Friday, December 12, 2014

Em busca de miragem



Pedro J. Bondaczuk



O êxodo de alemães orientais para o Ocidente (que a despeito de ter sumido do noticiário, está muito distante de ter terminado, embora os números não sejam tão dramáticos quanto eram em agosto de 1989), foi a grande "marreta" que pôs abaixo o "Muro de Berlim", considerado até então como indestrutível. Essa fuga em massa determinou não somente a queda do governo comunista de linha dura de Erich Honecker, como a derrocada do próprio regime que vigorou no país desde a sua criação, com a divisão da Alemanha após a derrota nazista em maio de 1945. Desde novembro de 1989, todavia, as viagens de cidadãos do Estado germânico do Leste passaram a ser devidamente autorizadas por suas autoridades. E levas e mais levas de pessoas emigraram para o lado ocidental em busca de uma "miragem". Esse fluxo, que parece interminável, levou o chanceler alemão ocidental Helmut Kohl a acelerar o processo de reunificação do país.

Agora, vem ocorrendo um outro tipo de êxodo (cujas conseqüências ainda é muito cedo para avaliar), que certamente tenderá a provocar outras e dramáticas alterações políticas, econômicas e sociais na região. É o de romenos, poloneses e búlgaros (para os quais a Alemanha Oriental, economicamente falida e vivendo o espectro do desemprego como seqüela da fusão com a Ocidental, rica mas realista, é um verdadeiro "paraíso de prosperidade"). E não são poucas as pessoas que estão chegando diariamente ao Estado germânico outrora controlado pelos comunistas. São levas enormes, que chegam geralmente de trem, pernoitam nas estações e ficam perambulando pelas cidades, em especial Berlim Oriental, à espera de uma assistência das autoridades locais.

Há famílias que, não podendo por alguma razão abandonar suas pátrias, colocam filhos menores nos vagões, os enviando para uma vida incerta que, ainda assim, entendem que será melhor para o futuro de tais crianças do que na Romênia, Polônia e Bulgária. Daí, a defesa feita por determinadas correntes no Ocidente por uma urgente ajuda financeira a essas nações do Leste, empobrecidas e virtualmente lançadas na indigência por quatro décadas de comunismo. Sem uma substancial injeção de dólares não haverá como conter esse êxodo de pessoas para as quais o Ocidente é o verdadeiro Éden sobre a Terra. Claro que toda essa movimentação populacional tende a trazer, mesmo a curto prazo, sérios problemas sociais, que podem fatalmente descambar em violências.

Os refugiados, por exemplo, vão desequilibrar a oferta de mão-de-obra no país que os recebe, provocando quedas nos salários conforme prevê a inflexível lei de mercado. Gerarão desemprego, causando revolta e tensão nos que forem preteridos por um estrangeiro. Trata-se portanto de um problema que convém ser resolvido no nascedouro, enquanto é possível se encontrar uma solução, antes que se transforme em algo incontrolável.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular em 15 de maio de 1990)


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