Perestroika, a notícia do ano
Pedro J. Bondaczuk
A
"glasnost", e a sua irmã gêmea, a "perestroika", ou seja,
as reformas sociais, políticas e econômicas empreendidas pelo líder Mikhail
Gorbachev na União Soviética, despontaram como os dois fatos de maior
relevância no cenário internacional, no ano que está terminando, na opinião da
maioria dos editores de jornais e revistas do mundo todo. Mesmo enfrentando
obstáculos que pareciam à primeira vista intransponíveis, as duas iniciativas
deram passos largos, diríamos gigantescos, nos últimos 365 dias, que estão se
refletindo através de todo o Leste europeu.
Por
exemplo, na Polônia, o dirigente sindical, Lech Walesa, pôde travar um debate
ao vivo pela televisão com um sindicalista ligado ao governo. Dias depois, esse
mesmo e controvertido homem público recebeu autorização para ir a Paris, onde
participou dos festejos do 40º aniversário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Na
Hungria, o Parlamento magiar está debatendo uma lei que, se aprovada, vai
terminar com o monopólio do Partido Comunista no país, instituindo o
multipartidarismo. Na Checoslováquia, até a Rádio Europa Livre, que sofria
interferências em suas transmissões, já pode ser ouvida por qualquer checo.
Convenhamos, são coisas muito pequenas ainda as que aconteceram nas nações sob
a influência soviética. Mas isso tudo seria absolutamente inconcebível há
somente três anos, antes da ascensão de Gorbachev ao Cremlin.
Outra
coisa que ressalta a validade da "glasnost" é o tratamento que a
imprensa soviética vem dando às tarefas de socorro na Armênia, atingida no dia
7 passado por um devastador terremoto. Paralelamente todos os jornais locais
vêm destacando a desorganização existente no atendimento aos sobreviventes
dessa catástrofe. O tom triunfalista e de auto-suficiência que antes existia
nos editoriais e até nos noticiários, desapareceu.
Pode-se
dizer, portanto, que finalmente os soviéticos começam a praticar um jornalismo
de alta qualidade. Até mesmo a Agência Tass enviou, ontem, um despacho,
destacando a forma inadequada com que o desastre natural vem sendo tratado. E o
ministro da Saúde admitiu que o país precisa dispor de um serviço de socorro de
emergência para situações como a atual, e como a que se verificou durante a
explosão do reator número quatro da usina nuclear de Chernobyll.
Por
isso, Gorbachev apareceu num lugar de destaque entre as personalidades
internacionais mais confiáveis, numa pesquisa realizada, pasmem, nos Estados
Unidos! Oxalá ele tenha sucesso na sua "glasnost" e na
"perestroika". Tudo leva a crer que, neste aspecto, o próximo ano
haverá de ser tão excitante quanto este, que vai acabar dentro de 16 dias.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 15 de dezembro de
1989)
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