Crises e messianismo
Pedro J. Bondaczuk
A
fulminante ascensão política do candidato independente à presidência do Peru,
Alberto Fujimori, veio mostrar um dos lados mais perversos gerados por uma
crise econômica em determinado país: o messianismo. Situações desesperadoras
tendem a abrir um vácuo no poder, geralmente preenchido por aventureiros, com
propostas vagas, que não resistem à mínima análise quando não sem nenhuma. As
pessoas se deixam levar por suas esperanças e perdem contato com a realidade.
Passam a acreditar em soluções miraculosas, enunciadas pomposamente nos
palanques, sem atentar para o fato de que, se as coisas fossem tão fáceis como
esses demagogos querem dar a entender, alguém já teria lançado mão de tais
medidas "salvadoras" para se perpetuar na história.
Adolf
Hitler, na Alemanha, foi um fruto típico da hiperinflação germânica da década
de 1920. E nem é preciso pesquisar muito para se encontrar uma fartura de
exemplos semelhantes. Parece que o Peru está para embarcar nesta onda. O
eleitorado está em vias de deixar de lado uma proposta consistente, lógica e
factível, apresentada à sociedade pelo escritor Mário Vargas Llosa, para ir
atrás de vagas promessas de alguém que até ontem era desconhecido. Tudo ía
muito bem com a campanha do candidato centro-direitista, que parecia prestes a
colher uma das vitórias mais amplas, expressivas e sobretudo fáceis, já obtidas
em eleições presidenciais no Peru, prescindindo até mesmo de um segundo turno,
até que o consagrado romancista começasse a detalhar seu futuro programa de
governo. Bastou somente que ele levantasse a hipótese da implantação de um
plano de austeridade, semelhante ao do Brasil, para que o eleitorado vacilasse.
Compreende-se
o temor dos peruanos, que empobreceram muito durante a decepcionante gestão de
Alan Garcia, cansados de tantas privações e sofrimentos. Nestes momentos,
porém, é que se precisa usar mais a cabeça. É em tais ocasiões que não se pode
deixar levar "pelo canto da sereia", que costuma ser aliciador e doce,
mas extremamente perigoso. Fujimori pode até ser um fenômeno de comunicação,
mas objetivamente nâo expôs qualquer solução para os problemas que afligem a
população do seu país. Não apresentou nenhum projeto consistente para debelar
uma inflação que se aproxima dos 3.000% anuais, para acabar com um desemprego
ao redor de 16% da mão-de-obra ativa ou pôr fim à violência guerrilheira, que
em somente dez anos ceifou ao redor de 16 mil vidas.
Ainda
há tempo dos eleitores refletirem sobre o futuro. No segundo turno, os
programas tenderão a ficar mais claros, já que a disputa vai se restringir a
somente dois candidatos, e não mais a nove, como ocorreu no primeiro. É
importante, no instante do voto, que cada eleitor seja, sobretudo, realista e
não se deixe enganar por palavras bonitas, mas despidas de qualquer conteúdo
prático.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de abril de
1990)
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