Sistema político paralisante
Pedro J. Bondaczuk
O atual sistema político
brasileiro, com a existência de 32 partidos – 16 dos quais com
representação no Congresso - , com a ausência de uma lei de
fidelidade partidária e uma estranhíssima regra de
“proporcionalidade” que faz, por exemplo, com que o voto de um
eleitor acreano valha 70 vezes mais do que o de um paulista, torna o
País praticamente ingovernável.
Tanto isso é verdade que, tão
logo o presidente Itamar Franco tomou posse definitiva do cargo, se
esboçou um “pacto de governabilidade” que, como tantas outras
coisas, acabou ficando meramente no terreno das intenções.
A mínima decisão do governo
(seja ele qual for), polêmica ou não, acaba se transformando numa
novela. Desperta a necessidade de prolongadas discussões, frenéticas
negociações e, na maioria das vezes, principalmente quando
necessita de urgência, finda por não gerar efeitos, pela perda do
seu tempo certo, daquilo que os norte-americanos chamam de “timing”.
Tudo bancado pelo massacrado contribuinte.
Foi assim com José Sarney.
Repetiu-se com o grande engodo nacional denominado Fernando Collor.
Continua sendo da mesma forma nesses sofridos meses da gestão de
Itamar Franco. Mesmo que o presidente contasse com uma hipotética
maioria no Congresso – que não é o caso atual – o problema
continuaria sendo o mesmo.
A ausência de uma regra que
exija a estrita fidelidade partidária impede que o governo execute
um programa definido, isso quando tem um, elaborado e discutido com
toda a sociedade antes das eleições e aprovado nas urnas.
Reiteramos uma afirmativa
feita centenas de vezes: o voto dado individualmente a um candidato
sem que se atente para as ideias que ele e principalmente sua
agremiação defendem, é muito mais pernicioso do que o branco ou o
nulo.
Partido político não é (ou
pelo menos não deveria ser) mera sigla representando um nome
pomposo, mas que não tenha por fundamento um programa de ação,
coerente e defensável. Deve possuir uma doutrina, que empolgue a
totalidade de seus membros. Quem não estiver de acordo estará do
lado errado. No Brasil, isso está mil anos-luz distante da nossa
realidade.
Daí a sucessão de crises
políticas, deflagradas quase sempre por coisas banais e sem nenhuma
significação prática para a vida do cidadão. A cada semana surgem
“fatos novos”, a maioria das vezes simples discussões infantis
entre deputados de partidos diferentes, logo transformados em
“escândalos”. E durante meses tais picuinhas freqüentam as
manchetes, enquanto conseguem polarizar as atenções dos incautos.
Tão logo o assunto começa a esfriar, surge nova banalidade para
ocupar as atenções gerais.
Enquanto isso, o País se
decompõe a olhos vistos. A situação apenas não está pior porque,
felizmente, existem pessoas conscientes e de bom-senso que, mesmo
desencantadas com o que ocorre, continuam produzindo, distribuindo e
fazendo circular riquezas. Estas, aliás, jamais aparecem no
noticiário. Não têm tempo a perder com os desgovernos que nos
atormentam em virtude da inadequação absoluta do sistema político
vigente.
Veja o leitor os principais
assuntos que estão rolando nos jornais. A lei salarial aprovada
recentemente no Congresso, tramitou por meio ano nas várias
comissões da Câmara e do Senado. Todavia, somente agora, depois da
porta arrombada, é que o governo pensa em colocar uma tranca, se
dispondo a negociar. Enquanto isso, a inflação, imbatível
alpinista, segue acumulando recordes e mais recordes de altura...
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de julho de 1993)
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