Tuesday, December 09, 2014

Perestroika, a notícia do ano


Pedro J. Bondaczuk

A "glasnost", e a sua irmã gêmea, a "perestroika", ou seja, as reformas sociais, políticas e econômicas empreendidas pelo líder Mikhail Gorbachev na União Soviética, despontaram como os dois fatos de maior relevância no cenário internacional, no ano que está terminando, na opinião da maioria dos editores de jornais e revistas do mundo todo. Mesmo enfrentando obstáculos que pareciam à primeira vista intransponíveis, as duas iniciativas deram passos largos, diríamos gigantescos, nos últimos 365 dias, que estão se refletindo através de todo o Leste europeu.

Por exemplo, na Polônia, o dirigente sindical, Lech Walesa, pôde travar um debate ao vivo pela televisão com um sindicalista ligado ao governo. Dias depois, esse mesmo e controvertido homem público recebeu autorização para ir a Paris, onde participou dos festejos do 40º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Na Hungria, o Parlamento magiar está debatendo uma lei que, se aprovada, vai terminar com o monopólio do Partido Comunista no país, instituindo o multipartidarismo. Na Checoslováquia, até a Rádio Europa Livre, que sofria interferências em suas transmissões, já pode ser ouvida por qualquer checo. Convenhamos, são coisas muito pequenas ainda as que aconteceram nas nações sob a influência soviética. Mas isso tudo seria absolutamente inconcebível há somente três anos, antes da ascensão de Gorbachev ao Cremlin.

Outra coisa que ressalta a validade da "glasnost" é o tratamento que a imprensa soviética vem dando às tarefas de socorro na Armênia, atingida no dia 7 passado por um devastador terremoto. Paralelamente todos os jornais locais vêm destacando a desorganização existente no atendimento aos sobreviventes dessa catástrofe. O tom triunfalista e de auto-suficiência que antes existia nos editoriais e até nos noticiários, desapareceu.

Pode-se dizer, portanto, que finalmente os soviéticos começam a praticar um jornalismo de alta qualidade. Até mesmo a Agência Tass enviou, ontem, um despacho, destacando a forma inadequada com que o desastre natural vem sendo tratado. E o ministro da Saúde admitiu que o país precisa dispor de um serviço de socorro de emergência para situações como a atual, e como a que se verificou durante a explosão do reator número quatro da usina nuclear de Chernobyll.

Por isso, Gorbachev apareceu num lugar de destaque entre as personalidades internacionais mais confiáveis, numa pesquisa realizada, pasmem, nos Estados Unidos! Oxalá ele tenha sucesso na sua "glasnost" e na "perestroika". Tudo leva a crer que, neste aspecto, o próximo ano haverá de ser tão excitante quanto este, que vai acabar dentro de 16 dias.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 15 de dezembro de 1989)


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