Vastos tapetes de plantas em pleno mar
Pedro J. Bondaczuk
Na
área em que se localiza o famoso (e perigoso) “Triângulo das
Bermudas” está um dos mais espetaculares e belos mistérios da
natureza. Em determinado trecho do Oceano Atlântico o marinheiro que
nunca esteve por aquelas bandas se surpreende quando vê à sua
frente quilômetros e mais quilômetros de um “tapete verde”
sobre as águas, como um enorme e irreal gramado. Mas não se trata
de nenhuma miragem. Essas formações devem-se a um certo tipo de
algas, conhecido como “sargaços”, cujo nome científico é
“Sargassum halimium lasianthum”. Esclareça-se que esse tipo de
planta não é exclusivo daquela região do hemisfério norte.
No
litoral brasileiro, por exemplo, existem vários tipos delas. É mais
comum que os sargaços cresçam grudados às rochas à beira mar.
Todavia, podem se espalhar oceano afora, por vastas extensões, como
ocorre na região do Triângulo das Bermudas. O naturalista Eurico
Cabral de Oliveira, da Universidade de São Paulo, especialista em
algas marinhas, explicou, em matéria publicada pelo site “Mundo
estranho”, como essas plantas formam os tapetes verdes em pleno mar
que espantam quem os vê pela primeira vez: “Enormes colônias de
sargaços boiam nas águas mornas do Atlântico graças às suas
vesículas flutuadoras, que funcionam como pequenos balões cheios de
ar”.
Muitos
que já navegaram na região do Caribe chegaram até a pensar que
estavam delirando diante de tal visão, tão irreal ela lhes pareceu.
Os navegadores europeus, responsáveis pelo de4scobrimento do Novo
Mundo, por não compreenderem devidamente o fenômeno, deixaram
narrativas aterradoras sobre navios aprisionados no Mar dos Sargaços,
com tripulações inteiras morrendo à míngua pelo fato dos barcos
serem impedidos de saírem do lugar. Não se sabe, todavia, o quanto
há de verdade e o quanto de fantasia em tais narrativas. Afinal,
marinheiros tendiam (e provavelmente tendem) a ser exagerados, até
para valorizar ainda mais suas façanhas.
Essas
plantas, com apêndices foliáceos, e vesículas redondas que agem
como flutuadores, se adaptam muito bem às altíssimas salinidades.
Elas manifestam-se de duas formas. Às vezes aparecem em tufos
isolados, formando milhares de pequeninas “ilhas” verdejantes, de
um efeito visual incrível. Em outros casos, surgem como verdadeiros
“campos” de vegetação marinha flutuando ao sabor dos ventos. É
como se a gente visse um enorme pasto só que, ao invés dele estar
estático, balança de um lado para outro. Esse é o Mar dos
Sargaços, que fica a meio caminho entre a América do Norte e a
Europa.
O
primeiro europeu a descrever esse fenômeno, em 1492, foi o navegador
genovês Cristóvão Colombo, mas sem os exageros de tantas e tantas
outras narrativas feitas por centenas de marujos. E ele bem que
poderia exagerar, nem que fosse apenas um pouco, pois encontrou
sérias dificuldades para conduzir a caravela Nina rumo à América,
atravessando aquela região que, além desse obstáculo, para ele
novo, é uma zona de calmaria, o que atrapalhava a navegação que na
época era feita por barcos à vela e, portanto, dependentes de
ventos para se movimentar.
E
olhem que o Mar de Sargaços não é pouca coisa, como os desavisados
possam supor. É um obstáculo gigante, magnífico, de enormes
proporções. Afinal, são cinco milhões de quilômetros quadrados
cobertos por algas, e aa área é delimitada, para complicar ainda
mais, por quatro correntes marítimas: a do Golfo do México, a do
Atlântico Norte, a das Canárias e a do Norte Equatorial.
Os
tufos de plantas raramente possuem, isolados, mais de 30 centímetros
de diâmetro e têm uns poucos decímetros de altura. A coloração é
verde oliva na parte superior. Em alguns trechos essa cor é clara ou
amarelada. Na base, todos os sargaços são castanhos. Sobre a
superfície, brotam milhões de cogumelos parasitas. Diversos
pequenos animais sobrevivem à custa dessas algas e nelas os peixes
voadores depositam suas ovas. Sob essa capa verde oliva há muita
vida. Crustáceos, de vários tipos e tamanhos, são encontrados ali.
E milhões de peixes circulam debaixo dos sargaços, num dos mais
expressivos exemplos de mimetismo.
Cristóvão
Colombo, ao navegar por aquela área, a princípio nem acreditou no
que viu. Afinal, trata-se de um fenômeno razoavelmente raro nos
mares. Antes de descobrir a América, o genovês, portanto, teve que
ultrapassar antes o “guardião” do novo continente, o “Triângulo
da Morte”, com seus mistérios e sua selvagem beleza e por pouco
não pagou com a vida por sua ousadia.
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