Rajiv tem a fibra de Indira
Pedro J. Bondaczuk
O
primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, está novamente acossado pela oposição,
que exige a sua renúncia sob a clássica acusação, tão comum em países do
Terceiro Mundo, de corrupção em seu governo. Os oposicionistas vêm insistindo
na campanha para a derrubada do filho de Indira, embora não disponham de força
parlamentar suficiente para conseguir uma moção de desconfiança no Parlamento,
a única forma viável para a antecipação, em alguns dias, do pleito do corrente
ano.
Recentemente,
ocorreu uma demissão em massa de deputados que se opõem ao governo, objetivando
chamar a atenção da opinião pública para supostas mazelas governamentais e
sensibilizar a maioria do Partido do Congresso, para que vote pela derrubada do
seu líder.
O
que a oposição conseguiu, no entanto, com a greve geral desenvolvida ontem, a
terceira em âmbito nacional desde que a Índia conquistou, a ferro e fogo, a sua
independência em 1947, foi somente despertar uma grande onda de violência nos
seis Estados indianos que ela controla. Neles, a adesão à paralisação foi
expressiva. Mas a pancadaria comeu solta. Em especial nas grandes metrópoles,
como Nova Delhi, Calcutá e Madras.
No
balanço final do dia de greve, 11 pessoas acabaram sendo mortas, mais de 350
saíram feridas, dezenas de milhares foram presas, e o governo sequer chegou a
ser abalado. Foi um desserviço da oposição ao país.
É
verdade que o prestígio de Rajiv caiu muito, desde que em 1984 ele foi eleito
como autêntico "salvador da pátria". Na ocasião, sua mãe, Indira
Gandhi, recentemente havia sido assassinada por "sikhs" da sua guarda
pessoal, em represália ao massacre do Templo Dourado de Amritsar, no Estado do
Punjab, ocorrido em 6 de julho desse ano. Em 31 de outubro, a controvertida
premier, que oscilou, em várias ocasiões, da glória à desgraça --- oportunidade
em que foi presa por corrupção --- e desta novamente para a consagração
popular, em 1980, foi estupidamente abatida a tiros, quando se preparava para
conceder uma audiência particular ao ator britânico Peter Ustinov.
O
atual primeiro-ministro, no entanto, pautou sua conduta, quando assumiu, em
circunstâncias bastante perigosas --- com a população buscando vingança contra
os separatistas do Punjab, o que colocou o país em risco de uma guerra civil
--- pela serenidade. Conseguiu, em primeiro lugar, esfriar os ânimos populares,
restabelecendo a ordem. Mas fracassou na tarefa de reconciliação.
Embora
jamais pudesse se apresentar em público sem proteção especial, para não ser
também assassinado, nunca revidou contra os agressores. Perdeu, é verdade,
alguns pontinhos de popularidade. Mas não será nenhuma surpresa se ele acabar,
para desespero da oposição, obtendo uma consagradora reeleição no pleito deste
ano, seguindo os passos de sua mãe. Afinal, filho de peixe...
(Artigo
publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 31 de agosto de
1989).
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