Que racionalidade é esta?
Pedro J.
Bondaczuk
As estimativas mais conservadoras dão conta de que há no
mundo 150 milhões de crianças no mais absoluto abandono. Nestas cifras não se
incluem aquelas que são, apenas, carentes, mas vivem com seus pais; nem as que
estão em acampamentos de refugiados; nem as recolhidas em abrigos ou orfanatos
e nem as que contam com qualquer tipo de amparo, por mínimo que este seja.
Os números referem-se, apenas,
aos meninos e meninas absolutamente indesejados, totalmente enjeitados, que
sobrevivem ao Deus dará. Uma cifra, pura e simples, às vezes não sensibiliza.
Para que se entenda melhor o que essa estimativa significa, é preciso que se
diga que essa quantidade de menores abandonados equivale às populações somadas
do Brasil (o sexto país mais populoso do mundo) e do Peru. É muita
insensibilidade, das pessoas e dos governos, não é mesmo?!
Com a revelação feita, ontem, em
Nova York, pela Madre Teresa de Calcutá, concluímos que esse fenômeno, de
desamor, de abandono, de irresponsabilidade, não se restringe a sociedades
pobres e nem às capitalistas.
O mal atinge o mundo todo,
demonstrando, mais uma vez, e com provas contundentes, que há algo de muito
errado nos homens. Os seres humanos ainda não estão sendo medidos, por seus
semelhantes, por parâmetros corretos. São considerados, ou rejeitados, por
fatores tão fluidos, tão tolos, tão sem sentido, que somente com muita boa
vontade podem ser considerados racionais.
Onde está a racionalidade ao se
julgar alguém não por aquilo que é, por sua inteligência, espírito de luta,
aplicação, mas pela origem familiar ou social? Que sabedoria existe em se
avaliar alguém por aquilo que tem (sem ao menos questionar como ele possui
esses bens, se foram obtidos por meios legítimos ou ilegítimos), em vez de
medir seu valor pelo que é?
Este é o senso de “humanidade”,
que deixa no mais completo abandono 150 milhões de semelhantes? Para que o
problema pudesse ser ao menos reduzido, e controlado, seriam necessárias
milhares de Madres Teresas. Que lição de amor e de desprendimento essa frágil
mulher dá ao mundo, repleto de “poderosos de plantão”, tão transitórios como os
seus sonhos megalomaníacos!
Que atestado de incompetência
essa freira abnegada passa aos sistemas, ideologias e organizações espalhados
pelo Planeta! Como considerar competente quem não sabe, sequer, tomar conta da
sua descendência?! De que forma é possível que alguém, realmente sério, consiga
respeitar os que estão jogando fora o futuro da espécie? Fica, pois, esta
indagação no ar, para nossa reflexão.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 17
de junho de 1988).
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