de foragidos da Justiça nesse país, à espera de vagas. E boa parte desses criminosos é constituída de traficantes ou de pessoas que cometeram seus delitos sob os efeitos do narcótico ou para obter dinheiro para sustentar o vício. Por isso, os quase US$ 8 bilhões que vão ser gastos nesta guerra da sociedade norte-americana contra as drogas, se forem usados com juízo, serão otimamente empregados. Pode haver dúvidas a esse respeito?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 6 de setembro de 1989).


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