Monday, December 22, 2014

Presidente erra, mas costuma ser coerente


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano Ronald Reagan pode Ter vários defeitos, que têm sido explorados fartamente por seus adversários políticos. Mas tem uma virtude fundamental: luta por aquilo em que acredita. Ou seja, é um estadista de convicções firmadas. É verdade que algumas são contestáveis, como a sua implicância com a Nicarágua dos sandinistas, embora até nisto seja coerente.

Reagan detesta ditadores, seja de que coloração ideológica forem. Tanto é que durante seus dois mandatos, dois dos mais cruéis caudilhos caíram: “Baby Doc”, no Haiti, e Ferdinand Marcos, nas Filipinas. E Pinochet tem sido hostilizado.

As Américas viram as suas ditaduras militares serem substituídas, uma a uma, por governos civis. E Reagan não deu tréguas aos Najibullahs, aos Samrins e Ortegas da vida. Mas de todos os pontos em que o presidente norte-americano mostrou coerência, o da liberdade de comércio mundial foi o fundamental.

Ele tem alergia a protecionismos. Muitos podem estar estranhando isto, quando se sabe que ainda recentemente o governante da potência mais rica do mundo resolveu sobretaxar produtos brasileiros, como punição pela política de reserva de mercado do Brasil na área de microcomputadores.

Ocorre que as pressões que recebeu para agir assim foram irresistíveis. Reagan impediu o ato punitivo o quanto pôde. E se fosse depender do Partido Democrata, a coisa até que poderia ser pior. Ele amaciou um pouco o impacto do castigo, para que não fosse excessivamente duro.

Agora, o presidente norte-americano trava um braço-de-ferro com o Congresso do seu país em torno de uma legislação comercial que, se for aprovada da forma em que está, vai alterar, para pior, as normas que regem as transações comerciais internacionais.

Para ele pouco importa a argumentação de que todos os países, parceiros ou adversários dos Estados Unidos, de uma maneira ou de outra, praticam ações protecionistas. Reagan entende que o comércio deve ser livre (nas duas mãos, obviamente). E não abre mão desse ponto de vista por nada deste mundo, como ainda se opõe a outras coisas mais, às quais também nos opomos, como a excessiva intervenção dos governos na vida das comunidades, o aumento dos impostos para empresas e cidadãos e os gastos excessivos dos homens públicos, com finalidades demagógicas.

Pena que o escândalo “Irã-contras” tenha reduzido o seu campo de manobra e ele se veja na contingência de ceder terreno nestas questões. Pena mesmo!  

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 21 de novembro de 1987)


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