Presidente
erra, mas costuma ser coerente
Pedro J. Bondaczuk
O presidente norte-americano Ronald Reagan pode Ter vários
defeitos, que têm sido explorados fartamente por seus adversários políticos.
Mas tem uma virtude fundamental: luta por aquilo em que acredita. Ou seja, é um
estadista de convicções firmadas. É verdade que algumas são contestáveis, como
a sua implicância com a Nicarágua dos sandinistas, embora até nisto seja
coerente.
Reagan detesta ditadores, seja de que coloração
ideológica forem. Tanto é que durante seus dois mandatos, dois dos mais cruéis
caudilhos caíram: “Baby Doc”, no Haiti, e Ferdinand Marcos, nas Filipinas. E
Pinochet tem sido hostilizado.
As Américas viram as suas ditaduras militares serem
substituídas, uma a uma, por governos civis. E Reagan não deu tréguas aos
Najibullahs, aos Samrins e Ortegas da vida. Mas de todos os pontos em que o
presidente norte-americano mostrou coerência, o da liberdade de comércio
mundial foi o fundamental.
Ele tem alergia a protecionismos. Muitos podem estar
estranhando isto, quando se sabe que ainda recentemente o governante da
potência mais rica do mundo resolveu sobretaxar produtos brasileiros, como
punição pela política de reserva de mercado do Brasil na área de
microcomputadores.
Ocorre que as pressões que recebeu para agir assim
foram irresistíveis. Reagan impediu o ato punitivo o quanto pôde. E se fosse
depender do Partido Democrata, a coisa até que poderia ser pior. Ele amaciou um
pouco o impacto do castigo, para que não fosse excessivamente duro.
Agora, o presidente norte-americano trava um
braço-de-ferro com o Congresso do seu país em torno de uma legislação comercial
que, se for aprovada da forma em que está, vai alterar, para pior, as normas
que regem as transações comerciais internacionais.
Para ele pouco importa a argumentação de que todos
os países, parceiros ou adversários dos Estados Unidos, de uma maneira ou de
outra, praticam ações protecionistas. Reagan entende que o comércio deve ser
livre (nas duas mãos, obviamente). E não abre mão desse ponto de vista por nada
deste mundo, como ainda se opõe a outras coisas mais, às quais também nos
opomos, como a excessiva intervenção dos governos na vida das comunidades, o
aumento dos impostos para empresas e cidadãos e os gastos excessivos dos homens
públicos, com finalidades demagógicas.
Pena que o escândalo “Irã-contras” tenha reduzido o
seu campo de manobra e ele se veja na contingência de ceder terreno nestas
questões. Pena mesmo!
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 21 de novembro de 1987)
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