Wednesday, December 17, 2014

Não se mata uma idéia com armas


Pedro J. Bondaczuk


O primeiro-ministro chinês, Li Peng, veio a público, ontem, para afirmar perante a comunidade internacional que iria agir “sem piedade” contra os que participaram do movimento que ocorreu, recentemente, na China, em favor da democracia, esmagado pelos tanques do 27º Exército e pela prepotência de dirigentes fanáticos, que só conhecem uma linguagem para se impor: o terror.

Aliás, esse é o expediente favorito dos tiranos e das tiranias, que lidam com vidas alheias como se estas não tivessem nenhum valor. Em geral, um caudilho qualquer, ao assumir ilegitimamente o poder (que deveria sempre emanar do e pertencer ao povo) se vale da violência extrema, da calúnia e da ameaça para manter seu domínio. Nunca o faz através de uma idéia. Mediante a força da verdade.

A regra é o ditador escolher alguma personalidade da vida pública muito respeitada e reputada do regime anterior assim que seu golpe se consolide. Feita tal escolha, ele determina ou o encarceramento sumário, sem julgamento ou maiores considerações legais, ou simplesmente executa a vítima publicamente, com a pecha de traidora, ou corrupta, ou algo que o valha.

Não é difícil, através do medo que desperta, arrolar “testemunhas” que confirmem tais acusações por mais injustas que elas pareçam. Com isso, o tirano pretende desestimular qualquer espécie de reação. Tenta implantar, de forma às vezes sutil, e outras tantas até bem desastrada e ostensiva, o temor por tudo e por todos.

Por exemplo, estimula e até chega a premiar a delação como sendo uma virtude, um ato de civismo, levando irmão a entregar irmão, pai entregar filho e assim por diante por coisas que sequer são crimes, como ocorreu na China pós-massacre de Pequim.

Os cidadãos passam a ter receio de emitir opiniões, às vezes sobre os assuntos mais triviais. Acabam pode desenvolver uma desconfiança patológica por tudo e por todos. Convenhamos, isto está muito longe de significar ao menos um arremedo de liberdade. É a mais brutal das tiranias!

O italiano Vittorio Alfieri observou que “o medo de tudo e de todos gera a covardia e com ela, a tirania, isto é, o governo de um só”. Por isso, o primeiro ato dos tiranos, assim que tomam o poder, é obter o controle absoluto dos meios de comunicação. Ou seja, da “consciência de uma nação”.

É o que o primeiro-ministro chinês vem tentando fazer, com sua campanha de ameaças e de perseguições. Todavia, dificilmente ele terá sucesso na sua tentativa. O que ele pretende, é algo impossível. Não se mata uma idéia com armas e nem se esmaga a esperança com tanques.

Dia virá em que a verdade, acerca do horror vivido pelos participantes do heróico movimento pela democracia da Praça da Paz Celestial virá à tona, límpida, luzente e por inteiro. É mera questão de tempo.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1989).


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