Povo iraquiano é maior perdedor
Pedro J. Bondaczuk
As várias análises feitas
acerca da guerra no Golfo Pérsico têm se concentrado nos aspectos
estratégico-militar, econômico e político da questão, deixando de lado o fator
mais importante a ser debatido: o humano. Qualquer que seja o desfecho do
conflito, ele já é uma tragédia irreparável para o povo iraquiano, que teve
várias gerações duramente penalizadas no correr deste século pela violência,
interna ou externa.
Hoje,
a população desse país, situado onde um dia floresceu a primeira superpotência
mundial, a Babilônia, na região da Mesopotâmia, cortada pelos rios Tigre e
Eufrates, se vê abandonada por todos e é punida duplamente: interna e
externamente.
No
plano doméstico, é castigada por um ditador megalomaníaco, que em quase 12 anos
de poder, arrastou o país para a sua Segunda guerra. Mo âmbito internacional, o
iraquiano se vê segregado pelos que ainda ontem se diziam seus melhores amigos.
Seu
antigo tutor e hoje vizinho, a Turquia, já que no século passado o Iraque fazia
parte do poderoso Império Otomano, não somente lhe virou as costas, como cedeu
bases a seus inimigos para que ataquem suas cidades.
A
Grã-Bretanha, que por sinal foi a criadora indireta do motivo desta guerra,
quando desmembrou o Kuwait do território iraquiano durante a ocupação do país
de Saddam Hussein, há cerca de 60 anos, hoje participa mais ativamente do que
nunca da tarefa de destruição, metódica e persistente, do futuro dessa nação.
As
duas superpotências, que há ainda dois anos armavam freneticamente seu oponente
de hoje, agora estão unidas para o arrasar. Seus irmãos árabes – os governos,
evidentemente, não as populações – pegaram em armas contra o povo iraquiano.
Afinal, é ele que irá pagar as conseqüências da rixa pessoal entre os
presidentes George Bush e Saddam Hussein. As lealdades mostraram-se fragílimas
diante dos lucros com o petróleo.
O
truculento ditador tem, a esta altura, pouco que perder. Basta somente que não
seja capturado vivo, para não ser levado a um tribunal de crimes de guerra. Seu
objetivo de passar para a história como um mito das populações pobres árabes, a
esta altura está garantido.
Provavelmente,
ele não irá sobreviver para ver as conseqüências da sua intransigência para a
população do seu país. Os iraquianos, que mal se recuperaram da guerra de oito
anos contra o Irã, terão muitos mortos ainda para chorar, muitos estropiados
para cuidar, muitos órfãos para amparar.
O
Iraque deverá sair tão enfraquecido, em todos os sentidos, dessa aventura, que
nem todo o seu petróleo será suficiente para financiar sua reconstrução nas
duas ou três próximas gerações. Os iraquianos, portanto, são por antecedência
os grandes perdedores disparados desta estúpida e inoportuna demonstração
mundial de irracionalidade.
(Artigo
publicado na página 14, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 25 de janeiro
de 1991).
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