Não se mata uma idéia com armas
Pedro
J. Bondaczuk
O primeiro-ministro chinês, Li Peng, veio a público,
ontem, para afirmar perante a comunidade internacional que iria agir “sem
piedade” contra os que participaram do movimento que ocorreu, recentemente, na
China, em favor da democracia, esmagado pelos tanques do 27º Exército e pela
prepotência de dirigentes fanáticos, que só conhecem uma linguagem para se
impor: o terror.
Aliás, esse é o expediente
favorito dos tiranos e das tiranias, que lidam com vidas alheias como se estas
não tivessem nenhum valor. Em geral, um caudilho qualquer, ao assumir
ilegitimamente o poder (que deveria sempre emanar do e pertencer ao povo) se
vale da violência extrema, da calúnia e da ameaça para manter seu domínio.
Nunca o faz através de uma idéia. Mediante a força da verdade.
A regra é o ditador escolher
alguma personalidade da vida pública muito respeitada e reputada do regime
anterior assim que seu golpe se consolide. Feita tal escolha, ele determina ou
o encarceramento sumário, sem julgamento ou maiores considerações legais, ou
simplesmente executa a vítima publicamente, com a pecha de traidora, ou
corrupta, ou algo que o valha.
Não é difícil, através do medo
que desperta, arrolar “testemunhas” que confirmem tais acusações por mais
injustas que elas pareçam. Com isso, o tirano pretende desestimular qualquer
espécie de reação. Tenta implantar, de forma às vezes sutil, e outras tantas
até bem desastrada e ostensiva, o temor por tudo e por todos.
Por exemplo, estimula e até chega
a premiar a delação como sendo uma virtude, um ato de civismo, levando irmão a
entregar irmão, pai entregar filho e assim por diante por coisas que sequer são
crimes, como ocorreu na China pós-massacre de Pequim.
Os cidadãos passam a ter receio
de emitir opiniões, às vezes sobre os assuntos mais triviais. Acabam pode
desenvolver uma desconfiança patológica por tudo e por todos. Convenhamos, isto
está muito longe de significar ao menos um arremedo de liberdade. É a mais
brutal das tiranias!
O italiano Vittorio Alfieri
observou que “o medo de tudo e de todos gera a covardia e com ela, a tirania,
isto é, o governo de um só”. Por isso, o primeiro ato dos tiranos, assim que
tomam o poder, é obter o controle absoluto dos meios de comunicação. Ou seja, da
“consciência de uma nação”.
É o que o primeiro-ministro
chinês vem tentando fazer, com sua campanha de ameaças e de perseguições.
Todavia, dificilmente ele terá sucesso na sua tentativa. O que ele pretende, é
algo impossível. Não se mata uma idéia com armas e nem se esmaga a esperança
com tanques.
Dia virá em que a verdade, acerca
do horror vivido pelos participantes do heróico movimento pela democracia da
Praça da Paz Celestial virá à tona, límpida, luzente e por inteiro. É mera
questão de tempo.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 20
de junho de 1989).
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