Muito além da
imaginação
Pedro
J. Bondaczuk
A Terra é um planeta em
constante transformação – e quando digo constante, quero dizer diária –, quer
pela ação direta do homem, quer pelo contínuo “bombardeio” de detritos
provenientes do espaço que sofre. Não apenas se modifica em seu aspecto, face o
surgimento de cidades, da construção de barragens, hidrelétricas, rodovias,
ferrovias etc. e tantas e tantas obras de engenharia, mas também no que diz
respeito ao acréscimo de massa em decorrência de tantos e tantos corpos
celestes provenientes de várias partes do Sistema Solar que a ela se
incorporam. Em suma, aumenta, ao longo dos anos, de tamanho e,
consequentemente, de peso. Para que o leitor tenha uma idéia, os cientistas
estimam que a cada ano o Planeta pesa 20 mil toneladas a mais. Multipliquem
isso por 4,5 bilhões de anos, tempo estimado para a idade deste nosso “domo
cósmico” e se poderá ter pelo menos uma idéia do quanto o Planeta se alterou em
termos de dimensão.
Estes dados, que
aparentemente nada têm a ver com Literatura (embora nada lhe seja interdito,
quer no terreno da realidade, quer no da ilimitada imaginação), são um prato
cheio, sobretudo, para escritores de ficção científica. Afinal, boa parte do
que eles escrevem tem tudo a ver com ciência, até para que sua produção tenha
um tantinho que seja de verossimilhança. E por que não vemos a chegada desses
elementos estranhos ao Planeta, se eles caem por aqui com tamanha constância,
praticamente sem parar? Bem, é melhor que não os vejamos mesmo. Às vezes,
alguns tornam-se não somente visíveis, mas são, potencialmente catastróficos.
Felizmente estes são relativamente raros.
Tenho em mãos um
exemplar da revista norte-americana “Sky & Telescope”, especializada em
astronomia, edição de fevereiro de 1994, portanto, de há pouco mais de vinte
anos. A publicação traz interessantíssima matéria a propósito do “bombardeio”
contínuo, praticamente ininterrupto, de meteortitos sobre a Terra, de tal sorte
a torná-la mais pesada em 20 mil toneladas a cada ano. A reportagem foi baseada
em documentos secretos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o
Pentágono, a que seus repórteres tiveram acesso. O suplemento científico do
jornal francês “Le Figaro” também escreveu a respeito, com base nos dados
fornecidos pela revista. Na ocasião, também escrevi matéria sobre o tema,
publicada na edição de 13 de fevereiro de 1994 do jornal campineiro “Correio
Popular”, onde eu era editor na ocasião.
Os satélites-espiões do
Pentágono, conforme citou a “Sky & Telescope”, haviam registrado, entre
1985 e 1994, 136 impactos de meteoritos, muitos dos quais de vários metros de
diâmetro, que certamente teriam causado tragédias inenarráveis, caso
atingissem, intactos, o solo e notadamente se caíssem em áreas densamente
povoadas. Felizmente, nada disso aconteceu. A atmosfera terrestre atua como
eficiente escudo gasoso contra esse persistente e contínuo “bombardeio”
espacial. O espaço exterior pode ser comparado a um vasto campo de tiro.
Milhares de corpos celestes, de tamanhos reduzidos, cruzam o vácuo a
velocidades espantosas. A Terra, no caso, serve como uma espécie de alvo, mas
difícil de ser acertado.
Proporcionalmente,
embora a quantidade de impactos não possa ser considerada desprezível, um
percentual muito pequeno, em relação ao total, choca-se com o Planeta. O
Pentágono mantém sigilo a respeito por causa da natureza dos satélites-espiões,
que não foram concebidos para essa tarefa científica. Eles foram construídos, e
postos em órbita, no contexto da Iniciativa de Defesa Estratégica, a chamada
“Guerra nas Estrelas” projeto lançado
pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, destinado a criar um escudo
contra mísseis nucleares da extinta União Soviética, durante a Guerra Fria.
É a decomposição de
meteoritos e, principalmente, de micrometeoritos na atmosfera, em geral invisíveis
a olho nu, cujo resultado chega ao solo como finíssimas partículas de poeira,
que aumenta o peso da Terra. Em 4 milhões de anos, estima-se que a poeira
depositada na superfície do Planeta seja equivalente a 20 centímetros de
espessura. Isso parece pouco, mas não é, pois o cálculo considera a totalidade
da área da Terra, incluindo os oceanos, que são mais de dois terços do
total. Estima-se que 30 mil meteoritos,
de mais de cem gramas de peso, atinjam nosso planeta anualmente.
Estatisticamente, a cada cem anos aparece, em média, um de dez metros. Um de
cem metros choca-se com a Terra a cada dez mil anos. A cada cem mil anos ocorre
a colisão com um corpo celeste de um quilômetro. E entre 20 milhões a 40
milhões de anos há a probabilidade da explosão de um meteorito entre 20 e 40
quilômetros de diâmetro, capaz de provocar uma hecatombe planetária
apocalíptica com potencial para aniquilar, se não a totalidade, pelo menos
quase todas as espécies vivas.
A velocidade desses
objetos espaciais varia entre 11 quilômetros por segundo e 72 quilômetros por
segundo. Cientistas afirmam que um bólido de dez metros, chegando à atmosfera
terrestre a uma velocidade de 15 quilômetros por segundo, provocaria uma
explosão equivalente à bomba atômica que destruiu Hiroshima (30 mil toneladas
de TNT). Com 100 metros de diâmetro, a energia liberada equivaleria á de mil
dessas bombas, ou 30 megatons. Como se vê, a realidade é muito mais assombrosa,
fascinante, misteriosa e não raro apavorante do que a mais delirante e
exacerbada fantasia, fruto exclusivo da imaginação. E é tema literário? O que
você acha, atento leitor?
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