Monday, December 08, 2014

Muito além da imaginação

Pedro J. Bondaczuk

A Terra é um planeta em constante transformação – e quando digo constante, quero dizer diária –, quer pela ação direta do homem, quer pelo contínuo “bombardeio” de detritos provenientes do espaço que sofre. Não apenas se modifica em seu aspecto, face o surgimento de cidades, da construção de barragens, hidrelétricas, rodovias, ferrovias etc. e tantas e tantas obras de engenharia, mas também no que diz respeito ao acréscimo de massa em decorrência de tantos e tantos corpos celestes provenientes de várias partes do Sistema Solar que a ela se incorporam. Em suma, aumenta, ao longo dos anos, de tamanho e, consequentemente, de peso. Para que o leitor tenha uma idéia, os cientistas estimam que a cada ano o Planeta pesa 20 mil toneladas a mais. Multipliquem isso por 4,5 bilhões de anos, tempo estimado para a idade deste nosso “domo cósmico” e se poderá ter pelo menos uma idéia do quanto o Planeta se alterou em termos de dimensão.

Estes dados, que aparentemente nada têm a ver com Literatura (embora nada lhe seja interdito, quer no terreno da realidade, quer no da ilimitada imaginação), são um prato cheio, sobretudo, para escritores de ficção científica. Afinal, boa parte do que eles escrevem tem tudo a ver com ciência, até para que sua produção tenha um tantinho que seja de verossimilhança. E por que não vemos a chegada desses elementos estranhos ao Planeta, se eles caem por aqui com tamanha constância, praticamente sem parar? Bem, é melhor que não os vejamos mesmo. Às vezes, alguns tornam-se não somente visíveis, mas são, potencialmente catastróficos. Felizmente estes são relativamente raros.

Tenho em mãos um exemplar da revista norte-americana “Sky & Telescope”, especializada em astronomia, edição de fevereiro de 1994, portanto, de há pouco mais de vinte anos. A publicação traz interessantíssima matéria a propósito do “bombardeio” contínuo, praticamente ininterrupto, de meteortitos sobre a Terra, de tal sorte a torná-la mais pesada em 20 mil toneladas a cada ano. A reportagem foi baseada em documentos secretos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o Pentágono, a que seus repórteres tiveram acesso. O suplemento científico do jornal francês “Le Figaro” também escreveu a respeito, com base nos dados fornecidos pela revista. Na ocasião, também escrevi matéria sobre o tema, publicada na edição de 13 de fevereiro de 1994 do jornal campineiro “Correio Popular”, onde eu era editor na ocasião.

Os satélites-espiões do Pentágono, conforme citou a “Sky & Telescope”, haviam registrado, entre 1985 e 1994, 136 impactos de meteoritos, muitos dos quais de vários metros de diâmetro, que certamente teriam causado tragédias inenarráveis, caso atingissem, intactos, o solo e notadamente se caíssem em áreas densamente povoadas. Felizmente, nada disso aconteceu. A atmosfera terrestre atua como eficiente escudo gasoso contra esse persistente e contínuo “bombardeio” espacial. O espaço exterior pode ser comparado a um vasto campo de tiro. Milhares de corpos celestes, de tamanhos reduzidos, cruzam o vácuo a velocidades espantosas. A Terra, no caso, serve como uma espécie de alvo, mas difícil de ser acertado.

Proporcionalmente, embora a quantidade de impactos não possa ser considerada desprezível, um percentual muito pequeno, em relação ao total, choca-se com o Planeta. O Pentágono mantém sigilo a respeito por causa da natureza dos satélites-espiões, que não foram concebidos para essa tarefa científica. Eles foram construídos, e postos em órbita, no contexto da Iniciativa de Defesa Estratégica, a chamada “Guerra nas Estrelas”  projeto lançado pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, destinado a criar um escudo contra mísseis nucleares da extinta União Soviética, durante a Guerra Fria.

É a decomposição de meteoritos e, principalmente, de micrometeoritos na atmosfera, em geral invisíveis a olho nu, cujo resultado chega ao solo como finíssimas partículas de poeira, que aumenta o peso da Terra. Em 4 milhões de anos, estima-se que a poeira depositada na superfície do Planeta seja equivalente a 20 centímetros de espessura. Isso parece pouco, mas não é, pois o cálculo considera a totalidade da área da Terra, incluindo os oceanos, que são mais de dois terços do total.  Estima-se que 30 mil meteoritos, de mais de cem gramas de peso, atinjam nosso planeta anualmente. Estatisticamente, a cada cem anos aparece, em média, um de dez metros. Um de cem metros choca-se com a Terra a cada dez mil anos. A cada cem mil anos ocorre a colisão com um corpo celeste de um quilômetro. E entre 20 milhões a 40 milhões de anos há a probabilidade da explosão de um meteorito entre 20 e 40 quilômetros de diâmetro, capaz de provocar uma hecatombe planetária apocalíptica com potencial para aniquilar, se não a totalidade, pelo menos quase todas as espécies vivas.

A velocidade desses objetos espaciais varia entre 11 quilômetros por segundo e 72 quilômetros por segundo. Cientistas afirmam que um bólido de dez metros, chegando à atmosfera terrestre a uma velocidade de 15 quilômetros por segundo, provocaria uma explosão equivalente à bomba atômica que destruiu Hiroshima (30 mil toneladas de TNT). Com 100 metros de diâmetro, a energia liberada equivaleria á de mil dessas bombas, ou 30 megatons. Como se vê, a realidade é muito mais assombrosa, fascinante, misteriosa e não raro apavorante do que a mais delirante e exacerbada fantasia, fruto exclusivo da imaginação. E é tema literário? O que você acha, atento leitor?


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