Pessoas insubstituíveis
Pedro J. Bondaczuk
O beijo da pessoa amada é um
dos momentos de intimidade mais profundos, mágicos, deliciosos e
inesquecíveis que existem num relacionamento amoroso. Pode-se dizer
que é uma das mais íntimas comunhões de dois corpos e duas almas.
Ouso afirmar, até, que se trata de um “diálogo” direto,
enfático e profundo entre um homem e uma mulher que se amam, sem
precisar ao menos de uma só palavra.
Mais intenso e precioso o
beijo se torna, porém, caso seja conquistado: se for manifestação
espontânea de agrado, da pessoa a quem amamos, por nossos gestos de
carinho e manifestações de respeito. E caso tenhamos a desventura
de perder nosso grande amor, são os beijos trocados os momentos que
nos despertam as mais ricas e preciosas recordações.
Seria, contudo, esta a maior
delícia da vida? Diria que é uma delas. Se fizermos uma enquête a
respeito constataremos, sem nenhuma surpresa, que nove entre dez
pessoas sadias e normais responderão que nada no mundo é mais
delicioso do que o amor correspondido. Ainda que sem correspondência,
esse sentimento está repleto de satisfações íntimas, posto que
sempre haverá a esperança de que um dia a pessoa que nosso coração
elegeu como amada venha a corresponder ao que sentimos por ela.
Não é por acaso que este é
o tema de predileção dos poetas. E, por mais que eles escrevam, que
se esmerem em imagens e metáforas, jamais conseguirão expressar,
com fidelidade, tudo o que sentem, porquanto esse sentimento é
inexprimível em palavras. Outra manifestação que merece destaque
são as lágrimas, eficazes válvulas de escape criadas pela natureza
para amainar as emoções e evitar que façam estragos em nossa
saúde.
Não fossem elas, o coração
dificilmente resistiria os grandes impactos emocionais que, vira e
mexe, nos acometem. São sempre bem-vindas quer em situações de
angústia e desespero – aos quais acalma e alivia – quer nas de
extrema alegria, ou, principalmente, de euforia. Constituem-se, por
outro lado, em poderosas armas femininas.
As mulheres conseguem, de mim,
tudo o que querem, quando choram. Não suporto vê-las chorar! As
lágrimas estão sempre presentes nos casos de amor, reconciliando ou
separando de vez os casais. Todavia, nenhum
momento passado com a pessoa amada é mesquinho ou banal.
Quem ama, não esquece um só
episódio desse grande amor, que dá encanto e transcendência mesmo
a uma vida aparentemente pacata e vazia. Mas o instante que os
amantes consideram mais marcante, é o do primeiro encontro, da
primeira impressão, das primeiras palavras trocadas, do primeiro
contato e, o clímax, do primeiro beijo.
É um momento que nunca mais
se apaga da memória dos que se amam. O poeta cubano, Fayad Namis,
compara-o aos fatos mais marcantes da história humana. Conclui que,
para os amantes, é mais importante até do que a invenção da roda,
a descoberta do fogo, a criação da escrita etc.
Por isso, algumas perdas que
temos na vida são irreparáveis e nos deixam um imenso vazio,
impossível de ser preenchido, na alma. Há pessoas que, contrariando
o ditado, são, de fato, insubstituíveis em nossa estima e
consideração. Mas não precisamos esquecer os que nos deixaram (ou
porque morreram, ou porque se separaram de nós e as circunstâncias
colocaram todo um continente de distância ou por outro motivo
qualquer), quer seja a pessoa amada, quer parentes ou amigos.
Nossas saudades são livres e
velozes e não se limitam nem pelo tempo e nem pelo espaço.
Subitamente, sem nenhum aviso, trazem-nos à mente, mediante a
recordação, essas pessoas que muito amamos e das quais nos
separamos em decorrência de alguma circunstância.
Levam-nos, em suas velozes
asas, de volta a períodos e lugares em que fomos felizes e que
deixaram marcas indeléveis em nossos corações e mentes. E esses
seres especiais, locais marcantes e episódios felizes tanto podem
ser bastante remotos, da nossa infância, como recentes, de poucas
horas atrás, por exemplo.
Às vezes nos deixam
nostálgicos, outras, nos servem de consolo. Da minha parte, busco
não sofrer com saudades. Agradeço, isto sim, a Deus, pelo
privilégio de ter conhecido aquelas pessoas que me marcaram ou de
haver vívido aqueles momentos jubilosos e ímpares.
Podemos, e devemos, guardá-los
para sempre na memória e os homenagear com freqüência,
lembrando-nos como eram e o que fizeram. É uma obrigação afetiva
que temos com essas pessoas, circunstâncias e lugares. O poeta
Farias de Carvalho escreveu o seguinte, neste poema de título
comprido, mas de rara beleza, intitulado “Ao irmão Agostinho
Caballero Martin, no seu regresso”:
“Como vieste,
foste,
cavalgando uma estrela.
Agora, sim,
será certo e tranqüilo
procurá-la
nos rebanhos do azul pelo
infinito”.
Portanto, há ou não há
pessoas insubstituíveis? Claro que sim!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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