Região
de mistérios e de lendas
Pedro J. Bondaczuk
Desde
quando o primeiro homem relativamente civilizado descobriu que
poderia navegar, os mares vêm despertando temor e fascínio nos
homens de vários tempos. Em torno das atividades náuticas foram
criados lendas e mitos, dando conta de hipotéticos oceanos povoados
por monstros marinhos, que, entre outras coisas, tragariam
embarcações inteiras. com toda a tripulação a bordo e de uma
única bocada. Fantasia, claro. Nada disso jamais aconteceu. Mas...
Águas
ferventes e despenhadeiros infinitos, no local onde “o mundo
acabava”, eram citados por velhos marinheiros, nas longas conversas
mantidas em tavernas fumarentas, onde as narrações de pseudofeitos
gloriosos, na verdade enormes bravatas, eram desfiadas, acompanhadas
de generosas libações alcoólicas.
Até
a histórica viagem de Cristóvão Colombo, que partindo da Europa
visava a cruzar “oceanos desconhecidos” para aportar no outro
lado da Terra, em Cypango (como então era conhecido o Japão),
vasta região do Atlântico Norte permanecia praticamente
inexplorada. Pouquíssimos marinheiros se aventuravam a navegar por
essas águas. Por que? Pelo medo que os navegadores tinham do
desconhecido, com seus supostos monstros e abismos sem fim. Poucos
acreditavam, até, que a Terra fosse redonda. Afirmar isso soaria
como um enorme disparate.
Hoje,
essa área é uma das de maior tráfego mundial, tanto aéreo, quanto
naval. Mas nem por isso deixa de ser centro de controvérsias entre
cientistas, místicos e o homem comum das ruas, fascinado por tudo o
quanto não possa ser explicado de uma forma acessível ao seu
entendimento.
Dos
mares que mais despertam a imaginação das pessoas, está o que
banha uma área abrangendo boa parte do Golfo do México,
estendendo-se por toda a costa Leste dos Estados Unidos, tendo seu
limite perto das Ilhas Açores, Atlântico adentro. É a região
conhecida como Triângulo das Bermudas, “Triângulo da Morte”, ou
“Triângulo do Diabo” (dependendo de quem a cita), onde pelo
menos 700 navios e aviões “desapareceram” nos últimos três
séculos. O que causou esses desaparecimentos? A maioria dos casos
jamais foi explicada e sequer destroços das naves e aeronaves
desaparecidas foram encontrados.
Parte
considerável desses desaparecimentos pode ser explicada pelas
peculiares condições atmosféricas existentes nessa área, rota,
aliás, de devastadores furacões que periodicamente atingem o Caribe
e o território norte-americano, traçando rastros de destruição e
mortes na sua passagem. Outra parte é atribuível a naturais falhas
humanas, causas de grandes desastres em todos os meios de transporte,
principalmente nos terrestres, teoricamente os mais seguros.
Há,
entretanto, diversos casos que têm desafiado todas as tentativas
lógicas de explicação. E que, dadas as características das
ocorrências, revelam-se sumamente misteriosos. Por isso tornam-se
campos férteis de especulação dos místicos, dos “videntes”,
dos malucos de plantão e dos espertalhões, à espera de
oportunidades para explorar a crendice dos supersticiosos e
ignorantes em próprio proveito. Mais destes últimos, aliás, do que
dos que buscam chegar à verdade. Malandros oportunistas se valem da
superstição alheia, para auferir gordos dividendos fazendo
sensacionalismo. E gente crédula e inocente, convenhamos, é o que
não falta, não é mesmo?
De
qualquer forma, o chamado “Triângulo das Bermudas” (que na
verdade é um trapézio de lados e ângulos irregulares), tem
registrado acontecimentos que à luz da ciência moderna não são
passivos (ainda) de explicação lógica e racional. É bom
frisar-se, todavia, que o homem, a despeito dos avanços em todas as
áreas do conhecimento, ainda está muito longe de saber de tudo,
especialmente quando se trata dos oceanos. Ou seja, não conhece
razoavelmente nem o Planeta que habita, quando mais os mistérios do
universo.
