Esfinge política
Pedro J. Bondaczuk
O presidente em exercício,
Itamar Franco, continua sendo, pelo menos para parte considerável do
empresariado e expressiva parcela do mercado financeiro, mais
enigmático do que a esfinge mitológica, que estava posta à entrada
da cidade de Tebas e que foi abatida por Perseu.
Uns temem por seu apregoado
"populismo", que nos parece mais uma genuína preocupação
com a visível deterioração social do País, do que uma postura
simplesmente demagógica. Outros, acusam-no de ser lerdo nas
decisões, confrontando com um terceiro grupo que afirma exatamente o
contrário. Ou seja, critica-lhe a precipitação em algumas de suas
atitudes.
Todavia, aos poucos, com
aquele seu jeitão de mineiro, Itamar começa a conquistar a
confiança da população. Uma pesquisa de opinião feita pelo Ibope,
antes da viagem do presidente ao Senegal, há duas semanas, revelou
uma taxa de aprovação de 58%, o que não é nada desprezível, se
forem levadas em conta as circunstâncias em que ele assumiu os
destinos do País.
Faz sentido, por exemplo, o
tão criticado adiamento do anúncio do plano econômico de curto
prazo para o dia 18 próximo, quando o Senado deve decidir se afasta
definitivamente ou não o presidente Fernando Collor.
Embora o ânimo dos senadores
pareça revelar que tal decisão já seria irreversível, nunca se
sabe. Enquanto o impeachment não se concretizar, sempre haverá a
possibilidade, ainda que remota, de reversão.
Mas, mesmo entre o
empresariado, já começam a surgir lideranças que dão um voto de
confiança a Itamar. É o caso, por exemplo, do empresário Ricardo
Semler (que está lançando por estes dias um novo livro com o
sugestivo título de "Embrulhando o Peixe").
Comentando os dois meses de
governo do presidente interino, ele desabafou: "É diferente.
Está todo mundo estarrecido. Tem populismo, demagogia. Mas a
preocupação dele é muito mais autêntica do que a do Collor".
Outro ponto a favor de Itamar
Franco é a sua disposição de ouvir sugestões. Isso não quer
dizer que todas, ou mesmo algumas, venham a ser acatadas. Há muitos
interesses em jogo e nem todos são os do País, mas de simples
grupos, que se acostumaram por décadas as fio a viver à sombra do
poder.
Por exemplo, a demora do
presidente em determinar o reajuste dos combustíveis gerou grande
polêmica, na imprensa e fora dela. Falou-se em prejuízos
monumentais da Petrobrás e em represamento da inflação.
Todavia, quando se verificam
os resultados, observa-se que estes não foram negativos. Por
exemplo, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) de novembro
aponta sensível recuo na taxa de inflação em relação à de
outubro.
Será que a política para os
combustíveis não teve influência nisso? Seria muita coincidência.
Até se entende a razão de tanta cobrança a Itamar. O País não
somente perdeu a totalidade da década passada, por causa de
aventuras demagógicas e irresponsáveis, como já desperdiçou dois
preciosos anos da atual. Dois longos anos de recessão são
suficientes para exasperar qualquer um.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de dezembro de 1992).
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