Educação amarfanhada
O
maior defeito do Estado brasileiro, entre os tantos que podem ser apontados, é
a incompetência na definição das prioridades nacionais. Não se pode, em sã
consciência, classificar o Brasil como um país pobre. Afinal, trata-se da nona
economia mundial de acordo com a classificação mais recente, baseada no Produto
Nacional Bruto, divulgada em maio passado pelo Fundo Monetário Internacional. E
isso, na formal, a que aparece e pode ser quantificada.
Não estamos levando em conta os recursos naturais
inexplorados. Portanto, o problema brasileiro não é a ausência de recursos, mas
a sua má gestão, seu subaproveitamento, a catastrófica falta de visão dos
vários governos para direcionar capitais aos setores prioritários.
E quais seriam as prioridades de um Estado realmente
equilibrado e que pretendesse exercer o seu papel fundamental? Educação, saúde
e segurança, nesta ordem. E dentro do setor educacional, a valorização do
homem, do agente disseminador de conhecimentos, da fonte de todas as profissões
que usam o intelecto como ferramenta de trabalho.
Claro que nos referimos ao professor. Sem ele, não
existiriam o médico, o engenheiro, o advogado, o jornalista, o militar, o padre
e assim por diante. É algo tão óbvio que seria até desnecessário citar.
Todavia, o que ocorre hoje com o mestre?
Alguém conhece alguma categoria profissional
relativamente pior remunerada do que esta? Estive estes dias com a cópia
xerográfica do holerite de agosto de uma professora de nível 1, aposentada,
após prestar 28 anos de dedicado e contínuo trabalho. O valor da remuneração
ali constante fez-me entender, em sua verdadeira extensão, o principal motivo
da crise que nos atormenta há tanto tempo. Sabe o leitor quanto foi pago a essa
sofrida servidora? O valor bruto de sua remuneração, sem os descontos que ainda
têm o desplante de fazer, era de (pasmem!) Cr$ 9.200,00!
Há mestres que ganham muito menos, e estando na ativa.
Onde a lógica disso? E o Estado, ao invés de exercer seu papel, atua como “empresário”,
explorando petróleo, fabricando aço, produzindo papel e outras coisas mais, que
seriam atribuições exclusivas da iniciativa privada, muito mais competente,
racional e ágil no mundo dos negócios!
As folhas de pagamento das estatais são escandalosamente
altas. A tal ponto, que causaram irritação no próprio presidente Itamar Franco,
recentemente. E pensar que os professores, sem os quais nenhum desses gerentes,
engenheiros, economistas e sabe-se lá mais o que (cuja competência e capacidade
ninguém desmerece) sequer existiria, ganham tão mal!
Governar é definir prioridades. E há, por
eventualidade, o mínimo argumento contrário à atribuição da educação como a
preocupação prioritária de qualquer sociedade civilizada? Do que carecemos não
é de medicas econômicas ortodoxas ou heterodoxas, de capitais fartos do
Exterior ou de sofisticada tecnologia alheia, inútil se não soubermos fazer uso
dela.
Prescindimos também de novas leis, ditadas de cima
para baixo, ao contrário do que se verifica no Primeiro Mundo. A maioria dessas
normas está tão desvinculada da nossa realidade que sequer “pega”. Cai no
esquecimento por falta de uso. O Brasil carece de educação! E nos dois
sentidos. Tanto no significado lato do termo, quanto no estrito, de estimular o
cidadão a pensar.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 2 de setembro de 1993).
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