Muitos
fenômenos naturais ainda estão por serem entendidos e explicados e
outros tantos até por serem descobertos. O quanto há de verdade em
tudo o que se diz e se escreve acerca dessa região? Até que ponto
as explicações para os acidentes registrados nessas águas não são
deliberadamente distorcidos, com o propósito de justificar
determinadas “teorias”? O que de tão estranho e aterrador
acontece ali para dar razão ao seu tétrico apelido de “Triângulo
da Morte”?
Conta-se
que o navegador Cristóvão Colombo tomou o contato inicial com os
mistérios que cercam o “Triângulo das Bermudas” exatamente na
véspera de pisar a primeira terra do Novo Mundo, após meses de
viagem no mar e de enfrentar sério descontentamento entre os
marujos, que não confiavam no bom termo daquela aventura, para eles
irracional.
Foi
pouco antes que o marinheiro que estava na gávea de um dos três
barcos da expedição visse as ilhas de Crooked e Rum Cay, que teriam
sido as primeiras visões de um vasto e inexplorado continente, mais
tarde chamado de América. Toda a tripulação teria avistado, nessa
noite tensa, estranhos clarões esverdeados na linha do horizonte, se
movendo de um lado para o outro.
Para
os marujos, já apavorados, e prestes a se amotinar, isso seria o
prenúncio de um próximo fim iminente. Luzes semelhantes seriam
posteriormente testemunhadas, séculos depois, por diversos
navegadores, que escaparam dos perigos daquela área. Antropólogos
modernos explicam essa visão, no caso de Colombo, como sendo
reflexos de fogueiras acesas nas canoas dos habitantes das ilhas que
saíam à pesca à noite. Elas não teriam, portanto, nada de
sobrenatural.
Os
oceanógrafos têm outra explicação para tais luzes. Afirmam que
elas seriam originadas, também, por fogueiras, mas acesas pelos
índios Caraíbas nas praias. E que o quebrar das ondas distorcia,
tanto a cor das chamas, daí seu tom esverdeado, quanto dava a
sensação ilusória de movimento. Os defensores dos Óvnis também
têm sua teoria e essa é até dispensável de se declinar.
Para
eles, obviamente, a luz tinha origem extraterrestre, assinalando um
momento de grande importância para toda a humanidade, ou seja, a
iminência da descoberta da América. Seria, pois, uma forma dos
alienígenas de antecipar aquele grande momento. Tolice, claro. Tanto
as ilhas Crooked e Hum Cay, como a de Guaanani, a primeira terra onde
Colombo pisou e rebatizou de São Salvador (afinal, essa descoberta
fora extremamente providencial para evitar motim a bordo), pertencem
ao Arquipélago das Bahamas, localizando-se a Leste da que é
considerada a principal.
E
se esse incidente nada teve de sobrenatural, a experiência que a
esquadra do navegador genovês teria em 1º de julho de 1502 seria,
no mínimo, aterradora. Não tanto para ele, comandante experiente e
acostumado com os caprichos da natureza e, sobretudo, do mar, mas
para os 800 marinheiros da esquadra, capitaneada pelo almirante
espanhol Antonio de Torres, que levava, entre seus passageiros, Juan
Domingos Bobadilla.
Todos
os navios dessa frota estavam carregados de muito metal precioso.
Aquela fortuna mirabolante era destinada aos reis da Espanha,
financiadores da expedição. Havia, entre a carga, entre outras
preciosidades, uma mesa todinha de ouro, que pesava mais de três mil
arráteis (1.287 quilos), maciça, inteiramente feita com o precioso
metal. Tudo isso, no entanto, foi parar no fundo do Atlântico e até
hoje não foi localizado e muito menos resgatado. Quem se habilita ao
resgate? Voltarei certamente ao tema.
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