Thursday, October 12, 2017

Vastos tapetes de plantas em pleno mar



Pedro J. Bondaczuk


Na área em que se localiza o famoso (e perigoso) “Triângulo das Bermudas” está um dos mais espetaculares e belos mistérios da natureza. Em determinado trecho do Oceano Atlântico o marinheiro que nunca esteve por aquelas bandas se surpreende quando vê à sua frente quilômetros e mais quilômetros de um “tapete verde” sobre as águas, como um enorme e irreal gramado. Mas não se trata de nenhuma miragem. Essas formações devem-se a um certo tipo de algas, conhecido como “sargaços”, cujo nome científico é “Sargassum halimium lasianthum”. Esclareça-se que esse tipo de planta não é exclusivo daquela região do hemisfério norte.

No litoral brasileiro, por exemplo, existem vários tipos delas. É mais comum que os sargaços cresçam grudados às rochas à beira mar. Todavia, podem se espalhar oceano afora, por vastas extensões, como ocorre na região do Triângulo das Bermudas. O naturalista Eurico Cabral de Oliveira, da Universidade de São Paulo, especialista em algas marinhas, explicou, em matéria publicada pelo site “Mundo estranho”, como essas plantas formam os tapetes verdes em pleno mar que espantam quem os vê pela primeira vez: “Enormes colônias de sargaços boiam nas águas mornas do Atlântico graças às suas vesículas flutuadoras, que funcionam como pequenos balões cheios de ar”.

Muitos que já navegaram na região do Caribe chegaram até a pensar que estavam delirando diante de tal visão, tão irreal ela lhes pareceu. Os navegadores europeus, responsáveis pelo de4scobrimento do Novo Mundo, por não compreenderem devidamente o fenômeno, deixaram narrativas aterradoras sobre navios aprisionados no Mar dos Sargaços, com tripulações inteiras morrendo à míngua pelo fato dos barcos serem impedidos de saírem do lugar. Não se sabe, todavia, o quanto há de verdade e o quanto de fantasia em tais narrativas. Afinal, marinheiros tendiam (e provavelmente tendem) a ser exagerados, até para valorizar ainda mais suas façanhas.

Essas plantas, com apêndices foliáceos, e vesículas redondas que agem como flutuadores, se adaptam muito bem às altíssimas salinidades. Elas manifestam-se de duas formas. Às vezes aparecem em tufos isolados, formando milhares de pequeninas “ilhas” verdejantes, de um efeito visual incrível. Em outros casos, surgem como verdadeiros “campos” de vegetação marinha flutuando ao sabor dos ventos. É como se a gente visse um enorme pasto só que, ao invés dele estar estático, balança de um lado para outro. Esse é o Mar dos Sargaços, que fica a meio caminho entre a América do Norte e a Europa.

O primeiro europeu a descrever esse fenômeno, em 1492, foi o navegador genovês Cristóvão Colombo, mas sem os exageros de tantas e tantas outras narrativas feitas por centenas de marujos. E ele bem que poderia exagerar, nem que fosse apenas um pouco, pois encontrou sérias dificuldades para conduzir a caravela Nina rumo à América, atravessando aquela região que, além desse obstáculo, para ele novo, é uma zona de calmaria, o que atrapalhava a navegação que na época era feita por barcos à vela e, portanto, dependentes de ventos para se movimentar.

E olhem que o Mar de Sargaços não é pouca coisa, como os desavisados possam supor. É um obstáculo gigante, magnífico, de enormes proporções. Afinal, são cinco milhões de quilômetros quadrados cobertos por algas, e aa área é delimitada, para complicar ainda mais, por quatro correntes marítimas: a do Golfo do México, a do Atlântico Norte, a das Canárias e a do Norte Equatorial.

Os tufos de plantas raramente possuem, isolados, mais de 30 centímetros de diâmetro e têm uns poucos decímetros de altura. A coloração é verde oliva na parte superior. Em alguns trechos essa cor é clara ou amarelada. Na base, todos os sargaços são castanhos. Sobre a superfície, brotam milhões de cogumelos parasitas. Diversos pequenos animais sobrevivem à custa dessas algas e nelas os peixes voadores depositam suas ovas. Sob essa capa verde oliva há muita vida. Crustáceos, de vários tipos e tamanhos, são encontrados ali. E milhões de peixes circulam debaixo dos sargaços, num dos mais expressivos exemplos de mimetismo.


Cristóvão Colombo, ao navegar por aquela área, a princípio nem acreditou no que viu. Afinal, trata-se de um fenômeno razoavelmente raro nos mares. Antes de descobrir a América, o genovês, portanto, teve que ultrapassar antes o “guardião” do novo continente, o “Triângulo da Morte”, com seus mistérios e sua selvagem beleza e por pouco não pagou com a vida por sua ousadia.

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