País sem orçamento
Pedro J. Bondaczuk
O Congresso Nacional está
prestes a entrar em recesso, esta semana, caso venha a aprovar a Lei
de Diretrizes Orçamentárias, o que está um pouco difícil por
falta de acordo. O leitor que vem acompanhando o movimento político
pode estranhar e fazer a pergunta óbvia, que todos os brasileiros
devem estar fazendo: Como, eles vão entrar de férias?! Vão
descansar do quê?!"
O projeto de Orçamento, por
exemplo, enviado ao Legislativo em setembro do ano passado, sequer
foi analisado na comissão mista, responsável por melhorá-lo. O
pior de tudo é que os atuais congressistas, dos mais inoperantes e
medíocres da nossa história, virão, nos próximos dias, até
nossas casas, ou mediante gentis cartinhas ou por meio da propaganda
gratuita no rádio e na televisão, pedir nosso voto.
Muitos, em comícios por este
Brasil afora, certamente apontarão o dedo acusador para o governo e
irão se esmerar em enumerar suas falhas. Vários obterão sucesso
com essa estratégia e serão reconduzidos ao Congresso para mais
quatro anos. Pelo menos até aqui, essa foi a mecânica que
funcionou.
Há congressistas que levam
longe demais o significado da palavra "oposição".
Opõem-se a tudo e a todos que não satisfaçam a seus interesses
pessoais ou de grupos e partidos a que pertençam, inclusive ao
próprio País.
Todavia, se atentarem bem,
chegarão à conclusão de que fazem parte do governo, que não é
apenas o Executivo, mas está integrado pelo conjunto dos três
poderes, incluindo, naturalmente, o Legislativo e o Judiciário. São,
portanto, corresponsáveis por seus atos.
Por que esses deputados e
senadores não confessam aos seus eleitores que parte considerável
da inércia ou da má gestão federais se deveu à falta de
apreciação e votação de projetos fundamentais que lhes competia
apreciar e votar?
Faz sentido um País como o
Brasil, que bem ou mal é a décima maior economia mundial, não
contar ainda com um orçamento para este ano, que já está na
metade?! Há quem, por falta de atenção ou má fé, interprete
nossos comentários, muitas vezes ácidos, sobre o atual Congresso,
como uma oposição a essa instituição.
Todavia, temos plena
consciência da sua importância numa democracia. E, justamente por
ser importante, é indispensável trabalhar para que tenha melhor
qualidade. É necessário exigir que os ocupantes de uma cadeira no
Legislativo tenham pelo menos uma noção de sua importância e
responsabilidade e não encarem o cargo como "homenagem" a
alguma virtual virtude de que disponham.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de junho de 1994).
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