Em busca de miragem
Pedro J. Bondaczuk
O êxodo de alemães orientais para o Ocidente (que a
despeito de ter sumido do noticiário, está muito distante de ter terminado,
embora os números não sejam tão dramáticos quanto eram em agosto de 1989), foi
a grande "marreta" que pôs abaixo o "Muro de Berlim",
considerado até então como indestrutível. Essa fuga em massa determinou não
somente a queda do governo comunista de linha dura de Erich Honecker, como a
derrocada do próprio regime que vigorou no país desde a sua criação, com a
divisão da Alemanha após a derrota nazista em maio de 1945. Desde novembro de
1989, todavia, as viagens de cidadãos do Estado germânico do Leste passaram a
ser devidamente autorizadas por suas autoridades. E levas e mais levas de pessoas
emigraram para o lado ocidental em busca de uma "miragem". Esse
fluxo, que parece interminável, levou o chanceler alemão ocidental Helmut Kohl
a acelerar o processo de reunificação do país.
Agora, vem ocorrendo um outro tipo de êxodo (cujas
conseqüências ainda é muito cedo para avaliar), que certamente tenderá a
provocar outras e dramáticas alterações políticas, econômicas e sociais na
região. É o de romenos, poloneses e búlgaros (para os quais a Alemanha
Oriental, economicamente falida e vivendo o espectro do desemprego como seqüela
da fusão com a Ocidental, rica mas realista, é um verdadeiro "paraíso de
prosperidade"). E não são poucas as pessoas que estão chegando diariamente
ao Estado germânico outrora controlado pelos comunistas. São levas enormes, que
chegam geralmente de trem, pernoitam nas estações e ficam perambulando pelas
cidades, em especial Berlim Oriental, à espera de uma assistência das
autoridades locais.
Há famílias que, não podendo por alguma razão
abandonar suas pátrias, colocam filhos menores nos vagões, os enviando para uma
vida incerta que, ainda assim, entendem que será melhor para o futuro de tais
crianças do que na Romênia, Polônia e Bulgária. Daí, a defesa feita por
determinadas correntes no Ocidente por uma urgente ajuda financeira a essas
nações do Leste, empobrecidas e virtualmente lançadas na indigência por quatro
décadas de comunismo. Sem uma substancial injeção de dólares não haverá como
conter esse êxodo de pessoas para as quais o Ocidente é o verdadeiro Éden sobre
a Terra. Claro que toda essa movimentação populacional tende a trazer, mesmo a
curto prazo, sérios problemas sociais, que podem fatalmente descambar em
violências.
Os refugiados, por exemplo, vão desequilibrar a
oferta de mão-de-obra no país que os recebe, provocando quedas nos salários
conforme prevê a inflexível lei de mercado. Gerarão desemprego, causando
revolta e tensão nos que forem preteridos por um estrangeiro. Trata-se portanto
de um problema que convém ser resolvido no nascedouro, enquanto é possível se
encontrar uma solução, antes que se transforme em algo incontrolável.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular em 15 de maio de 1990)
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