É a ocasião que faz o ladrão
Pedro J. Bondaczuk
A
"guerra", que o presidente norte-americano, George Bush, declarou às
drogas em seu país, envolvendo aspectos que vão desde a produção ao consumo,
tende a ser das mais ferozes que se possa imaginar. O fato dele ter destinado
uma verba de quase US$ 8 bilhões, contudo, não significa, por si só, que a sua
estratégia vá dar certo.
Até
porque, esse é um comércio muito lucrativo nesse país. Movimenta, anualmente,
somas extraordinárias, que são "lavadas", obviamente, com a
conivência e a cumplicidade de instituições financeiras consideradas sérias em
nível internacional e vão parar em mãos de uns poucos bilionários, que se
locupletam com a falta de juízo de milhões e milhões de pessoas.
O
número de consumidores, dos vários tipos de drogas, nessa superpotência, é
qualquer coisa de espantoso. As razões do uso dessas substâncias são as mais
diversas. As conseqüências é que, em geral, costumam ser iguais.
Estima-se
que apenas a cocaína, contando aí a sua variedade fumável, conhecida como
"crack", movimenta anualmente, em território norte-americano,
qualquer coisa em torno de US$ 120 bilhões. O bom senso diz, portanto, que as
organizações criminosas responsáveis pelo tráfico não vão se render com tanta
facilidade quanto se pensa.
Se
a Casa Branca vai investir em torno de US$ 7,9 bilhões para o combate ao vício,
certamente os poderosos cartéis deverão destinar o dobro ou o triplo dessa
cifra para o incremento da narcomania. Afinal, seus recursos são procedentes
das próprias vítimas.
As
poderosas quadrilhas de traficantes não dependem de aprovações orçamentárias de
políticos insensatos, alguns possivelmente corrompidos pelos barões da cocaína,
ou pelo menos corruptíveis. Não estão presos a aumentos ou não de impostos e
nem a qualquer burocracia. Basta que reduzam a quantidade da droga à disposição
dos viciados no mercado.
Desgraçadamente,
nestes casos, a lei da oferta e da procura funciona maravilhosamente bem. Os
que são escravos desse produto movem céus e terras para a sua obtenção.
Qualquer que seja o seu preço. Dessa forma, apenas esse lucro excedente pode
servir como investimento para desmobilizar, sem muito esforço, aquilo que custa
tanto sacrifício para as autoridades governamentais.
Portanto,
que o plano de Bush não seja considerado, por si só, como uma segurança de que
finalmente esse problema, que de uma forma ou de outra afeta hoje 70% da
população norte-americana (senão a sua totalidade) seja solucionado e que essa
"guerra" venha a ser vencida. Até porque, onde corre muito dinheiro,
a possibilidade de corrupção cresce assustadoramente. E como se sabe, em geral,
é a "ocasião que faz o ladrão".
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de setembro de
1989).
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