Futuro comprometido
O presidente dos EUA,
Ronald Reagan, em seu debate pela TV norte-americana, no domingo passado, com o
democrata Walter Mondale, fez uma apologia apaixonada do sistema de defesa
espacial, chamado um tanto poeticamente de “guerra nas estrelas”. O mecanismo
consistiria, basicamente, de potentíssimos canhões de raios laser e de raios-x
instalados no espaço, que teriam a capacidade de desativar mísseis balísticos
intercontinentais do inimigo, impedindo a explosão de suas ogivas nucleares nos
alvos predeterminados.
Reagan
salientou, na oportunidade, que esse sistema defensivo tornaria as armas
nucleares obsoletas, pela impossibilidade delas cumprirem seu objetivo de
destruição. Esqueceu de dizer (esqueceu mesmo?), que para isso ser possível, as
duas superpotências teriam que contar com o mesmo dispositivo. Se contassem,
que bom seria se as coisas fossem realmente assim tão simples! Todos sabem, no
entanto, ou pelo menos pressentem, que não são.
Entretanto,
os autores do livro “Contagem Regressiva para a Guerra Espacial” rebatem as
afirmações do presidente norte-americano (que inclusive, no debate, foi acusado
por Mondale de estar desinformado a esse respeito) e garantem que, na verdade,
os canhões de laser seriam até mesmo mais perigosos para o país que os possuir,
por obrigarem o inimigo a se utilizar de todos os mísseis do seu arsenal
simultaneamente, já que o sistema teria a capacidade de deter somente 40%
deles.
Isso
representa que seis mil balísticos soviéticos (dos dez mil que a superpotência
possui), atingiriam o alvo, quantidade suficiente para arrasar, não apenas os
EUA, mas o próprio mundo em pelo menos 40 vezes. Ou seja, teriam um potencial
para destruir 40 planetas do porte do nosso.
Surge,
naturalmente, uma pergunta lógica diante dessa informação: compensaria o
investimento que o sistema vai requerer (orçado, muito por baixo, em US$ 1
trilhão, ou Cr$ 2,5 quatrilhões) para tão pequeno resultado? De onde viria
tanto dinheiro (o equivalente a quase duas vezes toda a dívida externa mundial,
que anda pela casa dos US$ 850 bilhões), se, como todos sabem, nenhum recurso
tem geração espontânea e não brota simplesmente do nada, como num passe de
mágica?
Os
leitores já adivinharam de onde será tirado tanto dinheiro, não é mesmo?
Levando-se em conta que os russos também estão trabalhando em sistema
semelhante (embora para consumo externo queiram posar de bonzinhos), com custos
certamente em nada inferiores aos dos EUA, concluímos que praticamente a metade
de toda a riqueza gerada pela humanidade será empatada nessas engenhocas, cujos
resultados práticos ainda são incertos.
Não
seria mais sensato, então, destinar insignificante 1% dessa quantia para
socorrer, por exemplo, a população etíope, morrendo, literalmente, de fome? Ou
para educar quase 50% da humanidade, mergulhada num irreversível analfabetismo?
Ou para reduzir os alarmantes índices de mortalidade infantil registrados no
Terceiro Mundo?
Há
um meio muito mais simples e racional de acabar com o perigo das armas nucleares.
Mas esse é lógico demais para seres ilógicos, como provaram ser os homens.
(Artigo
publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 26 de outubro de
1984).
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